Os media e o debate público sobre a revisão curricular

Quando se reforma aquilo que as crianças e adolescentes estudam na escola, isso deveria fazer soar as campaínhas nas redações. É um assunto que afeta dezenas ou centenas de milhares de portugueses e, em boa verdade, não é assunto de somenos.  Contudo, a avaliar por aquilo que tem vindo a público, desde que, no final de 2011, o ministro Nuno Crato colocou em discussão pública uma proposta de revisão curricular para os ensinos básico e secundário, o que os media fizeram foi, globalmente, insignificante. O prazo termina hoje.

A performance do jornalismo e dos media nesta matéria deixa, pois, a desejar. E, no entanto … a matéria merecia mais atenção. Desde logo porque o Governo quer dar realce a conhecimentos e disciplinas “fundamentais”, mas com uma noção daquilo que é fundamental que pode constituir em termos de futuro um retrocesso e um desastre educativo e cultural. Ninguém de bom senso recusará que a aprendizagem das línguas, da matemática, das ciências ou da história seja fundamental. E porque não hão-de ser fundamentais as artes? Dito de outro modo: quem garante que não se amputa gravemente a formação básica dos portugueses desinvestindo nas expressões artísticas e na formação do gosto? E por que carga de água dessas dimensões hão-de ficar excluídos os filhos dos segmentos mais pobres da população?

Outro exemplo: ao dar-se uma machadada na formação cívica e/ou na educação para a cidadania (já denunciada tanto pelo Provedor de Justiça como pelo Conselho Nacional de Educação e pelas Associações de Pais), não se estará a comprometer gravemente a formação básica dos cidadãos, contrariando, de resto, o que preconiza a lei de Bases do Sistema Educativo? Será esta uma matéria secundária? Não mereceria estar não digo acima, mas ao mesmo nível das restantes matérias? Se os outros países estão a valorizar componentes da formação dos alunos que sublinham não apenas os conteúdos, mas os processos de aprendizagem e os contextos de participação das crianças e adolescentes, será Portugal algum caso raro para adotar um caminho solitário e porventura sem saída? Se a Comissão Europeia tem vindo a incentivar a inclusão de componentes que ajudem os alunos a a abordar critica e criteriosamente o “tsunami” informativo com que hoje se deparam – nos planos da pesquisa, avaliação, validação, tratamento e utilização dessa mesma informação, não considerará o Governo que esta é, nos tempos que correm, uma dimensão essencial e que provavelmente para a maioria, nenhuma outra instituição está capaz de a tratar como a escola? E ajudar a compreender o mundo atual, e o modo como os media o tratam, representam e difundem? Não será crucial essa literacia para os media, na formação básica dos cidadãos?

Pela leitura das propostas ministeriais, não é.  Pelo modo como correu o debate público, também não é. Pela passividade e desinteresse dos media, é-o ainda menos.

Não me venham dizer que é por causa da crise. Por este tipo de situações e de desafios também passa a resposta que podemos dar à crise. E respostas originais. Ou não?

Tudo à marretada!

Em Dezembro do ano passado, quando começou a ser feita nos Estados Unidos a divulgação do novo filme dos Marretas, o canal Fox News debateu o assunto com um especialista do Media Research Center (uma instituição que se descreve da seguinte forma: “proud to celebrate 25 years of holding the liberal media accountable for shamelessly advancing a left-wing agenda, distorting the truth, and vilifying the conservative movement.“) e no segmento foi dito que o filme não era mais do que uma tentativa de lavagem cerebral as criancinhas.

Para quem se habituou a uma existência menos exacerbada (uma descrição que englobará os habitantes da maioria dos países europeus)  isto pode parecer totalmente bizarro.
Mas a questão é que de bizarro a natural…vai mesmo só um saltinho de pardal.
Fica aqui, por isso, em jeito de aviso a todos nós, a resposta que há dias Cocas e Miss Piggy deram à Fox News.

Brilhantes, estas polémicas em que o jornalismo parece enredar-se cada vez mais por estes dias, não são?

