Leituras para um destes dias

  • Teorias do Jornalismo – é o tema do vol 6 (nº 2) da revista Estudos em Jornalismo e Mídia, da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil), coordenado por Rogério Christofoletti. As edições anteriores estão aqui.

“O país é Lisboa…”

Há quantos anos andamos (tantos de nós…) a tentar que isto não suceda!… Há quantos anos a tentar que os jornalistas de Lisboa não escrevam ou digam, em meios de comunicação NACIONAIS, que “logo à noite há um concerto no Coliseu” (qual Coliseu?… não há dois?…) ou que “está em obras a Avenida da Liberdade” (qual delas, se tantas há no país?…), ou que “o comércio esteve ontem aberto” quando foi apenas o de Lisboa que abriu! Mas não, isto não muda facilmente, são décadas e décadas de hábito de falar de Lisboa como quem fala do país, um hábito que está dentro das cabeças e se tornou quase inconsciente. Mas jornalista não deve, não pode ser inconsciente. Então os melhores outlets “DO PAÍS” são, por curiosa coincidência, todos na capital e arredores?… Vale a pena espreitar esta notícia do “i” — e continuar para baixo, para os comentários. Vá lá que começa mais gente a chamar a atenção para isto…

ACTUALIZAÇÃO: Decerto por causa dos protestos dos leitores, o “i” corrigiu o seu título, embora sem informar sobre o assunto. É um dos problemas muito falados na publicação on-line: muda-se o que se escreveu antes e é como se nunca tivesse existido a versão original… Mas existiu. A prova aqui fica, com  a reprodução do ecrã que surgiu de manhã e a versão alterada (no título, não no texto)  já à tarde:

Em quem confiam os jornalistas?

Um vasto projecto de investigação que envolveu 1800 jornalistas de 356 redacções acaba de divulgar alguns dos resultados de um estudo que comparou as “culturas jornalísticas” em 18 países, com o fim de identificar as tendências dominantes por detrás das diferenças que existem nesse terreno.
Para já, foram disponibilizadas algumas tabelas comparativas que permitem verificar o posicionamento dos jornalistas de cada país relativamente a um certo conjunto de itens (bastante limitado, por ora). Neste registo, há uma pergunta que inquire sobre o grau de confiança, numa escala de 1 a 5 que merecem aos jornalistas algumas das principais instituições sociais. Ainda que se registem diferenças significativas de país para país, fica aqui a tabela global:

GRAU DE CONFIANÇA DOS JORNALISTAS EM DIFERENTES INSTITUIÇÕES

De acordo com os primeiros resultados do estudo, “o distanciamento, o não-envolvimento e a divulgação de informação política, bem como o papel de watchdog pertencem às funções do jornalismo que suscitam adesão global. Imparcialidade, fiabilidade e factualidade da informação, bem como a adesão a princípios éticos universais também são em geral apreciados. O intervencionismo, no entanto, é muito menos suportado pelos jornalistas. Vários aspectos da objectividade, bem como a importância de separar factos e opiniões parecem ser encarados de forma diferente nos vários países. Os jornalistas ocidentais são, em termos gerais, menos favoráveis a qualquer forma de promoção activa de valores particulares, ideias ou mudança social, e aderem mais aos princípios universais nas suas decisões éticas”.
Os países envolvidos são a Austrália, Áustria, Brasil, Bulgária, Chile, China, Egipto, Alemanha, Indonésia, Israel, México, Roménia, Rússia, Espanha, Suíça, Turquia, Uganda e Estados Unidos da América.

Ele há cada coincidência (III)

Palavras para quê?
A marcha do pensamento único (neste caso com um pendor bélico nacionalista muito peculiar que também importaria não deixar de discutir) continua, nos desportivos, sem embaraço nem contratempos.

Portugal: apenas um em cada seis usa redes sociais

São estudantes, maioritariamente da classe média e média-alta, têm entre 15 e 24 anos e usam sobretudo o hi5 – assim se poderia caracterizar o retrato-tipo dos utilizadores portugueses de redes sociais/comunidades virtuais, de acordo com dados do Bareme-Internet da Marktest.
Entre os residentes no Continente maiores de 14 anos, cifra-se em 1,36 milhões o número dos indivíduos que costumam aceder a comunidades virtuais/ redes sociais, o que representa 16.4% do universo (equivalente a quase um em cada seis).
O hi5 é o espaço mais frequentado, com 15,9%, seguido, a grande distância, pelo Facebook (2,6) e pelo MySpace (1,4).

