Marinho Pinto vai ao Clube de Jornalistas

“Deontologia, quem te viu e quem TV” é o tema da próxima edição do Clube de Jornalistas, a realizar na próxima quarta-feira, na RTP2, às 23h30.
Serão intervenientes os jornalistas Francisco Sarsfield Cabral e João Miguel Tavares e António Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados (de acordo com uma informação do Clube, Manuela Moura Guedes não aceitou o convite para participar no programa). Haverá ainda depoimentos de Estrela Serrano, vogal do Conselho Regulador da ERC, e de Orlando César, Presidente do Conselho Deontológico dos Jornalistas. A moderação cabe a João Alferes Gonçalves.
Justificando esta iniciativa, o Clube de Jornalistas adianta:
“A discussão entre Manuela Moura Guedes e António Marinho Pinto, em directo, no Jornal de 6.ª, veio dar razão a quem chama a atenção há muito tempo para a degradação progressiva do jornalismo português. A credibilidade tem-se esvaído entre a mediocridade técnica e o aviltamento deontológico. É urgente um debate alargado que envolva todas as componentes do processo jornalístico. O Clube de Jornalistas espera que o programa desta semana possa dar um contributo sério para esse debate”.

O naufrágio e o «gato» do jornalismo

cat“Foi com o intuito de garantir aos seus leitores que podiam acreditar no que liam, que Pulitzer criou o ‘Bureau of Accuracy and Fair Play‘, em 1913, no seu jornal New York World. Num artigo de 1984, na revista Columbia Journalism Review, da Universidade de Columbia, Cassandra Tate descreveu como o primeiro provedor do leitor do World detectou um padrão nas notícias sobre naufrágios publicadas nos jornais: em cada uma destas histórias havia um gato sobrevivente. Quando o provedor questionou o repórter sobre esta curiosa coincidência, este respondeu-lhe: «Num desses navios naufragados havia um gato e a tripulação regressou para salvá-lo. Eu incluí o gato na minha história, enquanto os outros repórteres não o mencionaram e os respectivos editores de secção repreeenderam-nos por se deixarem ultrapassar. Nos naufrágios seguintes, não havia qualquer gato mas os outros repórteres não quiseram correr riscos e incluíram um gato na história. Eu escrevi a notícia sem incluir o gato e fui gravemente repreendido por deixar que me ultrapassassem. Agora, sempre que há um naufrágio, todos nós incluímos o gato»

Bill Kovach e Tom Rosenstiel (2004). Os Elementos do Jornalismo. Porto: Porto Editora, p. 39

Jornalismo online = trabalho forçado

20090525_LeMonde_LesForcatsDeLinfoUm texto de Xavier Ternisien sobre o jornalista online, publicado originalmente na edição papel do Le Monde está a tornar-se o centro de uma discussão em França.
Intitulado ‘Les forçats de l’info’, o texto sugere que os jornalistas online são – pela forma como descrevem a cada vez maior interligação entre as suas vidas privada e profissional – uma espécie de escravos…ainda que consentindo (alegremente) nessa situação.
Excertos:

On dit aussi “les journalistes “low cost”“, ou encore “les Pakistanais du Web”. “Ils sont alignés devant leurs écrans comme des poulets en batterie”
(…)
Ils enchaînent les journées de douze heures, les permanences le week-end ou la nuit.
(…)
Les témoignages abondent, le plus souvent sous anonymat. Ces jeunes journalistes ont encore leur carrière devant eux et ne souhaitent pas la compromettre. C’est le cas de cette jeune femme de 24 ans, qui a travaillé de 2006 à 2008 en contrat de professionnalisation au Nouvelobs.com. Elle décrit un travail bâclé, le copier-coller de dépêches d’agence “en reformulant vaguement, sans jamais vérifier, faute de temps”.

[Sugestão recolhida aqui]

Moura Guedes e Marinho Pinto: quando a TV é a notícia

Manuela M GuedesMarinho Pinto

Os comentários que, de imediato, surgiram ao ‘espectáculo’ no Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes, da TVI, referem o óbvio: que Marinho Pinto disse à pivot aquilo que “toda a gente” gostaria há muito de lhe ter dito.
Aquele tipo de jornal televisivo não é seguramente dos que eu prefiro. O estilo de Moura Guedes chega a ser degradante e aviltante. Mas daí a fazer do bastonário da Ordem dos Advogados uma espécie de vigário do povo (esclarecido) junto da TVI vai uma grande distância.
Em primeiro lugar, Marinho Pinto tornou-se parte do espectáculo de Moura Guedes. E ela, nesse ponto, sabia o que estava a fazer. Talvez não esperasse apanhar a surra pública (restando saber se o sovador não terá ido ao ponto de ter despertado pena pela vítima), mas via-se-lhe no olhar uma espécie de ambivalência entre o que ganhava para o canal e perdia para si mesma.
Uma coisa este caso demonstrou:  que a televisão é cada vez mais ela própria a notícia.

