O Diário de Notícias decidiu, por estes dias, passar a sinalizar todas as caixas de comentários com a seguinte advertência: “Conteúdo eventualmente ofensivo“. Na mesma nota, diz-se que “as opiniões, informações, argumentações e linguagem utilizadas pelos comentadores desse espaço não refletem, de algum modo, a linha editorial ou o trabalho jornalístico do Diário de Notícias” e esclarece-se que os textos “podem, por vezes, ter um conteúdo susceptível de ferir o código moral ou ético de alguns leitores“, pelo que “o Diário de Notícias não recomenda a sua leitura a menores ou a pessoas mais sensíveis.”
No espaço semanal de comentário que tem na SIC-Notícias, Pacheco Pereira disse que se tratava de uma postura hipócrita. Concordo. É mau demais não gerir (por opção ou por limitação de meios) os comentários mas é bem pior assumir relativamente ao delicado assunto uma postura declarada de rendição. O DN desistiu sem sequer ter tentado.
O problema que está na origem de tão bizarra atitude não é novo e não é apenas nacional. As soluções encontradas pelas empresas são muito diversas mas para algumas a guerra está longe de estar perdida.
Como explica o Provedor do Leitor do Washington Post, Patrick B. Pexton, (sim, o jornal que está a crescer substancialmente na web às cavalitas da opção errada do NYTimes) a empresa precisa de continuar a dar atenção (com moderação sensata, diz) aos espaços de comentários:
“I think that in the messiness lies virtue. Online commenting boards are an online speaker’s corner and free-speech release valve.They’re also a real-time correction and information-gathering mechanism.”
Monthly Archives: Março 2012
Jornalismo e xenofobia
O título principal da capa do JN desta segunda-feira consegue discriminar, numa mesma frase, mulheres e nacionais do leste europeu. Ao escolherem a manchete “Melhores carteiristas são mulheres do leste”, com o subtítulo “JN surpreendeu em plena ação em Lisboa sofisticadas ladras, na maioria oriundas da Roménia e da Eslovénia”, os editores do Jornal de Notícias colaboraram para fomentar o xenofobismo.
O jornal, ao classificar criminosos de acordo com a nacionalidade e o género, prestou um desserviço, cujas consequências certamente estão agora a ser sentidas pelas mulheres do leste que não se enquadram no perfil de “sofisticadas ladras”, mas que emigraram dos seus respetivos países para em busca de uma vida melhor.
A responsabilidade ética perante a sociedade é uma das mais nobres qualidades de um bom jornalista. A discriminação torna o jornalismo sofrível.
Cabe lembrar aqui o Código Deontológico do Jornalista, que diz, em seu artigo 8º:
“O jornalista deve rejeitar o tratamento discriminatório das pessoas em função da cor, raça, credos, nacionalidade, ou sexo.”
Os ‘Thatcher wannabees’ e os média
A Grã- Bretanha, liderada por um governo conservador, está envolta numa recessão mais longa do que previsto e a solução adoptada parece continuar a centrar-se no corte substancial da chamada ‘despesa do Estado’. Quando o governo de Londres fala em ‘despesa do Estado’ junta à expressão a ideia de desperdício, de gestão ineficiente, de ‘gordura’. Nos últimos anos, esta estratégia transformou por completo – para pior, para muito pior – setores tidos como exemplares no país que, no ínicio do século passado, deu ao Welfare State um formato que viria a ter enorme influência na criação dos sistemas de apoio social na Europa. As universidades deixaram de ser entendidas como um serviço da comunidade ao serviço da comunidade, passando a ser, em vez disso, um negócio (como quase qualquer outro) pelo qual as famílias podem optar se para isso tiverem disponibilidade (como já fazem na compra do automóvel, ou do aparelho de TV). Os hospitais enfrentam cortes severos e os transportes públicos são já tão caros que se tornam impeditivos para muitos cidadãos.
A Grã-Bretanha fez tudo isto, apesar de ter à sua disposição um mecanismo de que países da zona Euro já não dispõem – a política monetária.
O orçamento para 2012, agora apresentado, dá mais um passo em frente numa estratégia que parece existir sem qualquer avaliação de resultados – propõe o alargamento dos cortes às pensões.
É um estilo de gestão que, infelizmente, tão bem conhecemos – o fazer ‘porque sim’. Sem mais.
Onde está, então a diferença substancial entre o que faz o governo conservador britânico e o que faz o ‘sabe-lá-ele-bem-o-que-é’ governo nacional?
Está na forma como as medidas são apresentadas pelos média e na forma como são debatidas em público.
Deixam-se aqui, para apreciação, imagens de algumas das primeras páginas de hoje:
A democracia tem destas coisas: um like é um voto
A participação está na moda. Tão na moda que quem não participa não é cool, não está in. É democrático. É bonito. Mas merece ponderação. Digo eu. Haverá diferença entre escolher o nome para um novo iogurte ou decidir limitações ao trânsito no centro da cidade?
A democracia tem destas coisas. Se participamos, somos engajados e motivados, adquirimos de algum modo um grau extra de cidadania. Se não participamos e somos apenas cidadãos no número e no papel perdemos o direito moral à cidadania. Mas devemos questionar que tipo de participação é esta e que tipo de cidadania queremos e merecemos.
As instituições desdobram-se em acções, actuações e iniciativas para promover a participação, potencializada pela procura de formas alternativas nas novas tecnologias mas também no acesso deliberativo. É democrático. É bonito. Mas merece ponderação. Digo eu. Haverá diferença entre escolher o nome para um novo iogurte ou decidir limitações ao trânsito no centro da cidade?
Moralismos àparte, a participação tem a sua dose de perversão, não sendo a sua instrumentalização como legitimação do poder a menor de todas.

“A democracia é tão somente um mecanismo de mercado: os votantes são os consumidores; os políticos são os empresários.”
Jornalismo: lendo sinais
Dois casos recentes do jornalismo gostaria de aqui evocar hoje. O primeiro foi protagonizado pelo número da revista Time com data de 5 deste mês. A sua capa continha, sobre fundo branco, as fotos tipo passe de 20 pessoas e, em título: “Eu decido: por que os latinos decidirão a escolha do próximo presidente”. Nos dias imediatos à saída do texto, levantou-se na Internet um enorme sururu, não tanto motivado pela relevante matéria tratada no texto, mas por um pormenor da capa. Alguém reconhecera num dos alegados ‘latinos’ anónimos, a cara de alguém que não era de origem ‘latina’ (significando nos Estados Unidos da América, regra geral, originário de países da América Latina).
O segundo caso vem no número de Março do jornal “Madeira Livre”, do PSD daquela Região Autónoma. Traz na última página cinco fotos igualmente tipo passe de outros tantos jornalistas e sobre elas este título: “São estes indígenas que também viram contra nós a opinião pública do continente”.
No primeiro caso, jornalistas são autores de um erro, que poderíamos classificar, apesar de tudo, venial, descoberto e ampliado por leitores atentos (e, não raro, mais dados a comentar o secundário e até anedótico do que o essencial); no segundo caso, são jornalistas o bode expiatório de um regime de condicionamento a que nenhum poder se atreve a pôr cobro.
Dois pequenos sinais, duas metáforas de outros tantos problemas que, numa escala maior, afectam esse bem essencial e complexo para as democracias, que é o jornalismo.
Todos sabemos que vive dias muito difíceis e que as dificuldades podem ser a sua sepultura, se ficarmos quedos, ou a sua reinvenção, se agarrarmos a oportunidade que nos é dada. Ora, teve início esta semana, em Coimbra, um ciclo de debates e auscultações sobre o futuro do jornalismo, conduzida sob a animação de um jornalista de referência como é Adelino Gomes, que percorrerá o país até ao próximo Outono, reunindo cidadãos, investigadores, estudantes e … jornalistas. Estes últimos, porém, não foram muito notados nas duas sessões que já decorreram. Qualquer mudança não se poderá fazer sem os jornalistas. Mas para isso, é naturalmente preciso que eles a queiram fazer. O jornalismo lê sinais e interpreta a actualidade. Há que ler também os sinais do jornalismo.
