Jornal argentino publica manual com regras para escrita na Web

É de um diário argentino o primeiro manual de redacção e estilo que dedica um capítulo inteiro à escrita jornalística para a Web. O jornal La Voz del Interior, da região de Córdoba, estabelece regras para os textos produzidos para o meio online. O manual diz:

“La hipertextualidad se asemeja al modo en el que funciona el pensamiento humano por asociación de ideas– y permite que los usuarios puedan elegir sus propios trayectos de lectura, abandonando el modo de lectura lineal que conocemos desde la invención de los tipos móviles para la imprenta, por Johannes Gutenberg, en 1440.

Para la narración periodística, debe contemplar una organización hipertextual ‘por capas’, ofreciendo al lector diferentes niveles de profundidad, añadiendo en cada nivel nueva información, contextualización, fotografías, audio, video, enlaces claramente identificados a fuentes originales y documentación sobre el tema.”

A informação é do e-periodistas. O manual pode ser lido aqui (em pdf).

Estatuto do Jornalista em Debate

As alterações ao Estatuto do Jornalista já foram discutidas na generalidade, na Assembleia da República (na passada sexta-feira), já foram sujeitas a pareceres da ERC e do Sindicato dos Jornalistas e comentadas pelas Federações Internacional e Europeia de Jornalistas, mas esta noite estarão ainda em debate no programa do Clube de Jornalistas que a 2: emite depois das 23h30. Nesta emissão vão estar Arons de Carvalho, deputado do PS, Fernando Rosas, deputado do Bloco de Esquerda, e Francisco Teixeira da Mota, advogado.

Algumas questões podem, neste blogue, ser apresentadas à discussão pelos ciber-leitores.

Vai Sócrates blogar?

Depois de Cavaco Silva ter inaugurado – no contexto nacional – uma nova forma de interagir com os eleitores durante uma visita ao exterior, o primeiro-ministro, José Sócrates, terá optado por uma estratégia em tudo semelhante.


Temos um site especialmente desenvolvido para o efeito (com direito a domínio autónomo e tudo), apresentando-nos uma série de recursos sobre a China, contemplando espaço para ‘videos’, ‘galeria de imagens’, ‘envie uma mensagem’ e – aqui estará a singularidade – um blog.
Diz-se no único texto ali publicado até agora (22h16 do dia 30):

Neste Blog pode encontrar os comentários e opiniões dos elementos da comitiva oficial ao longo da Visita de Estado à China.
Este serviço está disponível entre 30 de Janeiro e 4 de Fevereiro de 2007.

E será mesmo que José Sócrates bloga?

Encontrei a sugestão no Memória Virtual.

Complutense abre acesso

A Universidade Complutense de Madrid disponibilizou, de forma livre e gratuita, o acesso a uma parte considerável das suas revistas científicas.
Aconselha-se a visita.

Informação: Comunisfera

‘Informação’ é verbo

Durante uma conferência que terminou há dias em Valência, John Perry Barlow (que alguns conhecem como o responsável pelas letras dos Grateful Dead mas que outros identificam com a Electronic Frontier Foundation ou com textos fundamentais como ‘A declaration of Independence of Cyberspace‘ ou ‘The Economy of Ideas‘) deixou mais algumas provocações que importa assinalar:
(excertos colhidos por Pepe Cervera)

En una jerarquía el poder lo tiene quien guarda secretos; en una red el poder lo obtiene quien disemina información;
Información es un verbo; indica una interacción entre mentes. Si la información no fluye deja de existir;
El comunismo físico ha demostrado no funcionar; el puntocomunismo es el futuro.

Encontrei a sugestão original no Ciberescrituras.

Infotainment desportivo?

Olhar para as primeiras páginas dos principais diários pagos é, hoje, um exercício curioso.
Os jornais de informação generalista escolhem todos chamar, com grande destaque, ao rosto do jornal a ida de Pinto da Costa à Polícia Judiciária (dois deles – o Correio da Manhã e o Diário de Notícias – chegam mesmo ao ponto de ter escolhido as mesmas palavras para título).
O tema tem indubitável apelo jornalístico porque convoca para um só momento universos distintos como a gestão desportiva, o combate à corrupção, a aplicação da justiça ou até mesmo a exposição pública de recantos da intimidade de personalidades com visibilidade social.

Os diários desportivos também escolhem todos um mesmo tema para as capas de hoje – a anunciada chegada de mais um ‘craque’ para o Benfica.
O outro tema –  cujo ponto de partida é a actividade desportiva e que, como se disse, recolheu unanimidade entre os diários generalistas – tem direito a chamadas secundárias no O Jogo e no Record mas não encontrou espaço no A Bola.
Serão indesmentíveis os méritos do tal do David Luiz. Aceito.
Pode até vir a ser um Ronaldão! Muito bem.
Mas, se pensarmos nos diários desportivos como espaços jornalísticos, será fácil explicar as opções assumidas?
E se, porventura,  o que explica as opções são critérios que ultrapassam a esfera do jornalismo, não seria mais sensato redefinir o seu estatuto?

LA Times aposta na Internet

O novo editor do Los Angeles Times, James E. O’Shea, quer fundir a redacção da edição impressa com a redacção do site do jornal, e afirma que a mudança será “crucial” para garantir que o jornal se mantém economicamente viável. No discurso que proferiu há uns dias perante a equipa editorial, O’Shea apresentou os resultados de um estudo elaborado a nível interno com o objectivo de preparar a fusão, potenciando não apenas o número de leitores online como também de leitores em papel. Sem papas na língua, o editor afirma que o LA Times está a ficar para trás, no que respeita ao jornalismo na Internet, e apela aos restantes editores, jornalistas e fotógrafos no sentido de fazerem um esforço para dominar as tecnologias digitais, aplicando-as ao seu trabalho:

Latimes.com will become our primary vehicle for breaking news 24 hours a day. Reporters now enter the newsroom and tell editors what kind of a story they will write for the newspaper the next day.
Then — we tend to think what can we do for the Internet, as if it were some kind of journalistic orphan.
That kind of thinking must change if we want to remain competitive.
We need to enter the newsroom and think about how we are going to break news on the Internet.
And then what we are going to do that will be different for the newspaper, which will become an even stronger vehicle for tightly-written context, analysis, interpretation and expertise.
(…) The newspaper is the edited medium, the place where we make choices about what is crucial to a story and what is not, where we use our sources and expertise to make editorial decisions that save our readers time, that capitalize on our journalistic experience and expertise to help people negotiate a tricky and confusing world, where we focus on the personalities behind the news and where we exercise literary and journalistic discipline to tell people what we think they need to know and not necessarily everything that we as journalists know about a subject.

Publicidade: revistas tiveram ano fraco nos EUA

O site Journalism.org publicou há dias um balanço do que foi 2006 para o segmento de revistas de informação geral nos EUA, no que diz respeito às vendas de espaço publicitário, e o resultado não é muito animador.

Overall, the broader trends in the industry appear to be a cause for concern. Time’s ad pages are down in the territory they were in early 1990s. U.S News’s ad pages are below where they were throughout the 1990’s. Newsweek’s are down to where they were in late 2001, after the 9/11 attacks.

Quanto ao tipo de anunciantes, a indústria farmacêutica e o sector de vendas a retalho foram os mais activos, tendo-se verificado uma quebra no número de anúncios publicados pela indústria automóvel.

Nove mil ou vinte mil?

Uma coisa é a posição que cada um possa ter relativamente à pergunta que é colocada aos portugueses no referendo sobre a despenalização do aborto, no próximo dia 11, e outra, bem diferente, é o rigor que se exige nas notícias acerca das iniciativas relacionadas com esse referendo.

Organizações ligadas ao “não” promoveram ontem uma “caminhada” em Lisboa. Que nos dizem os jornais de hoje acerca da participação nessa iniciativa?

– Segundo dados das autoridades policiais, terão participado entre oito a nove mil pessoas;

– De acordo com os promotores, esse número situar-se-ia em mais do dobro: à roda de 20 mil.

– Sendo dados tão díspares, apenas o Correio da Manhã e o Diário de Notícias nos disponibilizam os cálculos de ambas as fontes; ou seja o Público e o Jornal de Notícias apenas nos dão os dados da polícia (o JN escolhe o assunto para título da peça: Oito mil pessoas marcharam pelo ‘não’ em várias artérias de Lisboa“)

– O Correio da Manhã é o que transmite mais “calor” na reportagem do acontecido, a começar desde logo pelo lead (“milhares de pessoas (…) que durante duas horas e meia não se cansaram de entoar canções e fazer rimas ‘a favor da vida'”. O DN não deixa de passar a mensagem de que os dados da polícia sobre o número de manifestantes são mais credíveis do que os dos promotores (“foram milhares – oito a nove mil pelas contas da polícia, embora a organização tenha apontado 20 mil”).

– Quantos participantes teve a manifestação? Será que os organizadores puxaram os números para cima? Será correcto, como por vezes se ouve, que a verdade dos dados estará algures no meio? Mas: a polícia teria alguma razão especial para calcular por baixo? E não seria viável um cálculo, ainda que por alto, que nos desse a ideia de que a realidade dos factos se aproximava mais dos números policiais ou, pelo contrário, dos dos promotores?

– Em resumo: uma manifestação com oito ou nove mil pessoas é bastante diferente de uma com 20 mil, nos tempos que correm. E aí também se apreende o significado do evento. Dando-nos duas cifras completamente disparatadas ou fornecendo-nos apenas uma versão dos números, será que ficamos informados do que se passou?

A questão da primeira página

“A dúvida instalou-se, na semana que finda, na sociedade portuguesa: Fabrizio Miccoli está gordo? O diário A Bola de quinta-feira concedeu a esta questão toda a primeira página. As cinco minúsculas chamadas de atenção para uns assuntos irrelevantes relacionados com o Sporting Clube de Braga, o Futebol Clube do Porto, o Sporting Clube de Portugal, o Chelsea Football Club e para uma opinião de uma colunista sobre o segredo de justiça passavam completamente despercebidas perante a dramática interrogação e exclamação do jogador do Sport Lisboa e Benfica: ‘Gordo, eu?!’ (…)”

Eduardo Jorge Madureira, in Diário do Minho, 28.1.2007

“Isto anda tudo ligado”

A vida pública está animada. Até a preparação do referendo sobre o aborto, que em princípio bastaria para atrair as atenções, parece relegada para um plano de menor importância. A Câmara de Lisboa, outras câmaras, a menina ‘adoptada’, o futebol, a corrupção e as obras ocupam as primeiras páginas dos jornais e as aberturas dos noticiários. Todos os condimentos estão disponíveis: afectos, dinheiro, clubes e partidos. Parecem ‘um amontoado de imagens quebradas’, sem nexo nem denominador comum. À primeira vista, a vida de todos os dias. Mas não. ‘Isto anda tudo ligado’. (…)

António Barreto, in Público, 28.1.2007

Provedor do leitor: dez anos depois

Faz precisamente hoje dez anos que o jornalista e professor Mário Mesquita publicava, no Diário de Notícias, a sua primeira coluna como provedor do leitor, inaugurando, assim, a função na imprensa de informação geral, no nosso país. Menos de um mês depois, o Público adoptava a mesma figura, designando para o cargo o jornalista Jorge Wemans, hoje director do canal Dois, da RTP.

Dez anos passados, é tempo de fazer um ponto de situação. Valeu a pena? Tem valido a pena?

Pessoalmente, entendo que tem sido uma experiência importante: talvez mais do que credibilizar o jornalismo, ela tem permitido abrir canais de contacto e de comunicação para os comentários e reclamações dos leitores (e, desde o ano passado, dos radiouvintes e telespectadores da rádio e televisão públicas). Nesse sentido, a existência da função inscreve-se numa tendência mais ampla que caracteriza os grandes media dos nossos dias: a abertura de múltiplas formas de interacção com os destinatários do jornalismo.

Considero que a função está longe de se encontrar consolidada nos media que a incorporaram. Um sinal disso mesmo é a descontinuidade que se tem observado na nomeação dos novos titulares, quando os anteriores cessam funções. Continua a haver resistências nas empresas e entre os jornalistas e as dificuldades económicas para assumir os encargos constituem argumento por vezes invocado. Mas a experiência que vivi no JN leva-me a pensar que há também, do nosso lado de cidadãos, uma grande responsabilidade neste processo: porque ficamos calados, porque exigimos pouco, porque, ainda quando exigimos, somos mais dados a criticar do que a aplaudir trabalho bem feito; reagimos quando nos tocam directamente na pele, mas emudecemos quando os media ferem a colectividade de que somos parte.

Mas entendo que se deveria aproveitar a oportunidade para reflectir, não isolando a função de provedor e os modos diferenciados como tem sido exercida do processo mais vasto de mudança – há quem prefira: de crise – que vive, hoje, o jornalismo.

JN: prover ou não prover

Por estes dias completa-se um ano sobre a data em que o então titular do cargo de provedor do leitor do Jornal de Notícias – por acaso o subscritor desta nota – publicou a sua última coluna naquele jornal.Um ano não bastou para que a situação tivesse sido ultrapassada: ou o jornal se cansou /desistiu de continuar a alimentar a função ou não conseguiu encontrar a pessoa adequada para a exercer.

Faltaria à verdade se não dissesse ter tido conhecimento de alguma tentativa para encontrar sucessor. Mas um ano é, convenhamos, muito tempo. E indicia que o jornal, se não desistiu, pelo menos hesita. E se hesita era importante, em nome da relação com os leitores, que esclarecesse a sua posição ou que debatesse as suas dúvidas. Fazer-se esquecido (e, ainda por cima, mantendo no seu site a ideia de que existe um provedor que não exerce) é que não faz muito sentido.

O debate pode ter várias direcções possíveis, todas elas importantes: continua a fazer sentido a função? Poderá, eventualmente, ser exercida de outro(s) modo(s)? Deve assumir um perfil de ajuizamento sobre o trabalho dos jornalistas ou uma função mais pedagógica que promova a auto-vigilância dos jornalistas e qualifique a participação dos cidadãos? Fará sentido haver um perfil único de provedor quando os media são diversos? Como articular as funções de provedor com as novas modalidades de interacção com os utilizadores da informação que a web hoje possibilita?

Ao leitor a palavra.

Conteúdos online vão render + 400% até 2010

Um estudo elaborado para a Comissão Europeia indica que, até 2010, os rendimentos com conteúdos online devem totalizar 8,3 mil milhões de euros, o que significa um crescimento de cerca de 400 por cento por cento nos próximos anos.
O sector dos jogos retirará da rede cerca de 33 por cento do seu rendimento total; a música online significará 20 por cento do volume de negócios da indústria.
O estudo completo está aqui.

Media Work – Mark Deuze (Set07)

O mais recente trabalho do prolífico Mark Deuze está pronto e deverá estar chegar aos escaparates em Setembro deste ano (muito antes disso, esperamos, a revista Comunicação e Sociedade deverá publicar um texto original seu, intitulado “O Jornalismo e os novos meios”).
Com o nome genérico “Media Work” o livro observa o funcionamento das profissões ligadas aos universos da publicidade, jornalismo, produção de filmes/TV e desenvolvimento de jogos.
Alguns dos conceitos-chave que Deuze trabalha:

os media como instituições habitadas
a cultura da  convergência
indústrias culturais
efeito ampulheta
redes globais de produção
nova divisão internacional do trabalho cultural
grupos de trabalho semi-permanentes
ecologias de projecto hetero-hierárquicas
autenticidade manufacturada
narcisismo das pequenas diferenças