‘Tempos de antena’ sempre ajudam…

Os media (sobretudo os privados) às vezes queixam-se pelo facto de a lei portuguesa os obrigar a disponibilizar ‘tempo de antena’ em períodos de campanha eleitoral. É certo que a lei os obriga, mas também é certo que eles são pagos por isso. Recentemente, o “Diário da República” publicou os montantes que foram atribuídos às estações de televisão e de rádio a título de “compensação pela emissão de tempos de antena” na última campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. E os montantes não são nada de deitar fora, com a TVI a chegar quase ao milhão de euros:

– TVI: 965.331,00 euros

– SIC: 676.841,00 euros

– RTP: 509.018,00 euros.

Quanto às rádios de âmbito nacional, foram estes os valores atribuídos:

– Rádio Renascença (RR): 333.872,00 euros

– Rádio Comercial (RC): 147.227,00 euros

– Radiodifusão Portuguesa (RDP): 118.090,00 euros

Houve ainda compensações para várias rádios de âmbito regional, como a TSF  e a RRL/RCP (ambas com 37.449,30 euros), e a Rádio Altitude, a Clube Asas do Atlântico, a Rádio Clube de Angra e o Posto Emissor de Radiodifusão do Funchal (com 9.586,80 euros cada uma).

Com a crise que por aí vai em termos de receitas publicitárias, e com mais duas campanhas eleitorais no presente ano, os media audiovisuais vão ter neste tipo de compensações uma ajuda nada desinteressante… Só é pena que os jornais (actualmente o ‘elo mais fraco’ do nosso panorama mediático) não tenham direito também a qualquer apoio, eles que dedicam páginas e páginas aos debates eleitorais – e que não se importariam nada de ceder algum espaço a tempos de antena!

(Confirmação dos dados do “Diário da República” aqui e aqui).

Neo-naturalismo, será?

Primeira página d’O Jogo nesta quarta-feira.

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Mais um: José Vítor Malheiros

José Vitor Malheiros (JVM) vai deixar o Público nesta sexta-feira. Anuncia-o na sua crónica de hoje.  Continuará a ter o seu espaço semanal no diário, mas já não como jornalista ‘da casa’. Certamente que JVM vai continuar ‘por aí’, seja ou não a fazer jornalismo. O Público é que não fica o mesmo, à medida que vai perdendo os seus nomes de referência. Dir-se-á que é a lei da vida. Em certo sentido sim, mas a lei da vida é também a da renovação e da inovação. De outro modo será, antes, a lei da morte. Esperemos que assim não seja.

A coluna de JVM, na qual traça uma retrospectiva dos 20 anos em que trabalhou no jornal e aí exerceu diversos cargos de relevo, vale a pena ser lida, pelo que diz e, também, por não exprimir, pelo menos na aparência, uma atitude ressabiada. Transcrevo este excerto:

“E, finalmente, não poderia falar destes vinte anos sem falar do capitão que iniciou o que foi uma bela aventura, Vicente Jorge Silva, que nos ensinou a mim e a tantos outros a única maneira como sabemos fazer jornalismo: com honra e com paixão, usando do bom senso e sem abdicar do bom gosto, com rigor e ao serviço do público, com imaginação e com irreverência, com sentido crítico e sem subserviência perante nenhum poder. Nunca usei outra variante de jornalismo, nunca ensinei outra variante e, enquanto for jornalista, continuarei a gastar desta. É a única que conheço”.

PS – Continuo a não achar aceitável que os media informem tão mal acerca de si mesmos. Estes processos de saída de jornalistas ou de colunistas são um exemplo disso. Ou são os próprios a referir o facto, ou ficamos a saber por que os tempos/espaços que ocupavam se eclipsam. Como utilizadores (já não digo como subscritores) mereceríamos outra atenção.

ACT. (31.7): Sugere-se a leitura do post do António Granado “Quatro coisas (de muitos milhares) que aprendi com o José Vítor Malheiros“.

