E já que andamos pela rádio…

… é de ler este post do recém-criado Online Journalism Blog:
Five reasons for audio journalism: actuality, debate, emotion, background, podcast

Ouvir rádio pela Internet

O hábito de escuta de rádio pela internet em Portugal está em crescimento, ainda que a escuta regular (diária) apresente valores pouco expressivos. Os dados são do estudo Bareme Rádio da Marktest e vêm na newsletter da Marktest (acesso por assinatura)  que assim inicia a publicação de uma série de análises que pretendem “constituir um olhar aprofundado e objectivo sobre a rádio em Portugal, abordando a evolução do meio e o modo como se tem processado a relação dos portugueses para com este”. A escuta de rádio pela internet efectua-se sobretudo em casa, embora com o local de trabalho bem posicionado.

Dentro do washingtonpost.com

É uma promoção da Apple, mas é também um curioso olhar ao funcionamento do Washingtonpost.com.

E – a menos que sejamos muito ‘Apple-fóbicos’ – conseguimos ver o que há para lá das imagens com maçãs. E conseguimos também ouvir Rob Curley quando diz:

It should’t be about the device, it should be about the information (…)

We want to try to make the WP be not about the paper in paper…but about the news.

Informação recolhida no Cyberjournalist.

Interrogações sobre o futuro dos jornais

Na coluna que encerra a colaboração que tem mantido com o Diário de Notícias, Diogo Pires Aurélio deixa hoje algumas interrogações sobre os tempos que se vivem na imprensa:

«De uma forma ou de outra, a informação acabará por encontrar as tecnologias e os circuitos comerciais que lhe permitam circular. A pergunta que sobra é como se organizará no futuro aquilo a que se chama de espaço público e que possui no modelo actual da Comunicação um dos seus pilares. Como se processará, no registo tendencialmente caótico da informação do futuro, a selecção e hierarquização dos acontecimentos que os jornais, mal ou bem, têm vindo a fazer? E sobreviverá a democracia representativa à tentação de uma proximidade tal entre poder e eleitores, que a expõe a todos os riscos do populismo?»

Diogo Pires Aurélio, DN

Reformar as redacções

O Relatório Tessier, na semana passada entregue ao ministro da Cultura de França, sobre a imprensa e o digital, aborda as relações entre a profissão jornalística e a cidadania, sugerindo a necessidade de as redacções definirem webspider.gifum lugar e um estatuto (eventualmente remunerado) para o chamado jornalismo dos cidadãos. Não se trata, propriamente, de “enfeitar” os sites com umas pitadas de excertos de blogues, como está bom de ver (e se vê com frequência). Mas quando se alude à definição de um estatuto, eventualmente remunerado, aí está-se a introduzir matérias melindrosas, ainda que provavelmente incontornáveis. Para alimentar a reflexão, seguem-se alguns dos parágrafos em que o problema é equacionado:

Réformer les équipes éditoriales : un statut pour les journalistes citoyens ?

Or, il est frappant de constater que, paradoxalement, ce développement s’accompagne d’un rapprochement des méthodes et des règles qui sont généralement appliquées par les journalistes professionnels et donc d’une certaine convergence dans le fonctionnement des sites, qu’il s’agisse de sites gérés par des entreprises de médias ou de sites fondés sur l’intervention de non-professionnels. Ainsi, le site coréen OhMyNews, bien que faisant appel à des contributions d’internautes, encadre très strictement le processus de publication et fait appel à des journalistes pour l’organisation générale du site et la hiérarchisation des informations. Ainsi, la première règle de l’accord que doit approuver tout journaliste citoyen intervenant sur le site est : « je reconnais l’autorité éditoriale de l’équipe de rédaction d’OhMyNews».

Dans le même ordre d’idée, les contributions au site AgoraVox font l’objet d’une relecture par un comité éditorial qui, agissant en tant que filtre, « se chargera de vérifier la conformité des propos tenus avec la politique éditoriale d’AgoraVox et éventuellement mènera des enquêtes complémentaires en cas de doute si cela est jugé nécessaire52 ». Comme on l’a vu précédemment, la participation des internautes à l’élaboration des contenus des sites d’information est une tendance profonde, liée à l’explosion du Web 2.0,
comme en témoigne le succès de sites comme Dailymotion ou MySpace. L’expression « journalisme citoyen» (citizen journalism) a été forgée pour décrire cette intervention croissante d’internautes qui ne sont pas des journalistes professionnels dans la confection des sites d’information. Le journalisme citoyen est donc le fait que des individus « jouent un rôle actif dans le processus de collecte, de transmission, d’analyse et de diffusion des actualités et de l’information en général». (…)