(o que me vale é que, pelo menos para já, com a benevolência da Srª Canavilhas, ainda posso ir trauteando sem receios de maior o “mana mana tu tu rururu”)…

O que é, ou não é, jornalismo?

A edição deste domingo (29/1/12) do PÚBLICO traz-nos dois exemplos muito interessantes – um de jornalismo no seu pior e outro de jornalismo no seu melhor. O curioso é que, em minha opinião, o jornalismo “no seu pior” é da autoria de uma (re)conhecida jornalista e o jornalismo “no seu melhor” é da autoria de três jovens, cidadãos portugueses empenhados na vida colectiva, autores de um singelo blogue.

A peça jornalística assinada por São José Almeida, e que deu a manchete ao PÚBLICO (“Cavaquistas defendem saída de Vítor Gaspar do Governo“) é, em meu entender, jornalismo “no seu pior”, embora assinado por uma jornalista reputada (e por quem, aliás, há muitos anos tenho enorme consideração). Mas a verdade é que se trata, como já foi notado pela perspicaz Estrela Serrano no seu Vai e Vem, de uma óbvia consequência da operação de contra-ataque feita pelos “homens do presidente”, no final da semana “horribilis” de Cavaco Silva. É “spin” no seu melhor (como já na véspera se tinha visto no Expresso…), procurando fazer de Cavaco o bonzinho, preocupado com os pobres, os pensionistas e a classe média, contra os mauzões ultra-liberais do Governo de Passos Coelho. E a jornalista do PÚBLICO farta-se de explicar essa tese, sem NUNCA adiantar o nome de uma fonte sequer, sem NUNCA nos dizer quem são esses tais cavaquistas que pensam isso que diz que pensam, sem NUNCA se dignar identificar qualquer um dos autores de tais opiniões (um dos preceitos básicos da deontologia jornalística é que as opiniões têm sempre de ser atribuídas, nunca podem ser anónimas ou confidenciais…). O autor, oculto, de todas estas opiniões pode perfeitamente ser o próprio Cavaco, bem escondido e sem rabo de fora!

No mesmo jornal, um trabalho do repórter Luis Francisco sobre os autores do blogue “Má Despesa Pública” dá-nos um exemplo notável de como, mesmo não se sendo jornalista, se pode fazer… excelente jornalismo. Três jovens decidiram passar a estar atentos a todas as publicações oficiais (e obrigatórias) sobre as despesas feitas por entidades públicas, nacionais, regionais ou locais, e passar a publicar no seu blogue, sem grandes comentários, os exemplos confirmados de desperdício do dinheiro de todos nós. Tão simples quanto isso… Mas não é uma das actividades que deveria caber a todo o jornalismo que se preza – ou seja, servir de vigilante atento de eventuais desvios e abusos dos poderes que nos regem e, em consequência, denunciá-los para que todos os conheçamos? Jornalismo no seu melhor – mas, infelizmente, algo cada vez mais raro nos meios… jornalísticos! Sempre custa menos dinheiro, menos esforço e menos mão-de-obra ouvir ao telefone um ou dois “spin doctors” com uns recados e umas opiniões convenientemente anónimas, e escrever uma página inteira de jornal como se fosse a grande investigação da semana…

(P.S. O trabalho sobre o blogue “Má Despesa Pública” só está disponível on-line  para assinantes do PÚBLICO. Quem não o for, só pode ler o texto no papel. Sorry…)

Da inovação que não há sobre a “inovação” que, supostamente, há

A RTP Informação dedicou, na sexta-feira, um dia inteiro à inovação. Neste sábado, a partir de uma conferência-debate que organizou, o DN veio esclarecer, entretanto, que “inovar não basta: é preciso ser empreendedor e exportar”

O tema da inovação é recorrente na agenda dos media, a própria palavra é um dos fetiches da comunicação contemporânea, surgindo constantemente utilizada e reciclada para reutilização. E, como fetiche constantemente realizado, o que nele sobra em excitação, falha em compreensão.

