Era um domingo de manhã, chuvoso e enevoado. Muitas famílias estariam na missa, muitos homens nos campos de futebol em jogos amadores. Mas muitos outros bracarenses estavam a ouvir rádio, uma emissora pirata a emitir em Braga há três anos, que resolveu homenagear Orson Welles. Porque era dia 30 de outubro de 1988 e se completavam 50 anos sobre a celébre emissão da Guerra dos Mundos que aterrorizou meia América, a Rádio Braga pôs os marcianos a aterrar em Cabanelas. E, tal como 50 anos antes, muitas pessoas não perceberam o carácter ficional da emissão e entraram em pânico. Muitas iniciaram um processo de fuga tendo como destino a Galiza, criando filas nos postos de abastecimento. Outras pessoas esconderam-se e outras ainda começaram a ligar para a rádio para perceber a veracidade dos acontecimentos. A história foi contada nos jornais do dia seguinte e chegou mesmo aos quatro canto do mundo.
No dia em se comemoram 25 anos sobre esta emissão histórica da Rádio Braga, rádio pirata da capital minhota, o átrio do Instituto de Ciências de Sociais da Universidade do Minho revisita este episódio, promovendo uma exposição das notícias e reportagens que no país e pelo mundo fora anunciaram o pânico dos “marcianos em Braga”.
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Por um ‘jornalismo de escuta’
“Jornalismo, crises e Democracia” é o lema da conferência nacional de jornalistas que se realiza no próximo dia 24, em Lisboa, por iniciativa do Sindicato representativo deste grupo profissional.
O debate sobre o sector e “as formas de intervenção nas redacções e na sociedade” são objectivos da Conferência que pretende ser também um “passo” para o 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses.
Os jornalistas têm motivos de sobra para se reunirem e reflectirem entre si, certamente. Com as gigantescas transformações que estão à vista devem ser o único grupo profissional que não reúne vai para década e meia. Cobrindo congressos de todos os outros organismos, não conseguiu arranjar tempo e motivação para ser ele próprio e o seu papel na sociedade motivo de encontro. Só isso já diz bastante das dificuldades e contradições que se foram agudizando no seu seio e nos contextos organizacionais em que exerce o metier.
Mas, dito isto, e correndo o risco de parecer contraditório, acrescentaria que os jornalistas não vencerão os impasses e desafios com que se deparam se pretenderem enfrentá-los sozinhos. Mais do que no passado, o jornalismo encontra-se hoje no epicentro de um ciclone que afeta não apenas as redacções e grupos de media, ainda que de forma diferenciada, mas o próprio regime democrático, sentido primeiro e último do próprio jornalismo.
Parece-me vital que a profissão se abra aos contributos de todos os sectores da sociedade que também estão seriamente preocupados com o futuro do jornalismo – associações e movimentos culturais, sociais e políticos, alguns setores da economia, centros de investigação e ensino, entre outros. Como poderão os jornalistas e suas associações (e não apenas o seu sindicato) servir melhor a sociedade se não se puserem à escuta do que esperam os cidadãos e do que estes podem dar?
Temo que se a Conferência Nacional que se avizinha for mais um momento para as lamentações do costume ou para “explicar à sociedade” os problemas da profissão será pouco mais do que tempo perdido. A profissão estiolará se se autocentrar e se puser a falar para si mesma. Poderá redescobrir-se e fortificar-se se for inovadora no modo de enfrentar as dificuldades. E isso passa por escutar mais os anseios, lutas, contributos e esperanças que germinam na sociedade e que são frequentemente silenciados no espaço público.
(Texto publicado no Página 1, da Renascença, em 12.11.2012)
“Pela liberdade de investigação”
Na sequência de anos de investigação detalhada, complementada por uma atividade de abertura a contributos externos através de um blog, Sérgio Denicoli, membro desta equipa, defendeu com mérito a sua tese de Doutoramento sobre a implantação da TDT em Portugal.
O que ali descreve em detalhe mostra-nos que o regulador, a Anacom, se comportou como um organismo capturado pela PT, algo que a organização Transparency Internacional diz ser ‘uma prática de corrupção’.