Les journalistes citoyens vont donc devenir des collaborateurs de plus en plus fréquents des sites d’information, y compris sous la forme de collaboration rémunérée. Il convient donc réfléchir à la façon dont ces collaborateurs devront être intégrés et au statut de leur rémunération’’. Il s’agit d’un point crucial pour la presse, surtout si elle veut basculer la densité du son maillage territorial sur Internet, de façon à conserver un avantage essentiel dans la collecte de l’information. Il importe également que cette collaboration puisse être organisée de façon souple et évolutive et que, s’agissant d’interventions ponctuelles ou plus ou moins régulières de personnes ayant d’autres activités par ailleurs. (…)

in Rapport Tessier , La Presse au Défi du Numérique, pp. 65-66

“Não menosprezar a inteligência de cada ser humano”

” (…) é possível falar seja do que for sem ceder a qualquer forma de estupidez ou aviltamento. Não se trata de escolher entre ser “popular” e ser “erudito”. Aliás, tal oposição apenas tem servido para impor programações de crescente mediocridade. Trata-se, isso sim, de não menosprezar a inteligência de cada ser humano, incluindo, claro, o espectador”.

João Lopes, no Diário de Notícias

A escandalosa contumácia do DN

dn-logo.jpg O que faz um jornal errar tantas vezes?, perguntava-se aqui, ontem, e com sobejos motivos, Madalena Oliveira, a propósito da contumácia do Diário de Notícias de continuar, irresponsavel e ostensivamente, e ao arrepio do Código Deontológico dos Jornalistas, a divulgar o nome de uma bebé de Viseu vítima de sevícias sexuais.

Sobre este assunto, bem pode o provedor do leitor daquele jornal criticar a orientação seguida, como o fez na sua coluna de 16 de Janeiro último. Os responsáveis do jornal deixam-no a “pregar” no deserto. Nem mesmo uma nova Direcção editorial, de quem se poderia e deveria esperar outra atitude, alterou a prática repetidamente seguida. Também aqui se deveria aplicar aquilo que ontem mesmo escrevia um jornalista do DN, para quem “a grande distinção entre um jornal de referência e um popular não está na escolha das notícias mas no seu tratamento.”

Quando praticamente todos os principais media arrepiaram caminho e, nesta saga que vem já de finais de 2005, deixaram de referir o nome da criança, o DN prosseguiu impávido no caminho traçado, com o notável argumento de que todos o fizeram e toda a gente já conhece o nome.

É este tipo de comportamentos que desacredita uma Redacção, um meio de informação e o próprio jornalismo. E é a impunidade deste tipo de comportamentos que espevita todas as vontades hetero-regulamentadoras que os jornalistas (e não só eles) verberam.

Este caso é ainda mais grave porque a maioria dos leitores está-se nas tintas para os direitos de uma criança que é assim pontapeada na praça pública, depois de ter sido maltratada em casa.

E não me venham com o argumento que este é um assunto menor. Não há assuntos de ‘menores’ – especialmente as vítimas de tragédias como o caso presente – que possam ser considerados assunto menor.

O impressionante mundo dos jogos em rede

Um dossier sobre os jogos em rede no jornal La Croix:

O que faz um jornal errar tantas vezes?

É, no mínimo, incompreensível que o Diário de Notícias volte a referir-se à bebé de Viseu pelo nome próprio. Que dúvidas ou hesitações pode implicar o ponto 7 do Código Deontológico dos Jornalistas? Lembramo-lo…

«(…) O jornalista não deve identificar, directa ou indirectamente, as vítimas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade, assim como deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor.»

A extinção dos jornais

«… jornais e jornalistas funcionam em circuito fechado. Escrevem para as fontes e para os colegas, como se os leitores bºai fissen aqueles para os quais trabalham, mas aqueles que têm o dever moral de os ler. Porque são superficiais. Confundem a construção das notícias com o relato do que dizem as partes em confronto, recusando a análise e comprometendo um jornalismo adulto e sofisticado. Porque têm demasiados preconceitos. Deixam de lado dezenas de boas histórias, etiquetadas como “popularuchas”, esquecendo que a grande distinção entre um jornal de referência e um popular não está na escolha das notícias mas no seu tratamento. Porque lhes falta agressividade. O jornalismo português não está a cumprir o seu dever de vigilância sobre os poderes – não irrita ninguém, não incomoda, é bem comportado, pouco curioso, insosso.»

João Miguel Tavares, DN

Os jornais do futuro

«O jornal do próximo futuro poderá ter apenas uma folha dupla aberta, de plástico, do tipo dos que hoje a Plastic Logic produz, pesará cerca de 100 gramas e o texto que terá será um texto electrónico, transmitido em wireless e mudando durante o dia. O jornal poderá ter uma estrutura diária e partes que não são diárias, mas o fluxo noticioso será isso mesmo, um fluxo contínuo.»

«O que está a gerar a crise do jornal de papel é a sua impossibilidade de incorporar hipertexto, ou seja, de comunicar com todos os outros fluxos de informação que um jornal em linha pode utilizar: som, vídeo, arquivo, leitura em volume típica do hipertexto propriamente dito, tempo real.»

Pacheco Pereira, Público (p. 37)

Jornalistas ‘embedded’ nas campanhas eleitorais

Leitura da coluna “Médiatiques” de Daniel Scneidermann, no Libération: Les «embedded» de Sarko et Ségo:

“Toute cette énergie déployée pour recueillir des phrases creuses, des confidences potentiellement manipulatoires, ne pourrait-elle être employée à autre chose?”

Velhos hábitos

Há dias, João Paulo Meneses chamava-nos a atenção para a tentativa, por parte do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, de  alterar o conteúdo de um texto com declarações suas publicado na revista de domingo do Público.
A notícia refere-se a um facto inquietante (a tentativa de ingerência no trabalho do jornalista) mas encerra, na sua origem, um outro não menos inquietante – haveria, à partida, um acordo entre as partes para que o texto pudesse ser lido por Rio antes da publicação.
Não é um prática nova e não acontece apenas em Portugal (veja-se este caso recente, em tudo semelhante, ocorrido com o presidente do Estado francês).
Não creio que estejamos perante um problema legal. Dependendo o visionamento de um texto já concluído de um acordo entre ambas as partes em que se tenha também acordado a ‘não interferência’ não há qualquer ilícito, parece-me.
Haverá, quando muito, problemas de transparência, uma vez que essa informação não é considerada vital a ponto de ser transmitida aos leitores.
E, por isso mesmo, creio que o que está em causa é um comportamento eticamente perigoso.
É censurável que um entrevistado assim proceda (se não confia no jornalista não lhe dá a entrevista) mas é igualmente censurável que um jornalista embarque nesse tipo de acordo, sobretudo porque – como este dois exemplos provam – quem pede para ler não o faz, no mais das vezes, por simples curiosidade.
Mais censurável ainda será que uma empresa jornalística – e a sua estrutura de gestão empresarial e editorial – aceitem este tipo de situações como ‘normais’. Dão um sinal errado aos potenciais entrevistados, dão um sinal errado aos seus assalariados e dão – sobretudo quando, por outras vias, a informação flui para além de um círculo restrito – um sinal errado aos seus leitores.

A “guerra” do papel está perdida?

Este estudo – The Impact of Digitalization – a Generation Apart – , a que vários media hoje se referiram, coloca uma questão que me parece central, nos debates sobre as transformações em curso, relativamente ao acesso e uso dos media informativos: o “gap” geracional.

Tem-se discutido se as gerações mais novas, que aparentemente se interessam pouco pela informação nos media clássicos, particularmente pela imprensa, afinal se interessam por algum tipo de informação de actualidade. Em rigor, esse é um debate antigo. Os dados de “The Impact of Digitalization” confirmam que a Televisão, seguida da Imprensa e da Rádio continuam a ser, globalmente falando, as fontes primeiras da informação dos cidadãos, e que, no caso do Reino Unido, a Internet não vai além de 8%. Mas se se for olhar para os grupos etários, aí verifica-se que a TV, continuando a liderar, cai significativamente e que a Internet suplanta a Imprensa.

É para esta realidade que é preciso olhar. É para esta realidade que poucos olham. O marketing do lançamento do novo P[úblico] procurou ir de encontro a estas novas sensibilidades e estilos de vida. Mas estou cada vez mais persuadido que a guerra do papel – que não necessariamente do jornalismo – está perdida para as gerações mais novas. Isso pode não ser totalmente verdade para os tempos mais imediatos. Mas parece ser uma tendência forte a médio-longo prazo.

“Em Portugal praticamente não se consegue…”

“Em Portugal praticamente não se consegue ver um telejornal que não seja uma espécie de conjunto de sketches de filmes policiais, de catástrofes e de acidentes. Por que é que os “media” se concentram tão obcecantemente nessa triste faceta, de que é importante estar consciente, mas que obscurece tanto do conjunto do país e do que nele de bom se produz e faz?
Não há alegria e felicidade em Portugal?
Não há ninguém que estude este fenómeno, que parece representar grave “depressão colectiva”, já anunciada pelas inúmeras bandeirinhas nacionais há anos colocadas em todas as janelas?
Não são as notícias ou os factos em si, é a sua repetição obsessiva que revela qualquer coisa de insano, de poluído, no país, pelo menos no país que alguns “media” julgam que é aquele que os portugueses querem ver. (…)”[Continuar a ler: aqui]
Vítor Oliveira Jorge, poeta, professor, arqueólogo, no seu blogue Trans-Ferir.