Centremo-nos, apenas,  no questionamento da inovação sob o ponto de vista das relações de domínio do espaço comunicacional: de facto, além de recorrente, a inovação surge recorrentemente tratada, isto é, o discurso que se produz, não só nos media mas também nas esferas política e académica, é invariavelmente fundado numa repetição que associa inovação a tecnologia, e nesta, a economia. Isto é, trata-se o inovador como concretização prática do que é novo no território do objecto. Tal como denuncia o DN, a inovação pouco valor parece ter como conceito subjectivo, ou seja, quando se situa apenas no território da ideia e, aí, na teoria, na reflexão, na sua complexidade matricial, se não se puder tornar coisa concreta, objectivada, simplificada, aplicável, visível.

A preocupação que daqui emerge, para todos os que têm de conjugar a sua acção nos campos da investigação científica e da comunicação terá, pois, a ver com o efectivo valor da ciência que se faz e da ciência que é necessário fazer, quando se sabe que as estratégias para a comunicação de ciência estão já, de certa forma, reféns deste esquema discursivo, que se impõe como jogo e regra de jogo. Que espaço sobra, pois, à ciência que contém um potencial de inovação no território das ideias, do confronto de complexidades e dúvidas, ou seja, uma ciência fundada na questão, se existe, a montante e a jusante dos seus processos fluidos, a certeza de que a única ciência mercantilizável nos espaços comunicacionais, é a ciência que se fixa no poder imediato da resposta?

Sendo, simultaneamente, observadores extrínsecos e intrínsecos à academia, quer parecer-nos que esta viverá, hoje, mais do que nunca, sob o jugo deste paradoxo. O que a fragilizará cada vez mais como locus de produção de conhecimento e a pode reduzir a uma mera fábrica de saberes empiricamente aplicáveis, cujo fim será sempre o da utilidade e utilização imediatas (há dias, esta preocupação surgia expressa numa entrada de Manuel Pinto, a propósito da denúncia de Hermínio Martins de um “frenesi do articulismo” na actual produção académica).

E assim, ao falarmos da inovação como esquema discursivo que produz ideias dominantes no espaço comunicacional, podemos estar a falar, afinal, da sua efectiva negação.

Porque se gere ainda o conhecimento numa lógica de escassez?

A publicação de trabalhos académicos em revistas avaliadas por pares e listadas de acordo com fatores de impacto que não são claros, que privilegiam substancialmente algumas áreas específicas e que permanecem, no essencial, inalterados há muitos anos está a ser, cada vez mais, entendida por um número alargado de académicos como um impedimento ao avanço do conhecimento.
Há quem argumente que uma circularidade maligna impera: desde que os grandes journals – já dificilmente acessíveis a não fluentes em inglês, sobretudo em áreas para além das chamadas ciências exatas –  passaram a integrar listas ordenadas de ‘valia acrescida’ usadas por quem avalia carreiras académicas individuais e coletivas tornaram-se ainda mais inacessíveis, com um poder nada saudável de decisão sobre o que é ou não relevante.
Estes journals – e, como se mostrou aqui há dias, alguns deles estão longe de ter comportamentos eticamente aceitáveis – são praticamente ‘donos’ do conhecimento científico (PS, em 29.01: E querem solidificar ainda mais esse seu poder, forçando a aprovação de leis que lhes garantam rendimentos diretos a partir de fundos estatais).
Por estranho que pareça esta é a realidade em 2012, num tempo em que a web é já um espaço maduro de oportunidade para a disseminação de conhecimento.
O que impede as mudanças?
Entre as razões significativas, a fraca adesão da generalidade dos académicos a projetos ‘abertos’ e, sobretudo, a anacrónica lógica de avaliação imposta pelas entidades que contabilizam (o processo é cada vez mais quantitativo – como se de ‘produção de sapatos’ se tratasse) o que é feito.

Vem toda esta conversa a propósito de três posts de Doug Belshaw cuja leitura recomendo: Um, Dois, Três.