Sérgio Denicoli disse isto na apresentação do seu trabalho e disse isto aos jornalistas que o abordaram.
Foi, de imediato, ameaçado com processos judiciais pela PT (em primeiro lugar) e pela Anacom (em segundo). Foi ainda (em terceiro) alvo de uma absolutamente inédita declaração do presidente formal do júri que o aprovou por unanimidade como Doutor em Ciências da Comunicação .
Esta sucessão de eventos mereceu já reações várias.
Neste blog – que se solidariza por inteiro com o Sérgio Denicoli – deixamos um texto assinado esta noite pelo Manuel Pinto num outro espaço, justificando o apelo a uma mobilização mais ampla contra as tentativas de condicionamento da investigação académica.
“Apoio esta petição porque entendo não ser aceitável condicionar a investigação a não ser ao rigor do método científico e à verdade permanente procurada.
Porque entendo que os cientistas (e poderia dizer também os jornalistas e outros profissionais que contribuem para o conhecimento do mundo em que vivemos) não se podem alhear dos problemas dos seus concidadãos.
Porque hoje os investigadores, ainda que fazendo trabalho autónomo e original, como é suposto num doutoramento, trabalham em equipas e os resultados alcançados devem ser assumidos pelas equipas, pelos centros de investigação e pelas instituições de que esses centros fazem parte.
Integrei o júri do Sergio Denicoli, li com atenção o trabalho que apresentou e achei-o teorica e metodologicamente bem fundamentado e com resultados que são relevantes para compreender o que se tem passado no país relativamente à TDT, custe a quem custar, e até mesmo para equacionar o que se poderá fazer no futuro [Deste ponto de vista, julgo que a RTP também não sai bem do estudo que originou esta polémica, ainda que seja por omissão].
A verdade é que do estudo intenso e da participação activa nos debates, Sérgio Denicoli, que veio para Portugal estudar, tendo no Brasil uma carreira jornalística promissora na Globo, é hoje um dos poucos especialistas sobre a televisão digital terrestre em Portugal, do ponto de vista das políticas públicas.
Assim, ele veio do Brasil, fez entre nós o mestrado e o doutoramento, teve uma bolsa da FCT e devolveu ao país tanto ou mais do que aquilo que o país lhe deu. O Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho só pode estar-lhe grato pelos territórios novos que abriu no seu seio, visível nos artigos e livros de que é autor.
Mas este não é só um caso individual: mal iríamos se os investigadores começassem a medir as consequências e os riscos de eventuais choques com poderes instalados, quando definem as suas problemáticas de pesquisa. A auto-censura como forma de antecipar a censura e a perseguição posteriores seria uma ruína para a ciência, para a academia e para o país. Por isso é preciso assinar esta petição e convidar outros cidadãos a fazê-lo também.”
Para assinar a petição, clicar AQUI.
Relações conflituosas…com o meu jornal II
Na sequência de uma decisão pessoal que resolvi publicitar (a de ter quebrado a minha relação de compra – já era, confesso, mais bi-ou-tri semanal do que diária – com o jornal Público) o Manuel Pinto achou por bem – e bem! – usar o mote para aqui abrir a porta a um debate sobre o tema genérico ‘porque perdem os jornais as suas audiências’.
Gostava, antes de mais, de explicar a minha opção, até porque fui já – e bem! – confrontado com a sua aparente incoerência. Não nego, desde logo, que ela exista. A incoerência. Existe pois, como existe em muito de tudo o resto que fazemos na vida. E felizmente que isso acontece, dir-me-ia um amigo que usa com frequência a expressão: “ainda bem que são como as pessoas”.
Como posso eu, agora, neste momento, em que o jornal se prepara – dizia-se há dias – para despedir uma centena de pessoas e para nos apresentar um novo rosto online, ‘abandonar o barco’? Ainda por cima um ‘barco’ no qual já só viajava às vezes? Ora, ora. Logo agora.