Joaquim Fidalgo dirige o DCC

O Prof. Joaquim Fidalgo acaba de ser eleito pelos seus pares para o cargo de director do Departamento de Ciências da Comunicação (DCC) da Universidade do Minho, uma eleição já homologada pelo Reitor da UM.
Joaquim Fidalgo foi jornalista profissional, tendo-se iniciado na profissão em 1980, no “Jornal de Notícias”. Passou pelo “Expresso” e foi um dos fundadores do jornal “Público”, tendo feito parte da primeira Direcção Editorial do jornal, bem como da Direcção da empresa PÚBLICO – Comunicação Social, SA. Foi, também, provedor do leitor daquele diário.
O novo director do Departamento de Ciências da Comunicação está ligado à UM desde 1998, tendo realizado o seu doutoramento com uma tese sobre “O lugar da ética e da auto-regulação na identidade profissional dos jornalistas”.

Eventos

As Telenovelas e os Estudos Televisivos – Amanhã, dia 12, pelas 18:30, Christine Geraghty dará uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa (Faculdade de Ciências Humanas, sala 121), com o título Soap Operas and Television Studies. Christine Geraghty é professora de Estudos Fílmicos e Televisivos da Universidade de Glasgow.

Humor e jornalismo gráfico no Estado Novo – Conferência de Álvaro de Costa Matos, da Hemeroteca Municipal de Lisboa e do Centro de Investigação de Media e Jornalismo, incidindo no semanário humorístico Os Ridículos”. Será no dia 12, às 18 horas, na Hemeroteca.

Broadband Media. Changing Times, Changing Media – é o tema de uma conferência internacional que se realiza no próximo dia 23, a partir das 10 horas no ISCTE, no auditório Afonso de Barros, em Lisboa. Trata-se de um evento promovido pela revista académica do Observatório da Comunicação, a Observatório(OBS*), e terá a presença, entre outros, de Jonathan Taplin (USC), Roberto Suarez (Univ. Pompeu i Fabra), François Bar (USC), Eduardo Cintra Torres (Univ. Católica Portuguesa), Piet Bakker (Univ. Amsterdam), João Paulo Menezes (ISLA-Gaia) e David Domingo(Univ. Rovira e Vigilli).

Entre o bem público e a reserva da vida privada

Ao ler as notícias do fim-de-semana sobre o facto de as escutas telefónicas a Armando Vara também terem ‘apanhado’ José Sócrates em conversas duvidosas, lembrei-me do outro caso das escutas – o do Verão. Nessa altura, um dos grandes motivos de polémica foi o facto de o “Diário de Notícias” ter divulgado publicamente um fax PRIVADO, trocado entre dois jornalistas do “Público”. Não faltaram jornalistas (e comentadores, como Pacheco Pereira…) a repudiar vivamente aquela publicação, quase se recusando a discutir o fundo da questão (a existência, ou não, de uma manobra de manipulação informativa lançada por Belém, com a voluntária ou involuntária cumplicidade do jornal então dirigido por José Manuel Fernandes) por, diziam, se basear numa inaceitável divulgação de correspondência privada.

Agora, não vi ninguém (nem jornalistas, nem Pacheco Pereira…) escandalizar-se com o facto de as últimas suspeitas envolvendo José Socrates se basearem no conhecimento e na divulgação de telefonemas PRIVADOS entre o primeiro-ministro e Armando Vara. Mais: não será verdade que todo o processo “Face Oculta”, que está a permitir desmontar uma aparente rede de corrupção de vasto alcance, se baseou grandemente em escutas telefónicas que apanharam conversas privadas entre os diversos arguidos? E as escutas telefónicas que já nos fartámos de ver publicadas em jornais, desde o “Apito Dourado” ao “Caso Casa Pia”, passando pela “Operação Furacão” ou pelo “Caso Portucale”, não incidiam todas elas em conversas privadas? E o fax que há dias vimos reproduzido em jornais, um fax trocado entre responsáveis do Freeport com referências a um suborno de dois milhões de euros, não era, ele também, correspondência privada? E o célebre DVD que a TVI mostrou em tempos, com acusações directas a Sócrates, não era ele, igualmente, resultado da  uma filmagem clandestina de um encontro privado entre duas ou três pessoas?… Em resumo: haverá algum caso, recente ou antigo, de investigações sobre crimes de corrupção e de tráfico de influências que não se baseie, mais ou menos, em elementos (telefonemas, cartas, faxes, e-mails) que claramente se inscrevem no domínio das relações privadas entre pessoas?… E é por isso que os vamos desconsiderar pura e simplesmente, recusando-nos até a discuti-los, porque interferem com o direito fundamental das pessoas à privacidade?… E se isso acontece em todos os casos em que há suspeitas de crime, ou de engano, ou de atropelo a valores básicos do interesse público, por que devemos abrir excepção quando os intervenientes directos são jornalistas?… 

Sei que cada caso é cada caso e que o caso das escutas do Verão é bastante complexo. Mas, independentemente disso, há um ponto que me parece de sublinhar – e é o único que gostaria de reter aqui, a partir dos exemplos citados: o direito à reserva da vida privada (aí incluindo trocas de correspondência, de e-mails ou de telefonemas) é um direito fundamental de todas as pessoas, mas não é um direito absoluto. Se há fundadas suspeitas de um crime ou de uma infracção grave a princípios legais, éticos ou deontológicos, com consequências que extravasam esse foro privado, e se se conclui que a única forma de fazer prova de tais ilícitos é escutar conversas privadas ou vasculhar correspondência privada,  pode ser necessário, como última instância, interferir com esse “bem”, em nome de um “bem maior” – o de um interesse público relevante e indesmentível. É esse “bem maior” que leva um juiz a autorizar escutas privadas; é esse “bem maior” que tem levado muitos jornalistas de investigação a divulgarem publicamente factos recolhidos na esfera da vida privada de pessoas (mesmo quando estão abrangidos pelo segredo de justiça). Ora, quando os jornalistas denunciam estas coisas, toda a gente aplaude (e muito bem, que é essa uma das funções mais nobres da Comunicação Social em democracia), pouco se preocupando com a privacidade dos implicados (porque está em causa um “bem maior”, insisto). Mas quando os jornalistas são, eles próprios, vítimas de tais denúncias, caem logo o Carmo e a Trindade porque alguém se atreveu a divulgar mails privados… São dois pesos e duas medidas que retiram credibilidade aos profissionais dos ‘media’.

Maioria não tem internet em casa

Os dados ontem disponibilizados pelo INE relativos ao acesso e uso de TIC nos agregados domésticos em Portugal indica que se ultrapassou, este ano, a barreira dos 50 por cento quanto ao acesso a computador (essa percentagem situava-se nos 49,8 or cento em 2008). No entanto, o crescimento do acesso à internet foi bastante menor, passando dos 46 para os 47,9 por cento. Em contrapartida, os dados de utilização sugerem ter havido um uso mais intensivo da internet, já que a percentagem, relativa a indivíduos dos 15 aos 74 anos, passou, entre 2008 e 2009, de 41,9 para 46,5.

Perfis dos utilizadores de computador e de Internet (%)
Uso da Internet em casa - INE 2009
(Fonte: INE)

Utilização de computador e de Internet, 2005-2009 (%)
Uso da Internet em casa 2005-2009 - INE 2009

(Fonte: INE)

Verifica-se, assim, que a maioria das famílias não dispõe de condições (económicas e/ou culturais) para tirar partido do acesso à rede, ainda que esta realidade possa ser parcialmente atenuada pelos locais públicos ou profissionais em que é possível esse acesso.

Revistas de comunicação da Sage de novo acessíveis

A editora Sage acaba de colocar em regime de livre acesso as suas revistas de comunicação, num período que vai até 31 de Dezembro próximo. O registo e acesso pode ser feito AQUI.
São as seguintes as revistas disponibilizadas:

  • Animation
  • British Journalism Review
  • Business Communication Quarterly
  • Communication Research
  • Convergence
  • Discourse & Communication
  • European Journal of Communication
  • Games and Culture
  • Global Media and Communication
  • International Communication Gazette
  • International Journal of Press/Politics
  • Journal of Business and Technical Communication
  • Journal of Business Communication
  • Journal of Communication Inquiry
  • Journal of Creative Communications
  • Journal of Social and Personal Relationships
  • Journalism
  • Management Communication Quarterly
  • Media, Culture & Society
  • Media, War & Conflict
  • New Media & Society
  • Science Communication
  • Television & New Media
  • Visual Communication
  • Written Communication

“Os novos territórios da Publicidade”

O GT de Publicidade e Comunicação da SOPCOM (Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação) promove durante todo o dia de amanhã, em Braga, as suas IV Jornadas, em torno do tema “Os novos territórios da publicidade”.
Jornadas Pub
A iniciativa, organizada desta vez pela Universidade do Minho, através do Departamento de Ciências da Comunicação e do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, tem lugar no Complexo Pedagógico II do Campus de Gualtar. Será ocasião para premiar trabalhos de estudantes da especialidade, que foram convidados através de um concurso a preparar projectos no quadro do “marketing de guerrilha”.
O programa pode ser consultado AQUI.

Jeff Jarvis: o copo meio cheio

Conforme os óculos que pomos, assim vemos o estado actual do jornalismo.
Crise? Evidentemente, sublinharam há dias o professor Michael Schudson e o director do Washington Post, Len Downie, no relatório The Reconstruction of American Journalism. O presidente da Escola de Jornalismo de Columbia, onde o estudo foi apresentado, foi mais longe: “a crise assume proporções maciças”, sendo difícil ao mercado suportar um jornalismo de qualidade.
Crise? Nada disso. Esse é, segundo Jeff Jarvis, da City University, de Nova Iorque, o modo de colocar o problema das instituições que até agora falharam na procura de caminhos para enfrentar a situação e que, no desespero, pretendem acolher-se sob a protecção do Estado. “O destino do jornalismo não está nas instituições, mas nos empreendedores”, vaticina. E acrescenta: “Crise? Não vejo crise, vejo apenas mudança inexorável”.