De um deles retiro, com a devida vénia, uma citação de Zygmunt Bauman:

To find a new enlightening and inspiring idea (as distinct from finding a recipe for getting safely through the peer-built barricade), browsing through thousands of journal pages is all too often called for. With my tongue in one cheek only, I’d suggest that were our Palaeolithic ancestors to discover the peer-review dredger, we would still be sitting in caves…

Uma fronteira de censura no mundo global e virtual

Um bom artigo do The Guardian. Um sinal do que o futuro online nos reserva:

“Twitter has refined its technology so it can censor messages on a country-by-country basis.

The additional flexibility announced on Thursday is likely to raise fears that Twitter’s commitment to free speech may be weakening as the short-messaging company expands into new countries in an attempt to broaden its audience and make more money.

But Twitter sees the censorship tool as a way to ensure individual messages, or tweets, remain available to as many people as possible while it navigates a gauntlet of different laws around the world.

Before, when Twitter erased a tweet it disappeared throughout the world. Now, a tweet containing content breaking a law in one country can be taken down there and still be seen elsewhere.”

Por questões de direitos do autor, republiquei apenas um trecho do texto. Mesmo que a reprodução de conteúdos na Internet ainda seja tecnologicamente possível, achei melhor deixar um link aqui para quem quiser ler o artigo completo.

Pluralismo nos media … ainda

O pluralismo nos media continua na ordem do dia. As preocupações europeias centram-se na Hungria, cujas recentes alterações legais, que limitam a liberdade de imprensa no País, levantam muita contestação interna e externamente. A nível da Comissão, a questão parece colocar-se apenas no plano dos princípios porque, de facto, a União Europeia não dispõe de muitos meios para intervir, fruto de muitos anos de políticas ausentes nesta matéria. Continuar a ler

Liberdade também na blogosfera

A liberdade de expressão, defendida pela organização Jornalistas sem Fronteiras, não é apenas uma questão de imprensa. A libertação do blogger egípcio Maikel Nabil Sanad, preso desde Março de 2011, também é motivo de contentamento.

Liberdade de Imprensa

A organização Jornalistas Sem Fronteiras publicou a última edição do Índice de Liberdade de Imprensa. Portugal está em 33º lugar, abaixo de países como Namíbia, Mali e Nigéria. Ainda assim, parece que melhoramos face ao último índice.

A rádio e a ubiquidade por excelência

ImagemReunindo textos de 14 autores, o livro Radio and Society: new thinking for an old medium – que acaba de ser lançado pela Cambridge Scholars Publishing – considera que a rádio não apenas sobreviveu aos desafios da Internet como tirou proveito das suas vantagens para se expandir ainda mais como o mais ubíquo de todos os meios. Na nota de introdução, o editor reconhece que a rádio continua a enfrentar desafios críticos, mas admite ao mesmo tempo que a rádio é ainda encarada como um meio poderoso, influente e capaz de produzir mudança social e proveito comercial. Num campo habitualmente menos favorecido em termos de produção científica, este livro parece ser obrigatório para refletir sobre um meio que, diz o editor, «ainda está aí, ainda é interessante e importante e ainda se está a desenvolver».

TDT: quem parte e reparte…não é tolo e tem arte

A TSF noticia hoje que por causa da transição para a televisão digital terrestre uma aldeia transmontana foi ludibriada por revendedores da MEO (PT); os habitantes ou subscreviam o produto ou ficavam sem nada. E lá subscreveram, em contratos que os vincularam a dois anos de pagamentos (a notícia da TSF foi atualizada e passou a incluír a reportagem audio; reportagens video foram posteriormente apresentadas na RTP e na SIC).
Ontem, o Público dizia-nos que os habitantes de uma aldeia de Mochique estavam revoltados com a perda de qualidade no serviço de televisão a que acedem.
Percebe-se que a gestão das obrigações do prestador de serviço em termos de cobertura não foi decidida pela entidade reguladora; foi decidida pela regulado, em claro desfavor dos mais frágeis.
Falhando a cobertura, ter-se-á pensado, lá estará o ‘marketing agressivo’ de alguns revendedores de TV por cabo para ‘resolver’ a situação.

Perante um processo de transição cheio de falhas gravíssimas, a ANACOM lá vai tentando fazer passar, junto de quem anda distraído, um cenário de normalidade num quadro que de imediato nos faz lembrar as prestações de Muhammed Saeed al-Sahaf, o ex-ministro da Informação de Saddam Hussein.

Há instantes, no Facebook, Luís Miguel Loureiro comentava a notícia difundida pela TSF assim:
Na TDT, o comando está a ser Meo… Porque, bem vistas as coisas, a TDT é uma boa (a melhor) Zon para passarmos a ser, num ápice, o povo “mais rico” da Europa no que toca a ligar o ecrã lá da sala…
E pensar que este é o mesmo povo que, em vez de reclamar por uma TDT gratuita com dezenas de canais nacionais, regionais e locais, como toda a Europa tem, prefere reclamar contra o serviço público de Televisão mais barato do continente europeu e aceita sem duvidar todas as mentiras que são postas a circular sobre os custos do mesmo…

‘Petits-fours’

No rescaldo do fogo de artifício da abertura de Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012 na qual não tive qualquer participação a não ser numa espreitadela fugaz à televisão, venho aqui dizer que também Eu faço parte!

E não é de agora. Na capa do livro da quarta classe, salvo erro, o Castelo de Guimarães representava uma realidade distante no tempo e no espaço, uma ligação às minhas raízes mais  remotas, construindo um sentimento de pertença anacrónico nas águas quentes de Pemba, candidata a mais bela baía do mundo.

Retirado do vídeo promocional Guimarães CEC 2012

Confesso que quando anos mais tarde visitei o castelo fiquei decepcionada por naquele monte de pedras em ruínas quase nada restar do castelo que eu tinha construído na minha imaginação, cheio de soldados de cota de malha espreitando nas ameias, comandados por um rei Afonso de coroa reluzente. Já era tarde demais para rever a história mas o castelo não perderia nenhum fulgor na memória afectiva que dele guardo.

Guimarães 2012 é um bom exemplo de um restyling de marketing territorial, ancorando-se numa janela-coração e na ideia de participação e envolvimento da população local para além dos vários públicos estratégicos. Não sei de quem partiu a ideia, se foi uma encomenda ou uma criação espontânea, mas quando vi o bolinho húngaro com a forma do logo da capital europeia, percebi que a aposta da comunicação estava ganha. Haverá melhor merchandising? A participação para dar voz à diversidade foi levada ao extremo e até se pode personalizar o logótipo. Crie aqui o seu.

Só quando nos apropriamos dos símbolos é que eles de facto nos representam e nos dias de hoje é fundamental comunicar olhos nos olhos, olhos no coração.

Guimarães, I lobe ya!

Obs: Bolinho-coração-logo gentilmente roubado a Paula Nogueira que atribui a autoria à “Pavico, uma empresa com história que se dedica a panificação, pastelaria e catering. Muito conhecida na cidade pelas coisas boas que produz mas também pelo arrojo de comunicação”. Ainda me prometeu uma caixa de bolinhos. A boa comunicação abre, de facto, novas possibilidades.

Exposição assinala a história da radiodifusão

ImagemO Museu de Artes e Ofícios de Paris acolhe a partir de 28 de fevereiro a exposição «Radio: ouvrez grand vos oreilles!», que lembrará a história da radiodifusão. Resultando de uma parceria entre a Radio France e o INA (Institut National de l?Audiovisuel), esta exposição reunirá objetos, documentos e arquivos sonoros. No site do museu faz-se já nesta apresentação a honra a este grande meio – o mais discreto de todos, mas aquele que durante muito tempo terá sido o preferido dos franceses… e talvez de todos nós:

«Universo fascinante, ela [a rádio] formou, bem antes da Internet, uma formidável porta de entrada para o mundo inteiro, permitindo captar sons, músicas e vozes não importa de que parte do planeta.»

SOPA, PIPA e ecrãs de identificação

A semana tem sido agitada por conta das movimentações referentes à regulação da Internet, como bem frisou aqui a Elsa Costa e Silva. Formou-se um movimento maniqueísta, alimentado por estereótipos, que vêm sendo repercutido pelos meios de comunicação, serviços online e redes sociais.

