A entrevista televisiva: mais pode ser… menos?

Nos últimos anos, vem-se generalizando no jornalismo televisivo a entrega das entrevistas a grandes figuras do Estado, ou os grandes debates eleitorais, não apenas a um jornalista mas, muitas vezes, a dois ou mais.  Está ainda por demonstrar a vantagem, para o campo jornalístico e para o sucesso da sua produção discursiva mediadora, desta alteração do formato.

A leitura imediata é aparentemente favorável a esta situação: havendo mais jornalistas com possibilidade de fazer perguntas, há um alargamento do campo de possibilidades. No terreno das práticas, os jornalistas podem preparar melhor as questões, definindo e dividindo entre si os papeis que desempenharão, nomeadamente, na atribuição e desenvolvimento de questões relativas a áreas temáticas de generalidade ou de especialidade. Por outro lado, tratando-se da ocupação de um plateau televisivo, a presença de vários jornalistas pode indiciar uma vantagem semiótica de quem detém a função-pergunta, que é também quem detém a função mais geral de mediação e de representação do público. Mais representação e mais diversidade podem ser uma vantagem imediata. Será assim?

Julgo existirem algumas questões que, dentro de uma definição dinâmica do género entrevista, esta evolução do seu formato televisivo, nos coloca. Um dos problemas práticos, inerentes à sua própria execução em tempo real, das entrevistas conduzidas por mais do que um jornalista, é que nem sempre são fáceis de coordenar. A pré-coordenação, que comporta vantagens imediatas evidentes, já elencadas acima, pode esboroar-se nos próprios constrangimentos instantâneos do formato que colocam, directamente, em confronto, o estabelecimento do diálogo com o entrevistado com o limite temporal do formato.

Existem também, por um lado, o entrevistado e as dificuldades próprias que ele coloca (José Sócrates, por exemplo, era visto pelos jornalistas como “um animal político” por excelência, tornando-se cada entrevista televisiva em directo com o antigo Primeiro-Ministro um exercício que colocava, desde logo, os jornalistas, perante os seus mais íntimos receios de exposição de fragilidades próprias – em resumo, uma entrevista com alguém como Sócrates, era invariavelmente um exercício auto-intimidatório desde a fase de preparação) e, por outro, a própria necessidade de intercoordenação das questões e do seu sequenciamento temporal, dificultando o aprofundamento de qualquer estratégia dialógica, ou seja, a própria partilha do plateau com outro(s) jornalista(s) e a necessidade de respeitar as perguntas por ele(s) preparadas, tornam-se, muitas vezes, constrangimentos não totalmente previstos.
Assim, ao contrário do que possa parecer no imediato, o facto de uma entrevista de televisão ser conduzida por mais do que um jornalista não significará que haja uma vantagem final do lado jornalístico. Poder-se-á até especular e discutir a possibilidade de que a evolução do formato possa estar a gerar uma vantagem do lado dos entrevistados, porque lhes acabam por ser fornecidas, pela gestão do processo em tempo real, zonas de sombra, espaços maiores do que os inicialmente aparentes, para dominar a produção do discurso, transformando essas zonas de sombra em zonas de conforto, sabendo que dificilmente o formato os fará sair delas.

Um dos maiores problemas que se colocam ao campo jornalístico é que o grau de preparação técnica que uma entrevista, hoje, exige, nomeadamente no conhecimento dos intrincados assuntos da actualidade económica e financeira, restringe o campo de possibilidades dos jornalistas. Essa exigência é potencialmente geradora de um muito maior receio de errar, porque, desde logo, os meandros técnicos das questões permitem múltiplas linhas-de-fuga, ou seja, a própria especificidade temática constrói, também, para o entrevistado, zonas intersticiais, zonas de sombra.
Repare-se como, por exemplo, é em momentos posteriores de análise e opinião, que os jornalistas-especialistas que, muitas vezes, já se encontraram no papel de entrevistadores, se revelam particularmente cáusticos. Vimo-lo ontem, nas televisões, nos debates que se seguiram à entrevista de Pedro Passos Coelho à RTP.