O que me parece interessante é olhar para este caminho e tentar perceber porque me fui gradualmente afastando do jornal e porque me doeu agora muito pouco fechar a porta. E a imagem do ‘barco’ é relevante porque comecei, precisamente, por ser um ‘leitor profissional’ do Público. Era, à época do seu arranque, jornalista em início de carreira e o Público fazia…o que eu gostava de estar a fazer. E fazia-o de forma consistente: preparava dossiers sobre os temas, antecipava polémicas, divulgava novas histórias. Tinha paginação e fotografia cuidadas (muito à imagem de uma outra das minhas paixões de juventude, o britânico The Independent). Era um grande jornal. Dava gosto ser fã. Fazia-lhe um like, em grande, se pudesse.
Dir-se-á que era uma imagem construída, pouco ligada à realidade do projeto em si. Pois sim. Mas era a minha imagem. E sentia-me, de facto, num ‘barco’ onde seguia viagem com um número significativo de leitores fiéis.
A primeira grande mudança neste estado de coisas aconteceu com a Direção editorial anterior à que agora o jornal tem. Confesso que em muitos momentos – o caso mais gritante terá sido o do apoio declarado à estratégia da Administração Bush para o Iraque – senti vontade de ‘saltar fora’.
Fiquei a meio caminho. Deixei apenas cair o hábito da compra quase diária. Era o Público, afinal de contas. A coisa havia de ir ao sítio. E, se me esquecesse por instantes da Direção, a casa tinha ainda tantos e tão bons profissionais.
Hoje, a casa continua a ter muitos profissionais de grande qualidade, mas sinto que a coisa não foi ao sítio. Longe disso. Foi para um sítio ainda pior, já muito longe (talvez longe demais) da linha de rumo. A forma como a Direção do jornal reagiu a uma interpelação do Provedor sinaliza, além de um profundo desrespeito pelas regras básicas de funcionamento e pela função social da profissão, um enorme desconhecimento dos leitores. Mais grave ainda; não sabendo quem são os leitores, a Direção mostra ainda que não tem interesse nenhum em saber.
Chegado a este ponto tinha uma de duas opções: ou salvava, para mim mesmo, uma imagem benigna de um dos mais bem conseguidos projetos jornalísticos do país ou arriscava um caminho em que as boas memórias já começassem a empalidecer por entre um amontoado de asneiras e asneirolas.
Bem sei que o Público não é – no panorama nacional – o caso mais trágico, do ponto de vista da degradação do produto jornalístico. Mas, porque chegou a significar tanto, dói mais.
Há, na chamada ‘crise do jornalismo’ aspetos que, sendo de natureza financeira, condicionam severamente o produto final. Mas há, também, aspetos que resultam de escolhas deliberadas de quem dirige os projetos. Creio que, no caso do Público, a gestão do projeto editorial foi, nos últimos anos, mais danosa para a credibilidade do jornal do que os anuais apertos financeiros ditados pela administração.
Como alguém que agora vê o ‘barco’ afastar-se, sem tino, embalado por ondas que lhe atiram cada vez mais água para um convés já encharcado, mantenho no espírito uma derradeira dúvida: porque assim quis ou porque assim deixou que fosse um empresário perspicaz e pouco dado a ‘longos funerais’ como o Eng. Belmiro?
Se ele, um dia, nos explicasse…
(a confiar nas palavras recentes do Joaquim Vieira parece que a Administração do Público quer, por estes dias, que se saiba o menos possível sobre a vida real do jornal. É, também isso, uma enorme pena).
Luís António Santos
Comunicação e Sociedade, vol. 21
A revista do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade deixou, este ano, de publicar-se em papel passando, agora, a estar disponível apenas em formato digital.
O volume inaugural desta nova etapa na já longa vida da publicação foi coordenado por Zara Pinto Coelho e por Silvana Mota Ribeiro e tem o título genérico: “Género e Heterossexualidade – Discursos e Imagens na Publicidade e nos Media”.
Está disponível para download AQUI.