Montando o seu show ou sendo surpreendida por ele, num dispositivo ele próprio orientado ao espectáculo, a TV prescinde progressivamente da realidade que era suposto reportar, para se mostrar a si mesma e a si mesma se dar como assunto à degustação do povo,  em doses mais ou menos fortes de emoção.

O vídeo (trecho final): http://www.youtube.com/watch?v=_LpY3Y1Cq_c
O que se vai escrevendo pela blogosfera:

Recursos

As muitas crises do jornalismo – um texto de Todd Gitlin sobre as diferentes dimensões que fazem tremer o jornalismo – circulação, lucros, atenção, autoridade, deferência (via: openDemocracy)

Academia de Jornalismo da BBC – A BBC Brasil “começa a compartilhar com seu público os padrões em que se baseia a sua produção jornalística”. Os princípios editoriais pelos quais se rege o seu trabalho, através de alguns vídeos e de um texto. (Via: Internet & Jornalismo)

A crise chega aos Provedores

O Provedor do Leitor é, aparentemente, “mais uma espécie ameaçada” nos jornais. Quem o sugere é o Provedor do The Washington Post, Andrew Alexander, ao comentar o facto de, nos Estados Unidos, pelo menos 14 deles já terem perdido o emprego desde inícios de 2008. Em tempos de forte crise e de cortes de despesa por tudo quanto é redacção, renovam-se as interrogações: “E o Provedor será essencial?…” Uns pensam, obviamente, que não é essencial, sobretudo quando os cortes atingem cada vez mais jornalistas; outros, pelo contrário, afirmam que ele seria hoje mais necessário do que nunca…

O próprio Andrew Alexander traz algumas ideias para o debate, convencido que está de que

with so many news organizations in financial peril, it would be smart to start thinking of innovative, less costly alternatives to the traditional ombudsman model.

E uma das hipóteses que avança no seu texto é esta:

Kevin Klose, the new dean of the University of Maryland’s Philip Merrill College of Journalism, suggests that a consortium of news organizations could create a “bank of qualified journalists, perhaps retirees,” who could monitor performance or investigate specific complaints. “This might be a way to provide that service to the public in an economical way,” said Klose.

E nós, por cá, todos bem?

Euromedia Research Group reúne em Braga

Termina hoje em Braga a reunião anual de dois dias do Euromedia Research Group. A reunião é organizada pela investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho Helena Sousa, a qual pertence também a esta rede de pesquisa de âmbito europeu.
O Euromedia Research Group, actualmente presidido por Josef Trappel, professor da Universidade de Zurique, tem por objectivo reunir e intercambiar informação e analisar desenvolvimentos no plano da estrutura e política dos media, no continente europeu. A sua actividade pública traduz-se, nomeadamente, na publicação de livros e na edição de números de revistas científicas.
Integram também esta rede e encontram-se a participar no encontro de Braga Denis McQuail (jubilado da Universidade de Amesterdão), Leen d’Haenens (Universidade de Nimega, Holanda), Hans J. Kleinsteuber (Universidade de Hamburgo), Tristan Mattelart (Universidade de Paris II), Inka Moring (Universidade de Helsínquia), Barbara Thomass (Universidade do Rur, Alemanha), Werner A. Meier (Universidade de Zurique), Jeremy Tunstall (City University, Londres), Kees Brants (Universidade de Amesterdão), Laura Berges (Universidade Autónoma de Barcelona), Mario Hirsch (Institut Pierre Werner, Luxemburgo).
A próxima reunião do grupo terá lugar em Moscovo.

“Interesse jornalístico”

“O melhor trabalho jornalístico português que vi nos últimos tempos, em todas as categorias, foi o do fotógrafo chinês Zhang Xiao Dong. Aconteceu ontem, no Expresso. A reportagem escrita esteve cargo de um bom repórter, Rui Gustavo, que foi à China encontrar o primo de Sócrates. O primo nada disse com interesse, porque o que teria interesse seria ele a comprometer o primo.
O que interessa – vou dar um exemplo para os leitores distraídos perceberem o que é hoje interesse jornalístico – seria Sócrates dizer no meio de uma viagem de Estado: “Vim à Capadócia porque era há muito um sonho da minha namorada vir à Capadócia.” Como Sócrates não disse isso, esta frase não abriu telejornais. Talvez alguém tenha dito uma parecida, mas também não abriu telejornais, pois não? Sorte de quem tenha dito essa frase similar e possa – e ainda bem que pode – dizê-la sem escândalo (…) “.

Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 17.5.2009

Conferência sobre regulação no Twitter

Luís Santos está a ‘twitar’ a conferência sobre a regulação na Universidade do Minho. AQUI.
Também Paulo Ranieri: AQUI.
Também a Ciberesfera: AQUI.
[Acesso aos tweets sobre a conferência: #umregulation]

Conferência sobre regulação transmitida por webcast

A conferência internacional “Jornalismo na Europa – Quem precisa de regulação‘”, que vai realizar-se amanhã, sexta-feira, na Universidade do Minho, será transmitida via Internet, dando, assim, a possibilidade de acompanhamento, e mesmo de intervenção, por parte de quem está interessado em acompanhar os trabalhos e não pode deslocar-se a Braga.
Para seguir a emissão, a partir das 9.30 desta sexta-feira, há então duas alternativas: ou a partir do site do CECS – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (mas só com o browser Internet Explorer); ou através do endereço mms://streaming.uminho.pt/cecs [cortar e colar na barra de endereço do browser] e , que abre um pedido de permissão para a abertura de um leitor de vídeo (por ex. o Windows Media Player para Windows, o MPlayer para  MacOS ou o SMPlayer para Linux).

Jornalismo na Europa -2
Jornalismo na Europa

Notícias e estigmatização

“Esta ideia de que a Bela Vista e outros bairros pobres são uma ameaça social é, justamente, construída pela forma como são veiculadas as notícias relativamente aos mesmos, o que contribui, sem dúvida, para o aumento da sua estigmatização.”

Mónica Frechaut, Público, 14.05.2009

Conferência da IAMCR/2010 em Portugal

iamcr_homeA International Association for Media and Communication Research acaba de anunciar aos seus membros que a conferência anual da organização, em 2010, terá lugar na Universidade do Minho, em Portugal.
É o seguinte o texto da mensagem:

“IAMCR’s Executive Board and International Council have selected the University of Minho, Braga, Portugal to host IAMCR’s 2010 conference.
Proposed dates are from 18-22 July, 2010.
More details about the Portugal conference will be announced during this year’s conference in Mexico”.

É a primeira vez que a IAMCR escolhe Portugal para receber aquela que é, anualmente, a maior reunião mundial de investigadores em comunicação.

Pressões fortes vs. indícios fortes

As pressões exercidas sobre um magistrado podem, em termos abstractos, irindiciosFortes indícios de inexistentes a fortes ou fortíssimas.  Quando tais pressões decorrem, como será de supor,  nos bastidores e no segredo, os respectivos indícios podem ser igualmente, em abstracto, fracos ou fortes. Mas são duas realidades distintas.

Por isso é que uma coisa é dizer, como escreve o Público, que

Houve indícios suficientemente fortes de pressões sobre os magistrados que investigam o processo Freeport por parte do presidente do Eurojust, o procurador-geral adjunto Lopes da Mota, concluiu o inspector responsável pela realização do inquérito, Vítor Santos Silva.

… e outra coisa colocar em título, na primeira página e na peça de destaque da pág.2:

“Indícios de fortes pressões levam a processo disciplinar”

Miudezas?

Online: de onde poderá vir o dinheiro?

Moving into business models

Um estudo realizado com perto de cinco mil pessoas de sete países da Europa e da América do Norte, levado a cabo pela PricewatersCooper em cooperação com a WAN (World Association of Newspapers), concluiu que os utilizadores de informação poderiam estar dispostos a pagar para ler jornais online, nas áreas dos negócios e do deporto. Isso na condição de se tratar de informação de elevada qualidade e não disponível de forma gratuita.

O estudo baseou-se em 4900 inquéritos online  (700 por país) e em entrevistas junto de editores, proprietários e anunciantes.

Intitulado Moving into Multiple Business Models – Outlook for Newspaper Publishing in the Digital Age, o relatório encontra-se acessível online.

Interessante é ver o tom de alguns títulos de jornais sobre este estudo:
Readers not averse to paying for online content
Readers reluctant to pay for online news
Print to hold sway on web, for now
Newspapers will survive in long term, says PwC study

“Em Vizela nenhum jornalista foi agredido”

Foto de Jorge Paula/CM

“[…] em Vizela nenhum jornalista foi agredido. Se este senhor foi, então veja lá o que anda a fazer para o merecer.”

Palavras que o Correio da Manhã de hoje atribui ao presidente da Câmara local, o socialista Francisco Ferreira, a propósito de duas agressões de que o editor-chefe do jornal ‘Notícias de Vizela’, Sérgio Vinagre, diz ter sido vítima em menos de um mês.

[Foto de Jorge Paula/CM]