Em tudo isto, há um outro problema de base: a entrevista televisiva, além de se inserir num género jornalístico amplo é, em si mesma, um formato próprio dentro desse género. Além do constrangimento do tempo, que não existe na entrevista para o jornal, por exemplo, a sua semiótica é muito mais complexa. Há jogos semióticos cruzados, produção de significações paralelas e variadas, que nem sempre têm relação directa com o discurso propriamente linguístico que está a ser produzido. A entrevista televisiva torna-se, assim, outra coisa. É um texto feito de múltiplos textos. Por isso, ontem e hoje, é possível lermos e escutarmos tanto sobre o conteúdo como sobre a forma. Diria mesmo que, em televisão, essa forma se torna, tantas vezes, mais decisiva do que o próprio conteúdo.

Leia-se, por exemplo, o modo como começa a análise da Estrela Serrano à entrevista.

Comunicação e Sociedade, vol. 21

A revista do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade deixou, este ano, de publicar-se em papel passando, agora, a estar disponível apenas em formato digital.
O volume inaugural desta nova etapa na já longa vida da publicação foi coordenado por Zara Pinto Coelho e por Silvana Mota Ribeiro e tem o título genérico: “Género e Heterossexualidade – Discursos e Imagens na Publicidade e nos Media”.
Está disponível para download AQUI.

Luís António Santos

A Regulação dos Média em PT – 3 novos e-Books

No decurso do primeiro dia da Jornada de Doutorandos em Ciências da Comunicação e Estudos Culturais foram hoje apresentados, na Universidade do Minho, três ebooks elaborados no âmbito do Projeto de Investigação “A Regulação dos Media em Portugal: o Caso da ERC”.
As obras intituladas A Regulação dos Media na Europa dos 27, Cronologia da Actividade da ERC (2005-2011) e Digital Communication Policies in the Information Society Promotion Stage foram formalmente apresentadas por Helena Sousa e Moisés de Lemos Martins e estão, a partir de agora, disponíveis AQUI.

Luís António Santos

Políticas para a comunicação digital – e-book

Já está disponível o e-book “Digital Communication Polices in the Information Society Promotion Stage”, editado por Sérgio Denicoli e Helena Sousa, investigadores do CECS e colaboradores deste blog.
Os artigos foram escritos por investigadores de Portugal, Reino Unido, Brasil, Grécia, Irlanda, Itália e Polónia. Entre os temas abordados estão a TV digital e Web TV, rádio digital, educação e cinema.
O download pode ser feito gratuitamente AQUI

Doutoramento em Ciências da Comunicação – candidaturas

Abrem, na próxima segunda-feira (21 de Maio), as candidaturas ao Curso de Doutoramento em Ciências da Comunicação da Universidade do Minho para o ano lectivo 2012/2013.

Actualmente com 110 alunos inscritos, o Programa de Doutoramento em Ciências da Comunicação abre, este ano, mais 20 vagas para estudantes nacionais e estrangeiros, recomendando vivamente que os estudantes que precisam de visto se candidatem na primeira fase de candidaturas que agora arranca.
Com cerca de duas dezenas de possibilidades de áreas de especialização, a edição 2012/2013 tem a novidade de permitir a dispensa da componente lectiva aos estudantes que têm percursos relevantes em termos de publicação científica.
Tal como tem acontecido no passado, o Curso de Doutoramento visa potenciar investigação científica original e capaz de dar resposta às necessidades de pesquisa fundamental e aplicada com particular incidência no país e no mundo Lusófono e ibero-americano. Os estudantes externos a estas áreas culturais terão acompanhamento tutorial nas respectivas línguas.

Um Dia com os Média

Convocar os cidadãos e a sociedade para refletir sobre os papel e o lugar dos media nas suas vidas é o objetivo da Operação Um dia com os Media, projeto que irá decorrer no próximo dia 3 de maio, dia mundial da liberdade de imprensa, com múltiplas iniciativas por todo o país.
Esta Operação surge num tempo em que as tecnologias e plataformas digitais permitem, como nunca, que os cidadãos se exprimam no espaço público, fazendo por isso sentido que o olhar crítico e participativo relativamente aos media seja, ele próprio, um exercício de liberdade.

Promovida pelo Grupo Informal sobre Literacia para os Media, esta operação congregará um vasto e variado conjunto de atividades concebidas e realizadas pelas mais diversas instituições, tais como bibliotecas, meios de comunicação, escolas, instituições do ensino superior, grupos de alunos, centros de investigação e formação, associações, universidades de seniores, movimentos, igrejas, autarquias e outras, glosarão o mote Um dia com os media: Que significado têm os media na nossa vida e como poderiam tornar-se mais relevantes?
São diversas as ações programadas, como sejam, programas de rádio e televisão, conferências, mostras, concertos, debates, projeção de filmes, concursos escolares, ações de formação, jogo lúdicos, ações de rua, entre outras.
A lista completa de ações pode ser consultada AQUI.

Toda a informação sobre a Operação pode ser encontrada AQUI.

Grupo Informal sobre Literacia para os Media

O Grupo Informal sobre Literacia para os Media é uma plataforma que reúne entidades públicas com missões no domínio da literacia para os media, sendo presentemente constituído por: Comissão Nacional da UNESCO, Conselho Nacional de Educação, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Gabinete para os Meios de Comunicação Social (GMCS) e Universidade do Minho – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.
Entre os muitos projetos desenvolvidos pelo Grupo, importa destacar o Portal da Literacia para os Media e o Congresso “Literacia, Media e Cidadania”, do qual resultou a “Declaração de Braga”.

Moisés de Lemos Martins presidente da CONFIBERCOM

O presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências da Comunicação e diretor do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Moisés de Lemos Martins, foi ontem eleito Presidente da CONFIBERCOM – a Confederação Ibero-americana das Associações Científicas e Académicas de Comunicação.
Com uma equipa que representa a maior parte das associações federadas nesta organização, Moisés de Lemos Martins sucede a Margarida Kunsch, que substituiu interinamente o primeiro presidente eleito, José Marques de Melo.
As eleições tiveram lugar no dia 13 de abril, durante a Assembleia Geral da CONFIBERCOM, que se reuniu em Quito, no Equador, por ocasião do I Fórum Integrado de Comunicação Ibero-americana.

“Explicar um blog não era fácil”

Depoimento de Elisabete Barbosa, Diretora de Comunicação e Projetos, uma das fundadoras do blog:

Criar e manter um blog há 10 anos atrás era uma tarefa bastante mais difícil do que é hoje. Não existiam os serviços atuais, não era possível utilizar imagens facilmente e os sistemas de comentários tinham que ser integrados no blog (pelo menos para os utilizadores do Blogger).
Mas também era mais interessante e divertido. Conhecia-se toda a blogosfera portuguesa e ainda era possível acompanhar facilmente o movimento nos EUA e no Brasil. Cada novo blog português era celebrado por toda a comunidade e as notícias sobre cada “nascimento” entusiasticamente divulgadas por outros bloggers.
Estejam ou não moribundos, os blogs foram percursores importantes do atual panorama das redes sociais. Foram os primeiros sistemas de auto-publicação, um grande passo para a democratização da Internet, o momento em que deixou de ser necessário conhecer linguagens de programação para poder publicar.
Para mim, no entanto, a principal diferença entre manter um blog hoje e há 10 anos não está na tecnologia ou no conhecimento do meio. Reside no facto de, atualmente, não ser necessário estar constantemente a explicar o que é um blog. É que não era fácil.
Parabéns ao Jornalismo e Comunicação e a toda a equipa.

Política científica em debate

A SOPCOM – Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação vai representar Portugal no I Fórum Iberoamericano de Comunicação, nos dias 11, 12 e 13 de abril, em Quito, no Equador, para apresentar um estudo sobre política científica em Comunicação em Portugal. 

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Refletir sobre o percurso das Ciências da Comunicação como área de conhecimento é o principal objetivo deste Fórum constituído no ano passado em São Paulo, por iniciativa da CONFIBERCOM – Confederação Iberoamericana de Associações de Ciências da Comunicação. Estruturado em três eixos principais, este encontro tem o intuito de problematizar a pós-graduação, a publicação em revistas científicas e a política científica nesta área de conhecimento em particular.

A delegação portuguesa neste fórum vai apresentar os dados preliminares de um estudo que fez o levantamento das 148 teses de doutoramento defendidas nesta área em Portugal entre 1990 e março de 2012 e analisou os 15 cursos que atualmente conferem o grau de doutor em Comunicação nas universidades portuguesas. Estimando que estarão em preparação cerca de três centenas de dissertações, este relatório patrocinado pela SOPCOM – Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação revela ainda que, em 11 anos, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia financiou 75 projetos coletivos de investigação científica e desenvolvimento tecnológico.

Com cursos de graduação de Norte a Sul do país (ainda que com especial concentração no litoral), quatro centros de investigação em Comunicação, pelo menos seis revistas científicas em papel (e oito online) e uma numerosa rede de jovens investigadores, o domínio das Ciências da Comunicação em Portugal é hoje, defendem os autores do relatório, um terreno fértil e de grande produtividade. Ainda assim, ao Equador os investigadores portugueses vão também apresentar os desafios que hoje se impõem ao campo: o desafio de auto-reflexividade e de afirmação no seio das ciências sociais e humanas; o desafio da sustentabilidade; o desafio da internacionalização e o desafio associativo.

Nota: sou coautora do relatório. 

A democracia tem destas coisas: um like é um voto

A participação está na moda. Tão na moda que quem não participa não é cool, não está in. É democrático. É bonito. Mas merece ponderação. Digo eu. Haverá diferença entre escolher o nome para um novo iogurte ou decidir limitações ao trânsito no centro da cidade?

A democracia tem destas coisas. Se participamos, somos engajados e motivados, adquirimos de algum modo um grau extra de cidadania. Se não participamos e somos apenas cidadãos no número e no papel perdemos o direito moral à cidadania. Mas devemos questionar que tipo de participação é esta e que tipo de cidadania queremos e merecemos.

As instituições desdobram-se em acções, actuações e iniciativas para promover a participação, potencializada pela procura de formas alternativas nas novas tecnologias mas também no acesso deliberativo. É democrático. É bonito. Mas merece ponderação. Digo eu. Haverá diferença entre escolher o nome para um novo iogurte ou decidir limitações ao trânsito no centro da cidade?

Moralismos àparte, a participação tem a sua dose de perversão, não sendo a sua instrumentalização como legitimação do poder a menor de todas.

É por isso que eu, que vivo no norte, acabo de participar numa decisão que não me diz respeito, votando no logo que servirá de imagem e identidade ao Orçamento Participativo de Lisboa 2012. Não me diz respeito porque, não vivendo lá, não tenho nada a ver com o assunto. Ou, sendo Lisboa a capital, talvez eu me me possa considerar uma cidadã de Lisboa, agora que todos somos cidadãos do mundo?
Isso não interessa nada. Eu participo porque posso. Eu e toda a gente que vá à página do Facebook “Concurso de Imagem Orçamento Participativo de Lisboa”. Um like é um voto. E um voto é uma tomada de decisão.
Ou talvez seja apenas o reforço de uma velha constatação:
“A democracia é tão somente um mecanismo de mercado: os votantes são os consumidores; os políticos são os empresários.”
Crawford Brough Macpherson in A democracia liberal: origens e evolução, 1977

É só fachada.

Agora que vem aí a Primavera chega-nos aquela vontade de renovar a vida, a casa e o mundo. Mesmo que seja só cosmética e no essencial fique tudo na mesma, mudar as almofadas do sofá ou fazer um novo corte de cabelo dá logo um ar mais lavado. A criatividade renova.

 Com a crescente dificuldade de cada vez mais famílias pagarem as hipotecas da casa, a Brainiacs from Mars, uma agência americana de marketing não convencional de alto impacto, lançou uma campanha, que é antes de mais nada de auto-promoção. Também tem o seu lado de responsabilidade social e oferece uma experiência positiva e envolvente ao consumidor, uma win-win situation. Seja qual for a etiqueta que lhe quisermos colocar, o que é certo é que tem dado que falar e consiste no seguinte: a Brainiacs paga a hipoteca da casa em troca do uso da fachada como espaço publicitário, durante os meses que durar o contrato, que pode ir de um mês a um ano. O interessante é que se compromete a voltar a pôr tudo num brinco, pintando o espaço usado com as cores originais. É uma espécie de Querido, mudei a casa, mas só por fora.