Assistimos à crucificação pública dos “conservadores”, que querem” impedir a livre manifestação do pensamento”, e o endeusamento dos que pregam a “liberdade de expressão”. Fugimos do mérito da questão, que diz respeito aos direitos do autor, e partimos para outros tipos de argumentações.

Como utilizador da Web, sinto-me inclinado a concordar com os “bons moços”, mas ao analisar o que acontece na Internet ao pormenor, chega-se facilmente à conclusão que grandes grupos como Facebook, Google, Yahoo e Microsoft, utilizam-se do trabalho alheio para lucrar. São empresas poderosas que detêm informações de todos nós, utilizadores da rede mundial de computadores, e fazem dessas informações o que bem querem.

Diante destes factos, é preciso, sim, discutir a regulação da Internet. O problema é que os projetos de lei antipirataria norte-americanos Stop Online Piracy Act (Sopa) e Protect IP Act (Pipa) seguiram muito bem os trâmites legais offline, mas esqueceram da nova configuração do mundo online e da necessidade de incluir nos debates os cidadãos virtuais, que não têm pátria, mas têm um ecrã de identificação.

Que venham os debates, sem histerias, maniqueísmos e demagogias. Assim ganharemos todos, democraticamente.

“Um dia com os media”- operação nacional é apresentada hoje em Braga

É hoje apresentada publicamente, na Universidade do Minho, em Braga, a jornadaUM DIA COM OS MEDIA”, uma iniciativa de âmbito nacional que visa colocar os próprios media e a relação dos cidadãos com eles no centro das atenções, suscitando iniciativas orientadas para a reflexão e a ação.

Terá lugar no dia 3 de Maio, data em que, por iniciativa da ONU, se evoca a liberdade de Imprensa e de expressão. Num tempo em que, as tecnologias e plataformas digitais, permitem, como nunca, que os cidadãos se exprimam no espaço público, faz sentido que o olhar crítico e participativo relativamente aos media seja, ele próprio, um exercício de liberdade, num espírito positivo de contribuir para a melhoria dos media que temos.

O convite à participação autónoma e livre é dirigida a todos os que se sentirem interessados e motivados pela pergunta: “que significado têm os media na nossa vida e como poderiam tornar-se mais significativos?

O desafio é lançado a todo o tipo de instituições: bibliotecas, escolas, meios de comunicação, grupos de alunos, centros de investigação e formação, associações, universidades de seniores, movimentos, igrejas, autarquias, entre outros.

Relativamente aos meios de comunicação, há  pelo menos três vertentes de participação: o trabalho normal de informação sobre a iniciativa, da forma entendida mais conveniente; a organização de iniciativas próprias que fomentem o contacto com os seus públicos, tendo como motivo os meios de comunicação; e, finalmente, a colaboração com iniciativas de outras instituições, quando para tal solicitados.

No conceito de meios de comunicação incluem-se, naturalmente os suportes clássicos – livros, jornais, revistas, rádio, televisão, cinema –  mas igualmente os novos media, redes, plataformas e ambientes digitais – redes sociais, blogs, telemóveis, jogos. Todos configuram um ecossistema mediático que ganha em ser abordado também como um todo. A ideia não é focalizar apenas as tecnologias e os gadgets mas também os conteúdos, as orientações, as profissões, as políticas, os usos e as mudanças, bem como a relação com os quotidianos, os dramas e os sonhos das pessoas e das instituições.

As iniciativas devem partir ‘da base’. E, desejavelmente, deveriam inscrever-se, o mais possível, nas rotinas e objetivos de quem as toma. Haverá um site (www.literaciamediatica.pt/umdiacomosmedia) onde será possível registar e divulgar as iniciativas e conhecer o que outros estão a organizar, bem como um endereço de e-mail para contacto com os organizadores (umdiacomosmedia[arroba]gmail.com).

A iniciativa cabe a cinco instituições que têm vindo a trabalhar, de modo informal conjuntamente: Comissão Nacional da UNESCO; Conselho Nacional de Educação; Entidade Reguladora para a Comunicação Social; Gabinete para os Meios de Comunicação Social; Universidade do Minho/Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade