Digital Games 2008 – última chamada

Realiza-se no Centro do Porto da Universidade Católica, a 6 e 7 de Novembro próximo, a conferência  Digital Games 2008, a qual decorrerá em conjunto com a ARTECH 2008 – 4th International Conference on Digital Arts. Visa promover um fórum de discussão de questões ligadas à multidisciplinaridade da área em Portugal.
Organizada conjuntamente pela UM-Universidade do Minho (Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade), Instituto Superior Técnico, Universidade de Aveiro e Spellcaster Studios, a iniciativa pretende reunir investigadores e profissionais, permitindo a divulgação de trabalhos e a troca de experiências entre as comunidades académica e industrial. No âmago da conferência estão fundamentos teóricos e práticos emergentes do design, desenvolvimento e públicos que procurarão explorar novas
abordagens por parte da comunidade. A Digital Games 2008 é a primeira conferência de uma série, que deverá realizar-se anualmente, e possui na sua organização pessoas ligadas a eventos anteriormente ocorridos em Portugal na área dos jogos digitais.
Mais informações: AQUI.
(Gravura: cartaz da conferência, da autoria de Vinicius Mano)

“Não matarão o pensamento”

Atentado con coche bomba en la Universidad de Navarra (Jose Luis Orihuela, eCuaderno).

No matarán el pensamiento (Ramón Salaverría, e-periodistas).

Aprender a fazer contas

Princípio da tarde. Vou no carro a ouvir a Antena 1. Começam as notícias e uma das que merece chamada de destaque sublinha que o número de fumadores desceu 6% desde que entraram em vigor as medidas anti-fumo nos espaços públicos.

Oiço e penso para comigo: já valeu a pena, mas não é número por aí além, para ser dado com este destaque. Mas eis que a palavra é dada ao director-geral de Saúde que continua a enfatizar a importância do dado. E, lá pelo meio, explica que a percentagem de fumadores era, no início do ano, da ordem dos 18% e que se calcula que tenha descido, entretanto, para a casa dos 12%.

Se eu entendi bem, a jornalista que apresentava o caso fez bem a conta: 18 menos 12 dá 6. Só que, como é evidente, não era essa a conta a fazer.

‘Sinal dos tempos’: “Monitor” abandona o papel

A decisão dos donos do diário norte-americano e internacional The Christian Science Monitor de acabar com a publicação impressa a partir de Abril do próximo ano configura um caso que merece ser analisado e acompanhado com a maior atenção.

E provavelmente o director do jornal terá alguma razão quando diz que estão a dar o “salto” que outros diários irão dar nos próximos cinco anos.

A ironia da situação reside no facto de a medida ser tomada precisamente quando a publicação atinge o primeiro centenário. Apesar do nome, o jornal não tem dependência editorial relativamente à confissão religiosa do qual emergiu em 1908. Ao longo dos cem anos de vida, ganhou vários Pulitzer e afirmou-se como um órgão de referência, nomeadamente na cobertura dos assuntos internacionais. De resto, o jornal encontra na opção agora tomada uma forma de conseguir aguentar as suas oito delegações em países estrangeiros, um número que não há muitos media norte-americanos que se possam gabar de possuir.

The Christian Science Monitor passará a apostar estrategicamente na web, em que foi, de resto, pioneiro, em vários momentos, desde 1996. Passará, por outro lado, a editar uma revista semanal em suporte impresso.

Este é, certamente “um sinal dos tempos”, como observa judiciosamente o António Granado no Ponto Media.

ACTUAL.1 – Vale a pena ler, a este propósito, uma visão bastante diversa, transmitida pelo director do “peso pesado” The New York Times, numa mensagem que acaba de enviar à redacção: “My confidence in The Times rests on the obvious, overwhelming, growing demand for what we do. It rests on the loyal print audience that will sustain us as our digital operations grow.”, escreve Bill Keller (cf. Executive Editor Bill Keller’s Remarks to the Times Staff Today)

ACTUAL. 2 – Ver, no JN: Jornais ainda estão longe do temido fim.

Quando havia empregadores

The People Formerly Known as the Employers” – assim se intitula um post de Mark Deuze, inspirado num outro célebre post de Jay Rosen acerca dos novos produtores de conteúdos online (que seriam, ‘outrora’, a audiência).