Neste negócio o cliente vende a alma ao diabo e sujeita-se à reacção adversa da comunidade de vizinhos, já que a pintura é em cores berrantes, mas ganha duplamente com o pagamento da hipoteca e com a renovação das paredes. Entre pagar a casa e mantê-la ou passar a vergonha, a escolha pode não ser fácil mas em tempo de guerra não se limpam armas. Quem quiser candidatar-se pode fazê-lo colocando fotos da sua casa na página do Facebook e preenchendo o formulário de candidatura. Para os que preferem uma relação mais personalizada, a agência propõe o  uso de uma t-shirt publicitária em troca do pagamento de três meses de hipoteca.

Que se saiba ainda não o fazem em Portugal, por isso talvez seja uma boa ideia para a renovação dos prédios decrépitos dos centros das cidades e uma solução de recurso para o ‘Querido, entreguei a casa ao Banco‘, previsível para todos os que se confrontam com esta possibilidade. E são muitos. Cada vez mais em Portugal. Segundo Tiago Mesquita no blogue 100 Reféns do Expresso,

“O número de pessoas que deixaram de pagar os empréstimos bancários aumentou 450%. Repito: 450%.”

Talvez seja um número suficiente para tornar uma campanha de renovação de fachadas rentável. Talvez um dia destes um banco pegue na ideia, faça um consórcio com uma marca de tintas e uma empresa de construção civil falida e comece a pintar as fachadas de novo, incluindo a sua, com cores fortes e vibrantes que nos façam acreditar. De novo.

Cantar de Gallo

A ver se nos entendemos: falar uma mesma língua significa, mais que partilhar um idioma, estar em perfeita sintonia cultural.

A recente acusação de racismo de um anúncio do azeite Gallo no Brasil, despoletada por uma colunista da Folha de São Paulo e que deverá vir a ser avaliada pelo organismo de auto-regulação da publicidade do Brasil (CONAR), chama a atenção para um facto que é muitas vezes esquecido num mundo globalizado onde todos podemos e devemos falar uma mesma língua.

A ver se nos entendemos: falar uma mesma língua significa, mais que partilhar um idioma, estar em perfeita sintonia cultural com o local e o momento. Falar uma mesma língua implica ter sensibilidade para as idiossincrasias do meio ambiente comunicacional, seja ele institucional ou pessoal, implique ele um cidadão ou um país inteiro. Falar uma mesma língua é antes de mais nada respeitar e compreender o outro.

O que aconteceu com o Gallo brasileiro, criado pela AlmapBBDO, uma das mais premiadas dos últimos anos, é uma infelicidade comunicacional. É a prova de que o humor é uma arma poderosa mas difícil de manusear, que quando usada sem bom senso provoca danos colaterais e, no mínimo, um sorriso amarelo numa marca que nos habituou, pelo menos desde 1989, a alguns dos mais belos spots publicitários da portugalidade anunciando, mais do que um azeite premiado, a nossa própria alma.

A Gallo é líder em Portugal, com 30% da quota do mercado, é a quinta maior marca mundial e vende para 47 países. Recentemente fez um restyling da sua imagem para estar mais perto dos consumidores contemporâneos, reinventando a tradição e propõe-se vir a ser a terceira maior marca mundial de azeite.

“Eu gosto muito de ouvir cantar a quem aprendeu, se houvera quem me ensinara quem aprendia era eu.”

Desde 1919.

Regulação dos Média em Portugal e na Europa

Nos dias 24 e 25 de Fevereiro, teve lugar o Seminário “Media Regulation: National and International Debates” no Museu Nogueira da Silva, Universidade do Minho, Braga.
Durante dois dias, a equipa do projecto de investigação “A Regulação dos Média em Portugal: O Caso da ERC” (CECS/FCT) esteve reunida num encontro que serviu para fazer o balanço do trabalho realizado até ao momento.
Estiveram presentes os consultores do projecto (Divina Frau-Meigs, Hannu Nieminen, José Manuel Paquete de Oliveira, Josef Trappel, José Rebelo, Tarlach McGonagle) e investigadores convidados que estão a colaborar no projecto: Alessandro D’Arma, Manuela Grünangerl, Laura Bergés e Núria Reguero.
Para além da análise detalhada do trabalho realizado pela equipa, o seminário centrou-se no desenvolvimento de um modelo de análise comparativa para a regulação dos media na Europa.

O que se perde no espaço público quando desaparece a edição impressa de um jornal

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Mal souberam da decisão do grupo Mediapubli de acabar com a edição em papel do diário espanhol Público, os trabalhadores do jornal consideraram que nem sequer fazia sentido levá-lo às bancas, editando mais dois números, até domingo. Assim, ao contrário do que previa o comunicado da Mediapubli, o periódico teve esta sexta-feira a sua derradeira capa.

O Público espanhol nasceu em 2007, tanto em papel como na internet, assumindo-se desde logo como defensor do “espaço público, do interesse público, do domínio público, da coisa pública, do investimento público, da saúde pública, da educação pública e do debate público” (ver aqui entrevista com os mentores do projecto). Um posicionamento político que nunca deixou dúvidas, e produziu ao longo de quase cinco anos de edições impressas, algumas capas verdadeiramente históricas do jornalismo espanhol, como a de 29 de Setembro de 2011, cujo tema único foi a greve geral no país vizinho. Ficou também famosa a recusa do jornal em fazer determinados tipos de publicidade, nomeadamente os anúncios de sexo que remetiam para possíveis situações de prostituição.

Temáticas e abordagens que, tal como afirmaram há um mês as centenas de signatários de um manifesto de apoio à continuidade do periódico (entre os quais diversas figuras da academia e das artes), colocaram o Público no mapa mediático como voz alternativa “ao discurso único veiculado pelo poder financeiro” e como “fórum de debate para as distintas sensibilidades da esquerda”.

Se é certo que a edição online se irá manter (o site do periódico é o quarto site de informação mais visitado, diariamente, em Espanha, com mais de 5.5 milhões de utilizadores únicos), porque é que, desaparecendo a edição em papel, se percebe uma perda, de facto, para o espaço público?

Temos perseguido em anteriores análises neste blogue, uma matriz que remete para a noção do visível, relacionando-a com um pensamento contemporâneo do espaço público, no qual se cruzam dois elementos conceptuais: o visível como superfície luminosa, e o movimento dos objectos que o percorrem. Utilizando essa matriz, diríamos que o facto de se sentir uma perda no espaço público se relacionará, precisamente, com uma falha no preenchimento do visível. Dir-se-á, em contraponto, que há muito maior visibilidade em 5.5 milhões de visitas diárias online do que nos pouco mais de 80 mil exemplares que circulavam diariamente nas bancas espanholas. Mas será assim, de facto?

Não nos parece que se possa falar do visível sem a noção de partilha, que é uma noção que se relaciona profundamente com o fazer-comunidade. E a partilha não pressupõe apenas uma mera coincidência espácio-temporal das condições de observação do visível, especialmente quando este apenas se compõe de objectos em movimento acelerado, que intensificam, individualizando, a relação com o observador. Falar de uma partilha do visível é descrever a possibilidade de uma estabilidade, tanto dos objectos como dos observadores. É nessa estabilidade, nessa imobilização dos objectos e dos seus observadores, que se radica a qualificação de algumas das capas do Público como históricas. Capas cuja presença e efeitos no visível vão, assim, muito além do número efectivo de exemplares impressos: só pode ser considerado histórico o que é, antes de mais, partilhável no seio de uma comunidade cultural.

Dir-se-á, alguma vez, o mesmo, da página de entrada do site do jornal, quando esta é sempre colocada visível por um dispositivo cinético que se baseia numa lógica de intensificação da visibilização individual, isto é, uma lógica que substitui, a todo o instante, o espectador pelo utilizador? 

A Rádio na frequência da Web

Está já disponível o vol.20 (2011) da revista Comunicação e Sociedade, recolhendo textos em torno do futuro da rádio em ambiente digital.
Madalena Oliveira e Pedro Portela, os organizadores deste número, dizem no seu texto de apresentação:
Repensar a rádio no actual contexto de uma sociedade digital, ou mais especificamente no contexto da web, impõe que se repense a sua relação com a imagem, mas também, de um modo mais generalizado, os termos do seu contrato de escuta. Se é verdade que a emissão tradicional se mantém de alguma maneira na web – que nessa medida é apenas um novo dispositivo de escuta, um novo receptor do sinal radiofónico -, também o é que a oferta associada aos sítios das emissoras na Internet exige uma redefinição da sua relação com os ouvintes.
Mais detalhes aqui (esclarecimentos e encomendas através deste endereço)