Luís António Santos
A Regulação dos Média em PT – 3 novos e-Books
No decurso do primeiro dia da Jornada de Doutorandos em Ciências da Comunicação e Estudos Culturais foram hoje apresentados, na Universidade do Minho, três ebooks elaborados no âmbito do Projeto de Investigação “A Regulação dos Media em Portugal: o Caso da ERC”.
As obras intituladas A Regulação dos Media na Europa dos 27, Cronologia da Actividade da ERC (2005-2011) e Digital Communication Policies in the Information Society Promotion Stage foram formalmente apresentadas por Helena Sousa e Moisés de Lemos Martins e estão, a partir de agora, disponíveis AQUI.
Luís António Santos
Um Dia com os Média
Convocar os cidadãos e a sociedade para refletir sobre os papel e o lugar dos media nas suas vidas é o objetivo da Operação Um dia com os Media, projeto que irá decorrer no próximo dia 3 de maio, dia mundial da liberdade de imprensa, com múltiplas iniciativas por todo o país.
Esta Operação surge num tempo em que as tecnologias e plataformas digitais permitem, como nunca, que os cidadãos se exprimam no espaço público, fazendo por isso sentido que o olhar crítico e participativo relativamente aos media seja, ele próprio, um exercício de liberdade.
Promovida pelo Grupo Informal sobre Literacia para os Media, esta operação congregará um vasto e variado conjunto de atividades concebidas e realizadas pelas mais diversas instituições, tais como bibliotecas, meios de comunicação, escolas, instituições do ensino superior, grupos de alunos, centros de investigação e formação, associações, universidades de seniores, movimentos, igrejas, autarquias e outras, glosarão o mote Um dia com os media: Que significado têm os media na nossa vida e como poderiam tornar-se mais relevantes?
São diversas as ações programadas, como sejam, programas de rádio e televisão, conferências, mostras, concertos, debates, projeção de filmes, concursos escolares, ações de formação, jogo lúdicos, ações de rua, entre outras.
A lista completa de ações pode ser consultada AQUI.
Toda a informação sobre a Operação pode ser encontrada AQUI.
Grupo Informal sobre Literacia para os Media
O Grupo Informal sobre Literacia para os Media é uma plataforma que reúne entidades públicas com missões no domínio da literacia para os media, sendo presentemente constituído por: Comissão Nacional da UNESCO, Conselho Nacional de Educação, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Gabinete para os Meios de Comunicação Social (GMCS) e Universidade do Minho – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.
Entre os muitos projetos desenvolvidos pelo Grupo, importa destacar o Portal da Literacia para os Media e o Congresso “Literacia, Media e Cidadania”, do qual resultou a “Declaração de Braga”.
O jornalismo ‘capturado’ – o caso da TDT
(No seguimento do post do Sérgio Denicoli)
O fim da televisão analógica é hoje assinalado com o desligar dos últimos 15 emissores. A autoridade que regula as telecomunicações, a Anacom, diz ter-se tratado de uma transição sem problemas, sendo que, nesta altura, quem se atrasou na mudança agiu com total conhecimento das consequências.
Muito podia ser escrito sobre esta atitude ‘se quiserem comam, se não quiserem ponham na borda’ de uma entidade pública que tem por missão assegurar a defesa dos interesses dos cidadãos mas este post surge por uma outra razão – o jornalismo que se faz (e fez) sobre este assunto de vital importância (sobretudo) para os mais frágeis na sociedade foi, salvo honrosas exceções (e importará aqui salientar o trabalho desenvolvido por alguns profissionais na RTP – Porto), de muito má qualidade.
Foi um jornalismo ‘repetidor’, um jornalismo ‘pé de microfone’, um jornalismo que semanalmente deu conta do ‘sucesso’ de uma transição cheia de problemas, porque pouco mais fez do que transcrever (sim, transcrever, em muitos casos, na íntegra) o que era dito pela Anacom nos seus comunicados.
Este jornalismo acomodado, este jornalismo ‘não me chateiem que eu já tenho problemas que cheguem’, que se percebe na notícia difundida esta manhã pela Lusa, descurou a complexidade social do assunto.