(Texto publicado na edição de hoje do jornal Página 1, da Renascença)
Complemento:
- Sobre a capa da Time, ver uma leitura que segue uma direção distinta e mais aprofundada da que aqui faço, neste artigo de Eugênio Bucci, intitulado “Imagens invisíveis“.
- Sobre o caso do “Madeira livre” (!), o Sindicato dos Jornalistas emitiu um comunicado em 1 deste mês, no qual denuncia “uma tentativa de condicionamento da liberdade dos jornalistas” que ” pode constituir uma instigação, nomeadamente para os militantes e simpatizante do PSD-Madeira, à perseguição dos jornalistas visados, ou pelo menos uma indicação implícita a atitudes incorrectas para com os visados”.
Onde está a revista do Expresso?
Este fim de semana vinha, com o jornal Expresso, uma publicação semelhante às que estão disponíveis de graça nos escaparates de entrada dos supermercados.
Deve ter sido engano.
A Direção do jornal – que talvez tenha perdido tempo demais a deliberar sobre se considerava ou não uma resposta de Luís Marinho a Miguel Sousa Tavares como ‘uma resposta’ (no sentido legal, que lhe concede direitos especiais de publicação) – também precisava de olhar com atenção para os problemas sérios que o jornal aparenta estar a enfrentar na zona de acondicionamento final do produto.
Vejam lá isso, por favor…
Um livro sobre rádio!!!
São tão poucos os livros publicados sobre rádio que, quando aparece um novo título, é um motivo de grande regozijo para os que se dedicam a esta área dos media. A mais recente publicação é a de João Paulo Meneses e problematiza a história da rádio. Estudos sobre a rádio. Passado, presente e futuro está publicado pela Mais Leituras e reúne em mais de duas centenas de páginas trabalhos diversos do jornalista que é também autor de uma das poucas teses portuguesas sobre o meio radiofónico.
Forum sobre o futuro do jornalismo abre hoje em Coimbra
A ESEC TV está a transmitir em directo, via web, o primeiro forum intitulado “O futuro do jornalismo”, que vai ‘rodar’ também, nas próximas semanas, pela Covilhã, Braga, Porto, Portalegre, Lisboa e Faro.
O debate de hoje, que decorre no auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra, pode ser seguido AQUI.
Uma apresentação do enquadramento e objectivos deste Forum pode ser consultada numa entrevista dada à ESEC TV pelo jornalista e doutor Adelino Gomes.
Aquele anúncio dos cavalos é o quê?
No livro ‘O retrato de Dorian Gray’, Oscar Wilde escreve: “But beauty, real beauty, ends where an intellectual expression begins“.
Numa leitura um nada mais prosaica, Boss AC diz-nos, na letra da sua mais recente música, “Ó Homem fazias-me rico em vez de bonito”.
Há, em ambas as frases, a noção da mútua exclusão; no primeiro caso entre a beleza e a expressão intelectual e, no segundo, entre a beleza e a fortuna (alguns, certamente iludidos, poderiam até pensar que as duas são próximas).
A publicidade – a Publicidade de grande qualidade – sempre viveu na corda bamba que continua a esticar-se entre estas polaridades; sempre quis ocupar territórios que, em simultâneo, nos deslumbram e nos provocam; sempre quis cativar-nos com astúcia, com elegância, com humor. E sempre – sobretudo depois dos pioneiros anúncios do VW carocha nos Estados Unidos – fez por mostrar-nos que tinhamos direito a muito, a partir de muito pouco.
A mais recente publicidade televisiva da Portugal Telecom contraria tudo isto.
É lindíssima, mas não tem mensagem absolutamente nenhuma.
É caríssima e faz tudo para não o esconder.
O novo (e longo – outro detalhe de ostentação) anúncio mostra-nos um universo fictício, muito belo, descoordenado, aleatório, onde tudo pode acontecer (e com o dinheiro gasto – tudo acontece mesmo!) mas onde tudo vale muito pouco porque não há propósito.
Nesse mundo imaginário, com amazonas em câmara lenta e setas que, por entre nuvens de talco, rasgam o infinito, não há horizonte – os fundos são sempre negros – e não há cronologia.
O tempo e o espaço não existem e os indivíduos saltam e contorcem-se no vazio.
Não são gente, certamente (como diria o outro), porque gente não é assim – nós somos história, somos espaço e somos relações.
Os personagens azulados do tal anúncio rico, que afinal é muito pobre, são coisas, são instrumentos.
A PT, que não sabe o que há-de fazer ao dinheiro que ganha à custa dos inúmeros monopólios (ou pseudo ‘posições dominantes’) que detém, diz-nos que bem, bem, era sermos mesmo como os amorfos estrunfes do seu anúncio – alegres saltitões calados.
E ‘calados’ é, para eles, mesmo muito importante.
Copy and paste
As assessorias políticas precisam estar mais atentas às mudanças de paradigmas na comunicação, que deslocam o eixo dos veículos de massa para as redes sociais.
Caso contrário, cometem o grave erro de não informar corretamente aos cidadãos comuns que, por meio das ferramentas online, entram em contato com o agente político para colocar questões sobre determinados assuntos da esfera pública.
Um caso explícito de falha comunicativa ocorreu a partir de respostas dadas pela deputada Francisca Almeida (PSD), que foi questionada via email por alguns interessados no processo de implementação da TV digital terrestre, a respeito de declarações que havia dado ao Correio da Manhã, para justificar que votaria contra a proposta para a inclusão de mais canais da RTP na TDT.
Eu fui um dos interessados que mandou um email. Dez dias após o envio da mensagem, a deputada respondeu-me de forma genérica, não mencionando diretamente muitos dos pontos que eu havia levantado.
Publiquei a resposta em meu blog pessoal e, para minha surpresa, dois dos leitores relataram que também haviam questionado a deputada e que receberam um email com exatamente o mesmo teor, ipsis litteris.
Esqueceram que as pessoas conversam no mundo online. É esta a lógica da construção coletiva do conhecimento. É esta a lógica que a comunicação política também deveria seguir.
Como disse Dan Gillmor:
“When you become an active user of media, you can do much more than gain confidence that you know what you’re talking about. Millions of people already are taking it further, engaging in the emergent global conversations that help us and our communities every day. (…) The online culture is inherently participatory and collaborative, which makes this easy.”
É só fachada.
Agora que vem aí a Primavera chega-nos aquela vontade de renovar a vida, a casa e o mundo. Mesmo que seja só cosmética e no essencial fique tudo na mesma, mudar as almofadas do sofá ou fazer um novo corte de cabelo dá logo um ar mais lavado. A criatividade renova.
Com a crescente dificuldade de cada vez mais famílias pagarem as hipotecas da casa, a Brainiacs from Mars, uma agência americana de marketing não convencional de alto impacto, lançou uma campanha, que é antes de mais nada de auto-promoção. Também tem o seu lado de responsabilidade social e oferece uma experiência positiva e envolvente ao consumidor, uma win-win situation. Seja qual for a etiqueta que lhe quisermos colocar, o que é certo é que tem dado que falar e consiste no seguinte: a Brainiacs paga a hipoteca da casa em troca do uso da fachada como espaço publicitário, durante os meses que durar o contrato, que pode ir de um mês a um ano. O interessante é que se compromete a voltar a pôr tudo num brinco, pintando o espaço usado com as cores originais. É uma espécie de Querido, mudei a casa, mas só por fora.
Neste negócio o cliente vende a alma ao diabo e sujeita-se à reacção adversa da comunidade de vizinhos, já que a pintura é em cores berrantes, mas ganha duplamente com o pagamento da hipoteca e com a renovação das paredes. Entre pagar a casa e mantê-la ou passar a vergonha, a escolha pode não ser fácil mas em tempo de guerra não se limpam armas. Quem quiser candidatar-se pode fazê-lo colocando fotos da sua casa na página do Facebook e preenchendo o formulário de candidatura. Para os que preferem uma relação mais personalizada, a agência propõe o uso de uma t-shirt publicitária em troca do pagamento de três meses de hipoteca.
Que se saiba ainda não o fazem em Portugal, por isso talvez seja uma boa ideia para a renovação dos prédios decrépitos dos centros das cidades e uma solução de recurso para o ‘Querido, entreguei a casa ao Banco‘, previsível para todos os que se confrontam com esta possibilidade. E são muitos. Cada vez mais em Portugal. Segundo Tiago Mesquita no blogue 100 Reféns do Expresso,
“O número de pessoas que deixaram de pagar os empréstimos bancários aumentou 450%. Repito: 450%.”
Talvez seja um número suficiente para tornar uma campanha de renovação de fachadas rentável. Talvez um dia destes um banco pegue na ideia, faça um consórcio com uma marca de tintas e uma empresa de construção civil falida e comece a pintar as fachadas de novo, incluindo a sua, com cores fortes e vibrantes que nos façam acreditar. De novo.
Público: uma agenda para depois da festa

- Quantas horas os responsáveis estimam necessárias para os professores prepararem as lições? Quais as competências fundamentais que a escola ignora quando avalia os alunos?
- Quanto é que os alunos realmente aprendem das matérias que lhes são ensinadas?
- Que consciência têm os responsáveis pelas políticas educativas da especificidade da profissão de docente?
- Quantos alunos desistem do ensino superior por razões económicas?
- Que peso tem a relação aluno-professor na definição das políticas educativas?
- Quantos deputados usaram informação secreta em benefício próprio?
- Quantos portugueses se sentem representados pelos deputados?
- Quantos documentos estão em segredo de Estado? E que documentos?
- Quantos detentores de cargos públicos tentaram manipular jornalistas na democracia?
- Quantos detentores de cargos públicos foram acusados de assédio sexual?
- Quantos políticos têm negócios em ofshores?
- Quantos ministros foram ocupar cargos de chefia em grandes empresas depois de abandonarem o governo?
- Quantos crimes não chegam a ser denunciados porque as vítimas não acreditam na Justiça ou têm medo dos agressores?
- Quantos portugueses não têm medo: da autoridade? Do Estado? Dos políticos? De perder o emprego? De arriscar? De assumir responsabilidades?
- Quantos portugueses não vão emigrar em 2012 por não terem coragem para o fazer?
- Qual a percentagem de portugueses que subornaria alguém?
- Quanto custa em média ao Estado um julgamento de um pequeno delito?
- Quantos políticos condenáveis por tráfico de influências, corrupção e peculato foram realmente investigados? Quantos foram condenados?
- Quantas mulheres foram sexualmente abusadas ao longo da vida?
- Quantos condenados pelo crime de pedofilia cumpriram a pena a que foram condenados até ao fim? Qual a percentagem dos últimos relativamente aos pedófilos portugueses?
- Quantas pessoas vão morrer até ao fim deste ano por não terem acesso aos tratamentos adequados?
- Quantos portugueses morrem por não serem atendidos a tempo?
- Quantas pessoas morrem por ano devido a erros de prescrição médica?
- Até que ponto em Portugal as taxas de mortalidade variam em função das diferenças sociais?
- Quantas pessoas vivem mal por ignorarem que o seu problema é do foro psiquiátrico?
- Quantos portugueses tomam antidepressivos e ansiolíticos? Quantos os tomam sem necessidade?
- Quantas mortes por suicídio se devem a depressão?
- As doenças psíquicas que hoje atingem mais os portugueses são diferentes das doenças psíquicas mais comuns antes de 2004?
- Em que medida o conhecimento da História de Portugal desde o 25 de Abril contribuiu para o seu sentimento de ser português?
- Quantas pessoas escondem a sua homossexualidade?
- Em que medida a política do seu país lhe dá mais orgulho em ser português?
- Sente-se mais, menos ou tão português agora do que antes da entrada de Portugal na Comunidade Europeia?
- Gosta mais de si por ser português?
Bloggers, marcas e consumo
Longe de serem um meio de massas, os blogues não deixam, contudo, de constituir um nicho interessante: nicho de presença dos cidadãos nos media, nicho de reflexão, nicho de discussão e até mesmo nicho de algumas notícias. Por isto tudo, serão também um nicho de mercado a não desprezar pelas indústrias. O relatório da Technorati de 2010 incluiu uma secção sobre a relação entre os bloggers e as marcas, reflectindo sobre a crescente importância que este meio desempenha na promoção e debate sobre os produtos do mercado. Também as empresas reconhecem o potencial da blogosfera na gestão das marcas, tendo havido casos, nomeadamente em Portugal, de conflito e acções judiciais envolvendo bloggers e empresas. Mas a tendência geral no relacionamento entre ambos não será tanto de confrontação, mas sim de cooperação. São já muitos os bloggers convidados por empresas a participar em conferências de imprensa ou eventos, desde desfiles de moda à apresentação de desodorizantes. O reconhecimento dos bloggers como interlocutores a ter em conta é obviamente importante na promoção de uma esfera pública dinâmica e reflexiva, que contempla o contributo de cidadãos e pessoas interessadas no debate. Contudo, será sobretudo relevante se for capaz produzir discussão sobre as estratégias publicitárias e comerciais, abertas à participação dos cidadãos, e um consumo informado e informativo.
Cantar de Gallo
A ver se nos entendemos: falar uma mesma língua significa, mais que partilhar um idioma, estar em perfeita sintonia cultural.
A recente acusação de racismo de um anúncio do azeite Gallo no Brasil, despoletada por uma colunista da Folha de São Paulo e que deverá vir a ser avaliada pelo organismo de auto-regulação da publicidade do Brasil (CONAR), chama a atenção para um facto que é muitas vezes esquecido num mundo globalizado onde todos podemos e devemos falar uma mesma língua.
A ver se nos entendemos: falar uma mesma língua significa, mais que partilhar um idioma, estar em perfeita sintonia cultural com o local e o momento. Falar uma mesma língua implica ter sensibilidade para as idiossincrasias do meio ambiente comunicacional, seja ele institucional ou pessoal, implique ele um cidadão ou um país inteiro. Falar uma mesma língua é antes de mais nada respeitar e compreender o outro.
O que aconteceu com o Gallo brasileiro, criado pela AlmapBBDO, uma das mais premiadas dos últimos anos, é uma infelicidade comunicacional. É a prova de que o humor é uma arma poderosa mas difícil de manusear, que quando usada sem bom senso provoca danos colaterais e, no mínimo, um sorriso amarelo numa marca que nos habituou, pelo menos desde 1989, a alguns dos mais belos spots publicitários da portugalidade anunciando, mais do que um azeite premiado, a nossa própria alma.
A Gallo é líder em Portugal, com 30% da quota do mercado, é a quinta maior marca mundial e vende para 47 países. Recentemente fez um restyling da sua imagem para estar mais perto dos consumidores contemporâneos, reinventando a tradição e propõe-se vir a ser a terceira maior marca mundial de azeite.
“Eu gosto muito de ouvir cantar a quem aprendeu, se houvera quem me ensinara quem aprendia era eu.”
Desde 1919.