A ideia de Deuze consiste em chamar a atenção para a fragilidade crescente do lado da relação dos jornalistas com os seus empregadores (precariedade, recuos na protecção social, apoio na formação e, mesmo, outsourcing). Uma situação que afecta sobretudo os jornalistas mais jovens. De mão de obra criativa passam a activos de custos elevados.

E esta nota que merece exame: “For all the brilliance of those advocating a more democratic media system, there is generally nothing in their analysis that acknowledges this erosion of power, this wholesale redistribution of agency away from those who tend to crave only one thing: creative and editorial autonomy.”

Prémios para estudos jornalísticos no Brasil

Jornalismo digital em base de dados”, tese de doutoramento de Suzana Barbosa, do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On Line (GJOL), da Universidade Federal da Baía, no Brasil, sob orientação do Prof. Marcos Palácios, acaba de ganhar o Prémio Adelmo Genro Filho de Pesquisa em Jornalismo, na modalidade de doutoramento. De resto, o próprio orientador, que é também coordenador  do GJOL, foi também contemplado com o mesmo prémio, na categoria Pesquisador Sénior.
O prémio é atribuído pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBJor) e contempla ainda as modalidades de mestrado (ganho por Marcelo Ruschel Träsel, da UFRGS, intitulada “A pluralização no webjornalismo participativo”, e com orientação de Alex Primo*) e a modalidade de iniciação científica (aqui Gabriela Jardim Rocha, da PUC de Minas, foi a premiada, pelo seu trabalho “Mediações sociais no jornalismo colaborativo”, orientada por Geane Alzamora, tendo havido uma menção honrosa para Mariana de Almeida Costa, da UFF,  com “Jornalistas e marginalidade social”, orientada por Sylvia Moretzsohn, e outra para Ana Paula Ferrari Lemos Barros, da UnB, com “Saúde, sociedade e imprensa”, orientada por Dione Moura).

(Fonte: Jornalismo e Internet).
(*) Por falar em Alex Primo, vale a pena consultar, no seu blog, o post Sensacional coleção de conversores de textos

Web 3.0

A tecnologia da web semântica evolui a um ritmo cada vez mais acelerado e as possibilidades que abre para o exercício do jornalismo são vastas. O site inglês Journalism.co.uk está a dedicar atenção ao assunto, depois de uma entrevista a John Breslin (cf The Semantic Web Today).
A ler:

Obama (+) e McCain (-) nos media

Os media dos Estados Unidos da América cobriram a candidatura presidencial de Barack Obama de forma globalmente positiva, ainda que não muito, ao passo que representaram a de John McCain de forma claramente negativa. Os resultados acabam de ser apurados e divulgados num estudo do Pew Research Center’s Project for Excellence in Journalism (PEJ) que incidiu sobre mais de 2000 peças publicadas na imprensa, rádio, TV e Internet nas seis semanas compreendidas entre as convenções e o último debate televisivo.

Relativamente aos indigitados para o lugar de vice-presidente, o quadro é bastante diferente: A governadora Sarah Palin variou bastante, mas, em geral foi decrescendo do positivo para o negativo o tom geral da cobertura, com um saldo final negativo (39% das notícias desfavoráveis, 28 favoráveis e 33% neutras).
Já o nº 2 da candidatura democrata, Joe Biden, o estudo do PEJ dá-o como “um homem quase invisível”. Salvo o momento do debate com Palin, o tratamento das suas intervenções foi em geral limitado e mais negativo do que o da adversária e quase tão negativo como o de McCain.

Fonte: “Winning the Media Campaign: How the Press Reported the 2008 Presidential general Election“.

ComUM está de volta

Novo ano lectivo, vida nova para o ComUM – um projecto dinamizado pelos alunos de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho.
Escreve Bruno Simões no editorial:

“Começar do zero acarreta riscos. Ter ambições também (…) O ComUM que agora inicia uma nova temporada é o que é por causa dos que foram antes dele, nas várias equipas que estiveram no online desde 2005 e, também, pelos outros. E se a história do ComUM tem vindo a enriquecer todos os anos, não será este ano a marcar a diferença”.