É um jornalismo pobre, descuidado e desinteressado.
Não nos serviu, enquanto comunidade.
No portal informativo do SAPO (propriedade da PT) temos esta manhã em destaque a notícia da Lusa (agregada na área temática ‘Tecnologia e Ciência’ e com base nas declarações da Anacom) mesmo ao lado de um anúncio da Meo (propriedade da PT) que nos avisa: ‘Prepare-se para a TDT‘. Se lá fizermos o clique vamos para uma página nova com as ‘soluções PT’.
Um leitor pouco atento podia até ser levado a pensar que o ‘problema’ TDT se resolve com a ajuda amiga da PT.
E, provavelmente, esse leitor desatento estará mais próximo da verdade do que imagina.
O ‘problema’ TDT ‘resolveu-se’ com a conivência dos operadores de televisão, com a anuência de dois governos, com a ‘certificação técnica’ da Anacom, com o desinteresse de um jornalismo tendencialmente amorfo e para benefício das atividades de TV por cabo.
Nâo ficou ninguém de fora, pois não?
Como dar sentido ao jornalismo?
Analisar o presente e o futuro do jornalismo nas sociedades contemporâneas é o propósito essencial de um debate que terá lugar no próximo dia 17 de Abril (terça-feira), às 14h30, no Auditório do Instituto de Educação (IE) da Universidade do Minho (UM), em Braga.
Subordinado ao tema “Como dar sentido ao Jornalismo?”, o debate procura juntar jornalistas, investigadores, docentes e estudantes de jornalismo, bem como cidadãos interessados, qualquer que seja a sua proveniência. A iniciativa, semelhante a outras que se têm realizado em diversas universidades do país, culminará com a elaboração de uma Carta de Princípios do Jornalismo em Portugal, assente nos diferentes contributos e reflexões recolhidos.
O debate na Universidade do Minho / Braga decorre no âmbito das jornadas anuais do Grupo de Alunos de Ciências da Comunicação (GACCUM) e contará com as participações de Adelino Gomes (jornalista), Gustavo Cardoso (investigador), Carlos Daniel (jornalista), Isabel Margarida Duarte (professora universitária) e João Gonçalves (estudante de jornalismo), além de docentes de Jornalismo da própria UM – Joaquim Fidalgo, Luís António Santos e Manuel Pinto.
Esta realização inscreve-se num projecto mais vasto, intitulado “Projecto Jornalismo e Sociedade” (PJS), lançado por uma equipa de investigação do CIES-IUL – Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE-IUL, Instituto Universitário de Lisboa, e que conta com os apoios das Fundações Gulbenkian, EDP e FLAD. Coordenado por Gustavo Cardoso (presidente do Obercom) e Adelino Gomes (jornalista), o projecto congrega, no seu Conselho Consultivo, representantes das principais universidades portuguesas onde se ensina Jornalismo e dos mais relevantes órgãos de Comunicação Social nacionais.
Aberto à participação de todos os interessados, este debate é uma organização conjunta do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) – Instituto de Ciências Sociais (ICS), e do Grupo de Alunos de Ciências da Comunicação (GACCUM) da Universidade do Minho.
O Fórum poderá também ser acompanhado à distância: através do browser ou através de um media player.
“Explicar um blog não era fácil”
Depoimento de Elisabete Barbosa, Diretora de Comunicação e Projetos, uma das fundadoras do blog:
Criar e manter um blog há 10 anos atrás era uma tarefa bastante mais difícil do que é hoje. Não existiam os serviços atuais, não era possível utilizar imagens facilmente e os sistemas de comentários tinham que ser integrados no blog (pelo menos para os utilizadores do Blogger).
Mas também era mais interessante e divertido. Conhecia-se toda a blogosfera portuguesa e ainda era possível acompanhar facilmente o movimento nos EUA e no Brasil. Cada novo blog português era celebrado por toda a comunidade e as notícias sobre cada “nascimento” entusiasticamente divulgadas por outros bloggers.
Estejam ou não moribundos, os blogs foram percursores importantes do atual panorama das redes sociais. Foram os primeiros sistemas de auto-publicação, um grande passo para a democratização da Internet, o momento em que deixou de ser necessário conhecer linguagens de programação para poder publicar.
Para mim, no entanto, a principal diferença entre manter um blog hoje e há 10 anos não está na tecnologia ou no conhecimento do meio. Reside no facto de, atualmente, não ser necessário estar constantemente a explicar o que é um blog. É que não era fácil.
Parabéns ao Jornalismo e Comunicação e a toda a equipa.
A democracia tem destas coisas: um like é um voto
A participação está na moda. Tão na moda que quem não participa não é cool, não está in. É democrático. É bonito. Mas merece ponderação. Digo eu. Haverá diferença entre escolher o nome para um novo iogurte ou decidir limitações ao trânsito no centro da cidade?
A democracia tem destas coisas. Se participamos, somos engajados e motivados, adquirimos de algum modo um grau extra de cidadania. Se não participamos e somos apenas cidadãos no número e no papel perdemos o direito moral à cidadania. Mas devemos questionar que tipo de participação é esta e que tipo de cidadania queremos e merecemos.
As instituições desdobram-se em acções, actuações e iniciativas para promover a participação, potencializada pela procura de formas alternativas nas novas tecnologias mas também no acesso deliberativo. É democrático. É bonito. Mas merece ponderação. Digo eu. Haverá diferença entre escolher o nome para um novo iogurte ou decidir limitações ao trânsito no centro da cidade?
Moralismos àparte, a participação tem a sua dose de perversão, não sendo a sua instrumentalização como legitimação do poder a menor de todas.

“A democracia é tão somente um mecanismo de mercado: os votantes são os consumidores; os políticos são os empresários.”
‘Bora lá ser pobre?
SPENT parece o nome de uma série televisiva do tipo Lost ou Perdidos na Tribo. Embora a experiência nos possa deixar um pouco perdidos, trata-se de um jogo online que simula a sobrevivência com mil dólares por mês, nos Estados Unidos. Fosse em Portugal e esta quantia daria para muito mais, mas cá aplica-se aos novos e velhos pobres, aos assumidos e aos envergonhados, às mais de 31% de famílias, segundo uns, um quinto dos portugueses, segundo outros, que vivem no limiar da pobreza ou abaixo dele.
SPENT faz parte de uma estratégia de comunicação que pretende chamar a atenção, receber donativos e envolver a sociedade e os membros do Congresso norte-americano — a quem também foi lançado o desafio de jogarem — para o que acontece aos milhares de pessoas normais (sim, pessoas como nós) que, subitamente ou num lento e devastador processo de agonia, se tornam dependentes, desempregados, sem-abrigo e desesperados. Desgastados financeira e economicamente, agastados social e emocionalmente.
SPENT coloca-nos o desafio de viver na pele de um recém-desempregado com um filho, que tenta arranjar emprego e chegar ao fim do mês vivo. Pelo caminho há várias situações que simulam a vida real, como ter que alugar uma casa mais barata, escolher entre pagar a conta do gás ou da electricidade, entre explicações para o filho ou pagar o seguro do carro, ou entre aceitar um casaco em segunda mão ou a ajuda da caridade. Mas também somos obrigados a fazer escolhas de carácter moral ou emocional, como entregar ao dono uma nota que este deixou cair ou assumir os estragos de um toque no parque de estacionamento.
Criado a partir da realidade americana por quem sabe do que fala (parece que a criadora, Jenny Nicholson, copywriter, viveu uma vida de privações), patrocinado pela agência de publicidade McKinney e pelos Urban Ministries of Durham, uma organização não governamental privada que se assume como “A community of support united for the greater good of all”, o jogo já foi jogado por mais de um milhão e meio de pessoas em 196 países e revela-se de uma enorme actualidade aqui e agora.
O seu senão é que a abordagem pseudo-lúdica à pobreza pode provocar o que a Technology Review chama “gamification of poverty”, fazendo parecer que esta é uma realidade distante, paralela ou meramente virtual, da qual nos podemos facilmente alhear. Basta não querer ver. Basta não jogar o jogo.