IAMCR ’10 apresentada no México

A conferência anual da IAMCR terminou esta sexta-feira, na cidade do México, com a apresentação da universidade e do país que, no próximo ano, recebem a mais internacional das reuniões académicas na área da Comunicação.

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O director do CECS, Manuel Pinto, e a directora do DCC, Helena Sousa (acompanhados pela presidente da associação, Annabelle Sreberny – à esquerda na foto), apresentaram a proposta de tema genérico, Comunicação e Cidadania, indicações logísticas e detalhes sobre a imagem da conferência, um projecto da Paleta de Ideias (empresa com a qual o DCC tem um protocolo de colaboração).

A apresentação terminou com este video promocional do país.

Detalhes sobre a conferência da IAMCR em 2010 vão poder, de agora em diante, ser consultados no site oficial ou seguidos através da conta no Twitter.

A hipótese de um ‘Glossário translinguístico de Ciências da Comunicação’

Os conceitos com que pensamos as problemáticas da comunicação não são sempre literalmente transponíveis para outras línguas. Esta foi a principal ideia defendida por Divina Frau-Meigs, esta manhã, numa sessão plenária do 2º dia do Congresso da IAMCR a decorrer na Cidade do México. Sugerindo assim que a língua em que habitualmente nos exprimimos configura os conceitos com que pensamos, a investigadora francesa defendeu a criação de uma espécie de ‘glossário translinguístico’ de Ciências da Comunicação. Este instrumento serviria assim para, de algum modo, padronizar os conceitos-chave do campo das Ciências da Comunicação e, dessa forma, permitir a transposição de estudos das línguas com que pensamos para as línguas em que precisamos de nos exprimir.

Do México, estendemos o debate aos visitantes deste blog, sintetizando-o nas seguintes questões: como continuar a valorizar as nossas línguas como pátrias do nosso pensamento num contexto em que os movimentos de globalização tendem a impor-nos o Inglês como língua global? Se a língua é a couraça da nossa identidade, como garantir as nossas identidades num contexto de imposta transfiguração linguística?

Conferência IAMCR ’09

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Começa já amanhã, na cidade do México, a conferência anual da IAMCR (contando com a presença de sete investigadores ligados ao Mediascópio).
O site oficial da conferência está aqui e vai ser possível acompanhar algumas sessões (sobretudo as plenárias) através de feed video e de feed audio.

Durante os trabalhos a Universidade do Minho será formalmente apresentada como anfitriã da conferência de 2010.

“Ponto Contra Ponto”

Eduardo Cintra Torres, no Publico, sobre o programa de Pacheco Pereira “Ponto Contra Ponto” (SIC-N):

” (…) O tratamento dado às notícias criticadas (algumas positivamente) é semelhante ao que JPP já faz na imprensa ou no Abrupto. Nesse sentido, alarga o público do seu trabalho habitual de metajornalismo. JPP tem razão em quase todas as suas críticas, que contribuem para a literacia metajornalística dos espectadores. Mas as qualidades de JPP – incansável trabalhador solitário, culto, perspicaz e corajoso – podem originar problemas ao programa. De facto, um programa de TV não é uma coluna de imprensa. A linguagem é audiovisual. Os seus dispositivos técnico e comunicacional implicam profissionais de várias artes.(…)”

“Felizmente, há a Net”

“(…)  Quanto menos plural for a informação ao alcance dos cidadãos mais medíocre é a cidadania e mais improvável a democracia. Pode, pois, dizer-se que a pluralidade é o critério fundamental da democracia. A cinzenta uniformidade dos media tradicionais e a proximidade da generalidade deles a interesses económicos e políticos (sendo que é quase sempre impossível distinguir uma coisa da outra) contribuem decisivamente para a pobreza da nossa democracia e do exercício da cidadania entre nós. Felizmente, há a Net. A Net, pela sua natureza aberta e esquiva a formas de controlo político ou económico, é hoje o espaço de pluralidade que os media tradicionais não são e, por isso, lugar por excelência da democracia participativa e do exercício da cidadania.(…)”

Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 16.7.2009

Gripe A e jornalismo: entre medo e informação

No dia em que o Público foi ouvir os primeiros quatro portugueses infectados com o vírus da gripe A (cf “A pandemia alastra, mas não há sinais de ser muito mortífera / Gripe A (H1N1): “Não é o fim do mundo apanhar isto. Já tive gripes bem piores”, trabalho de Catarina Gomes) vale a pena lançar algumas perguntas sobre o modo como os media estão a cobrir e acompanhar esta epidemia.