“Ciberjornalistas em Portugal” – tese de doutoramento

“Ciberjornalistas em Portugal: Práticas, Papéis e Ética” é o título da tese de doutoramento de Helder Bastos, que será apresentada e discutida amanhã, na Universidade Nova de Lisboa. Trata-se da segunda tese de doutoramento nesta especialidade, depois da de João Canavilhas, apresentada na Universidade de Salamanca há cerca de um ano.

Helder Bastos, que já trabalhou sobre este assunto no seu mestrado, é docente na Licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade do Porto desde a sua criação, em 2000. Foi jornalista, entre 1988 e 2003, tendo trabalhado no Jornal de Notícias, Rádio Press e Diário de Notícias.

(Fonte: Obciber)

Quais os limites da actuação dos media?

A Prof. Sylvia Moretzsohn, da Universidade Federal Fluminense (Brasil), teve a gentileza de partilhar com os leitores deste blogue algumas inquietações e reflexões sobre a cobertura mediática do desfecho do sequestro de Santo André, no ABC paulista, que se prolongou por quase toda a semana passada. Em particular ela chama a atenção para os limites que os jornalistas deveriam respeitar, em situações deste tipo, em dois textos, um de ontem e outro de hoje:

Imagino que vá repercutir aí, se é que já não repercutiu, a história de um sequestro que começou na segunda-feira e teve um desfecho trágico no fim da tarde de ontem, em Santo André. Um rapaz de 22 anos que invadiu o apartamento da ex-namorada, de 15, e a manteve refém (inicialmente com outras pessoas, depois só com a amiga dela, que chegou a sair mas depois retornou). A moça levou dois tiros, um na cabeça, e vai morrer; e será melhor que morra porque do contrário terá vida vegetativa.
O caso foi permanentemente noticiado desde que começou.
Quando se trata de um sequestro clássico, normalmente a imprensa respeita o sigilo. No entanto, isso é facilitado porque em geral não se sabe o local do cativeiro. Não foi o caso agora, o local era plenamente conhecido – um conjunto habitacional na periferia da cidade (nas “quebradas”, como diz a gíria paulistana). Além do mais, existem todos esses apelos para que os “cidadãos” colaborem com informações (especialmente imagens) sobre fatos que possam ter relevância. E o conjunto habitacional está cheio de “cidadãos” – você há de imaginar o circo que se montou em todos esses dias, e, por todos, o exemplo daquele filme do Billy Wilder (Ace in the Hole, aqui traduzido por A montanha dos sete abutres) é definitivo.
Sei que é impossível definir com precisão o nível de influência do papel da mídia no desdobramento de situações de extrema tensão como essa. Mas me parece indiscutível que a cobertura ali, com permanentes flashes ao vivo, é um fator de exacerbação dos ânimos e de exploração da excitação em torno do caso. Foram vários repórteres (e apresentadores de programas populares) a entrevistar o sequestrador “ao vivo”, e como se tratava de um caso passional (o rapaz estava inconformado com o fim do namoro) a história tinha ainda um atrativo especial.
Bem, a excitação envolve a expectativa por um desfecho – um caso que se arrasta por dias, sem solução, fica monótono e nos queremos ação…
A ação finalmente ocorreu ontem à tarde, uma das jovens foi ferida, a outra vai morrer, o sujeito saiu ileso e está preso, mas naturalmente todos gostariam de linchá-lo.
Eu penso que essas situações poderiam ser suavizadas se a imprensa não estivesse lá. Francamente, acho que seria importante definir com muita clareza os limites para a atuação da mídia, e punir com muito rigor a ultrapassagem desses limites.
(18 Out. 08)
….
Como previsto, a ex-namorada do sequestrador morreu (isto é, teve morte cerebral confirmada ontem à noite).
A amiga dela, também ferida, passa bem, mas continua hospitalizada e não teve contato com a imprensa nem com a polícia. Diz a diretora do hospital (que, como os demais médicos, pareceu sempre desconfortável nas entrevistas e sempre reiterava a necessidade do respeito à ética) que eles não permitirão qualquer abordagem enquanto ela estiver internada. E ela só deve receber alta no prazo de uma semana a dez dias.
Aguardemos então que algum(a) bravo(a) repórter se disfarce de médico(a) ou enfermeiro(a) e penetre no quarto onde está a moça para fotografá-la e filmá-la e obter declarações exclusivas sobre o que aconteceu dentro daquele apartamento durante o sequestro. Se o sujeito agredia a ex-namorada, se eles discutiam, o que diziam e… ah!!! se ele a obrigava a fazer sexo, que é o ingrediente indispensável num caso como esse. Estamos todos salivando atrás dos detalhes sórdidos dessa história, para depois podermos nos declarar ainda mais horrorizados. Sobretudo que se trata de um crime passional, e todo mundo tem sua teoria e suas convicções sobre essas questões que envolvem a intimidade.
Num caso que ficou muito famoso aqui, o tal sequestro do ônibus 174 (que virou documentário e agora, também, filme ficcional concorrente ao Oscar deste ano), o sequestrador e uma refém foram assassinados, depois de quatro horas e meia de transmissão direta pela TV (pelo menos um canal aberto – Record – e a GloboNews). Há uns três anos, eu dava aula num curso de especialização para policiais e citei o caso. Um deles disse que havia participado daquela operação e que o rapaz já estava se entregando quando o governador deu ordem para interromper as negociações, que o caso teria de ficar na mão do secretário de segurança. Por que? Porque estava sendo transmitido ao vivo e isso mobilizou a cúpula do executivo estadual. (De fato, o rapaz, que não ia sequestrar ônibus algum, mas talvez fosse assaltar o ônibus – foi flagrado armado por um passageiro, que chamou a polícia -, o rapaz deu o supremo azar de ser abordado quando o ônibus passava no Jardim Botânico, bem perto da Rede Globo; logo se formou o circo, que se prolongou por quatro horas e meia e teve o desfecho que conhecemos). Enfim, o policial assevera que nada daquilo teria acontecido se não fosse a TV.
(19 Out. 08)
(Sylvia Moretzsohn acompanha há anos estas matérias e desenvolveu uma importante fundamentação na sua obra recente Pensando contra os Factos – Jornalismo e Cotidiano: Do senso comum ao senso crítico. Na BOCC – Biblioteca Online de Ciências da Comunicação, podem ser consultados vários outros textos de sua autoria. Fica aqui, para todos nós, o desafio que colocava no fim da sua mensagem: “Gostaria de saber o que você acha“).

Revista Digital de Retórica – nº 1

Acaba e sair a Rêthoriquê – Revista Digital de Retórica, do LabCom-Laboratório de Comunicação e Conteúdos On-line da Universidade da beira Interior, da responsabilidade de Ivone Ferreira.
Dos textos publicados, destaco:

“Democracia, jornalismo e tecnologia” – novo livro

Denis McQuail, Kaarle Nordenstreng, Peter Dahlgren e Nico Carpentier são alguns dos autores de capítulos da volumosa obra que acaba de ser disponibilizada na Internet, com o título “Democracy, Journalism and Technology: New Developments in an Enlarged Europe“. Trata-se da reunião dos trabalhos de uma Summer School de doutoramento, realizada neste Verão, na Universidade de Tartu (instituição que é também a editora da obra).
Outros volumes relativos a summer schools de anos transactos: AQUI.

Os jornalistas e a crise

“Em privado, muitos economistas não escondem alguma irritação: boa parte da responsabilidade da actual crise e da volatilidade dos marcados financeiros é culpa dos jornalistas. Foram as suas notícias alarmistas, os seus títulos catastrofistas, que geraram a onda de pânico que abalou as bolsas e fez cair banco atrás de banco.
É certo que, por muito que custe admiti-lo aos economistas, a economia não é uma ciência exacta. E talvez nem seja sequer tão exacta como a resultante das centenas, ou milhares, de títulos e notícias que foram difundidas nas últimas semanas. Acreditar que foi a imagem da realidade transmitida pelos jornalistas que criou a crise é tão infantil como culpar uma bruxa por um terramoto: não resiste à análise dos factos, mesmo que seja imensa, até descomunal, a quantidade de disparates que possam ter sido escritos ou lidos por jornalistas ao longo desta crise.(…)”.

José Manuel Fernandes, Público, 17.10.2008