Se ainda não experimentou a sua capacidade de resiliência na vida real, teste-a aqui.
TDT: ponto(s) de não retorno
O trabalho do investigador do CECS Sérgio Denicoli sobre o processo de implementação da TDT em Portugal atingiu ontem o que se pode, justamente, considerar um ponto de não retorno. Emergindo de uma investigação de doutoramento que está a aproximar-se da conclusão, a pesquisa de Sérgio Denicoli permitiu identificar e escrutinar de forma evidente a incomensurável lista de infelicidades, disfuncionalidades e irregularidades de um processo de transição que, como foi ontem afirmado no Parlamento pelo Presidente da Comissão para a Ética, Cidadania e Comunicação, Mendes Bota, tinha tudo para ser “um sucesso”. Tinha, se tivesse observado as regras da democracia, que são as regras que, supostamente, se legitimam mediante a observação desse conceito chato (que diabo!) a que chamamos interesse público. O que não aconteceu no desgraçado processo português de transição para a TV digital, como ficou ontem, mais uma vez, demonstrado, levantando-se agora as mais legítimas suspeitas sobre todas as suas intrincadas complexidades. Isto sucedeu em plena Casa da Democracia. O que teve como consequência lógica o desafio que Sérgio Denicoli fez aos deputados.
O trabalho da investigação, seguindo a tradição de uma sociologia da acção que não se contém na elaboração de teses para consumo académico, coloca, pois, a esfera política perante a evidência de um processo que tem de ser rapidamente revisto, invertido e revertido a favor das pessoas a quem se destina. À política comete agora a obrigação da política. Foi esse o ponto de não retorno a que efectivamente se chegou: os deputados já não podem assobiar para o lado, fingir que não sabem de nada e continuar a vida como se nada se tivesse passado.
Quem acompanhou, através do Canal Parlamento (que já deveria estar a ser transmitido na plataforma TDT actualmente em operação, afinal de que é que se está à espera?), o colóquio e o debate que se lhe seguiu mas, acima de tudo, quem percebeu o teor das intervenções finais das diversas bancadas parlamentares, ficou, no entanto, com a inadmissível e desconfortável sensação de que o dossier pode ter atingido outro ponto de não retorno que não aquele que a evidência obtida pela investigação científica denunciaria: o de que o processo nasceu torto e de que nada pode, agora, ser feito para invertê-lo. Ou seja, nas entrelinhas das intervenções dos deputados (em especial, como é óbvio, dos que podem mudar algo, os do PSD, PS e CDS), que são, como sabemos, onde os discursos verdadeiramente se escrevem e se lêem, leu-se a possibilidade de nada vir a acontecer. A falácia, a verificar-se, é do domínio do monstro, qual fantasmagoria surgida de um apagão da democracia: na prática, significa a aceitação de transformação do Parlamento num sítio para lamentar, um sítio que se transmuta em caricatura de si mesmo pela distracção a que os deputados se devotam a mandar piropos uns aos outros, distribuindo inconsequentes galhardetes sob a forma de responsabilidades, do tipo: se o PS diz que é o actual governo que tem falta de estratégia para a TDT (ou para o que quer que seja), lá virão PSD e CDS argumentar que foi o anterior governo que elaborou todo o processo. E os eleitores (mas só aqueles que têm TV paga!) a assistirem, incrédulos, a todos estes sinais de fumaça.
Pontos de não retorno, portanto.
Act (2/02/2012): O debate foi, entretanto, disponibilizado na íntegra. Dois dias depois do debate e, diríamos, apesar do debate, em entrevista à RDP Antena 1, e insistindo particularmente nas referências ao investimento feito pela PT, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, recusou qualquer possibilidade de reabertura do processo da TDT, dando sinais de que, de facto, vingará a tese expressa neste “post” como receio de que se venha a confirmar o segundo ‘ponto de não retorno’. Com tudo o que isso implica.
Tudo à marretada!