O assunto é complexo e controverso. Para os media, não lhe falta noticiabilidade. Seria impensável e inaceitável que não houvesse notícias regulares. As pessoas querem saber o que se passa e como a gripe evolui (assim como as medidas para a combater). Mas, em contrapartida, o exagero da cobertura – no destaque, no enfoque, na linguagem utilizada – pode provocar um efeito nefasto.
Os políticos lidam com processos deste tipo com pinças. Veja-se o cuidado que, sobretudo nas primeiras semanas, o Ministério da Saúde pôs na informação diária, através de briefings com os jornalistas. Só durante o mês de Junho, a ministra Ana Jorge esteve em antena, nos serviços informativos das televisões, mais de duas horas. Esse cuidado é, já de si, sequela da atenção mediática, mas é, ele próprio, indutor de uma atenção jornalística acrescida (bastará dizer que, só entre 24 e 28 de Abril passado, 14% das notícias televisivas foram dedicadas à gripe A, de acordo com dados divulgados pela Marktest).Swine flu and media
Numa perspectiva mais larga, é interessante citar dados de um vídeo difundido na Internet pela Fundação Gapminder, sediada na Suécia, segundo os quais só nos primeiros 13 dias de gripe A foram publicadas mais de 250 mil notícias sobre esta espécie de gripe (cf. tabela). A Fundação procura mostrar como o impacte desta doença, em número de mortes é infinitamente menor do que, por exemplo, a tuberculose que, no entanto, recolhe um índice reduzidíssimo de cobertura dos media.
Dado que, depois da onda de medos associada às primeiras semanas, se volta, agora, a desenhar cenários que poderão (ou não) ocorrer com o aproximar do Inverno, seria, no mínimo de esperar que os responsáveis das redacções e as estruturas associativas dos jornalistas estivessem a debater este assunto e, eventualmente, a equacionar algumas medidas de auto-regulação.
A prudência e as responsabilidades do jornalismo nesta matéria aconselhariam a que algo fosse feito. Estará?

Berlusconi, cidadania

Berlusconi_annonce_originaleHá cerca de um mês, Berlusconi apelava, num congresso de jovens empresários, ao boicote publicitário a jornais que desvendam os escândalos que o envolvem, particularmente La Repubblica. Houve quem reagisse e, através do Facebook, lançasse uma campanha de angariação de fundos para ocupar uma página deste diário a denunciar a situação. Em menos de três semanas a verba foi reunida, Não deu, apesar de tudo, para o tal anúncio de página inteira, mas permitiu aos autores do gesto dirigir-se aos líderes mundiais reunidos em Aquila, no dia do arranque da Cimeira do G8.

(Via Adscriptor).

A atracção pelo irrelevante

“O que é irrelevante exerce, como se sabe, um enormíssimo poder de atracção. Resistir-lhe parece ser uma tarefa impossível. É por isso que os media concedem, frequentemente, um tão abundante destaque a banalidades de todo o género. Um dia, as imagens que se difundem por todo o mundo são, por exemplo, as do Presidente dos Estados Unidos da América a matar uma mosca. Num outro dia, em todo o lado, há fotografias e vídeos de Cristiano Ronaldo com Paris Hilton. Alguns dias depois, a atenção nacional e internacional pode ser requisitada por dois dedos indicadores sobre a cabeça de um ministro do governo português. Os pequenos episódios insignificantes tendem a apropriar-se do espaço mediático, suplantando o que é dedicado ao que, de facto, é essencial. (…)”

Eduardo Jorge Madureira in Diário do Minho, 5.7.2009