Em Dezembro do ano passado, quando começou a ser feita nos Estados Unidos a divulgação do novo filme dos Marretas, o canal Fox News debateu o assunto com um especialista do Media Research Center (uma instituição que se descreve da seguinte forma: “proud to celebrate 25 years of holding the liberal media accountable for shamelessly advancing a left-wing agenda, distorting the truth, and vilifying the conservative movement.“) e no segmento foi dito que o filme não era mais do que uma tentativa de lavagem cerebral as criancinhas.
Para quem se habituou a uma existência menos exacerbada (uma descrição que englobará os habitantes da maioria dos países europeus) isto pode parecer totalmente bizarro.
Mas a questão é que de bizarro a natural…vai mesmo só um saltinho de pardal.
Fica aqui, por isso, em jeito de aviso a todos nós, a resposta que há dias Cocas e Miss Piggy deram à Fox News.
Brilhantes, estas polémicas em que o jornalismo parece enredar-se cada vez mais por estes dias, não são?
(o que me vale é que, pelo menos para já, com a benevolência da Srª Canavilhas, ainda posso ir trauteando sem receios de maior o “mana mana tu tu rururu”)…
“Um dia com os media”- operação nacional é apresentada hoje em Braga
É hoje apresentada publicamente, na Universidade do Minho, em Braga, a jornada “UM DIA COM OS MEDIA”, uma iniciativa de âmbito nacional que visa colocar os próprios media e a relação dos cidadãos com eles no centro das atenções, suscitando iniciativas orientadas para a reflexão e a ação.
Terá lugar no dia 3 de Maio, data em que, por iniciativa da ONU, se evoca a liberdade de Imprensa e de expressão. Num tempo em que, as tecnologias e plataformas digitais, permitem, como nunca, que os cidadãos se exprimam no espaço público, faz sentido que o olhar crítico e participativo relativamente aos media seja, ele próprio, um exercício de liberdade, num espírito positivo de contribuir para a melhoria dos media que temos.
O convite à participação autónoma e livre é dirigida a todos os que se sentirem interessados e motivados pela pergunta: “que significado têm os media na nossa vida e como poderiam tornar-se mais significativos?
O desafio é lançado a todo o tipo de instituições: bibliotecas, escolas, meios de comunicação, grupos de alunos, centros de investigação e formação, associações, universidades de seniores, movimentos, igrejas, autarquias, entre outros.
Relativamente aos meios de comunicação, há pelo menos três vertentes de participação: o trabalho normal de informação sobre a iniciativa, da forma entendida mais conveniente; a organização de iniciativas próprias que fomentem o contacto com os seus públicos, tendo como motivo os meios de comunicação; e, finalmente, a colaboração com iniciativas de outras instituições, quando para tal solicitados.
No conceito de meios de comunicação incluem-se, naturalmente os suportes clássicos – livros, jornais, revistas, rádio, televisão, cinema – mas igualmente os novos media, redes, plataformas e ambientes digitais – redes sociais, blogs, telemóveis, jogos. Todos configuram um ecossistema mediático que ganha em ser abordado também como um todo. A ideia não é focalizar apenas as tecnologias e os gadgets mas também os conteúdos, as orientações, as profissões, as políticas, os usos e as mudanças, bem como a relação com os quotidianos, os dramas e os sonhos das pessoas e das instituições.
As iniciativas devem partir ‘da base’. E, desejavelmente, deveriam inscrever-se, o mais possível, nas rotinas e objetivos de quem as toma. Haverá um site (www.literaciamediatica.pt/umdiacomosmedia) onde será possível registar e divulgar as iniciativas e conhecer o que outros estão a organizar, bem como um endereço de e-mail para contacto com os organizadores (umdiacomosmedia[arroba]gmail.com).
A iniciativa cabe a cinco instituições que têm vindo a trabalhar, de modo informal conjuntamente: Comissão Nacional da UNESCO; Conselho Nacional de Educação; Entidade Reguladora para a Comunicação Social; Gabinete para os Meios de Comunicação Social; Universidade do Minho/Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade