Mais um gratuito à vista

A edição digital do ‘Público‘ anunciou hoje que este jornal, juntamente com ‘A Bola’, vai lançar uma publicação gratuita, prevendo que ela comece a ser publicado antes do fim do ano. A novidade é que se trata não de um diário mas de um semanário, ao contrário da maioria dos gratuitos que têm sido até agora publicados entre nós.

Depois do ‘Meia Hora’, lançado há escassos meses pela Cofina, do, entretanto extinto, ‘Diário Desportivo’ e do anunciado (para Setembro) ‘Global Notícias’, da Controlinveste, o ano promete não terminar sem mais esse sinal de fartura.

E por falar em sinais, será interessante analisar aqueles que vêm do lado da administração do Público sobre o projecto em preparação: desenvolvido entre as duas empresas, “partilhará recursos humanos e logísticos, para além de conteúdos dos dois jornais”.

Algo de semelhante se desenha para o projecto da Controlinveste, o que já motivou vários sinais de inquietação entre os jornalistas.

Mas o processo parece imparável. E é caso para perguntar se faz sentido combatê-lo recorrendo à recusa pura e simples ou, antes, acautelar o que possa e deva ser acautelado.

Será por acaso que, no recente veto de Cavaco Silva ao Estatuto do Jornalista o único ponto que não foi objecto de reparo presidencial, de entre a lista das críticas anteriormente formuladas, tenha sido precisamente o relativo aos direitos de autor?

Também por este lado o jornalismo está a mudar. E de que maneira!

“Burro velho não aprende línguas”

No “Following the media“, Philip Stone levanta uma questão interessante e actual:
Since New Media Is, Well, New, And Old Employees Are, Well, Old, What To Do When The Need Is New And The Employee Is Old?
Insiste:
Is it really possible to teach old dogs new tricks? Can you take an older traditional media employee and make that person fluent in digital media needs? Or should the old just take the payoff and pack it in?“.
No fim do caminho, conclui:
“[…] there is still a place for the “old” dogs” with their original skills, and, yes, they can be taught new tricks for the new online world, too.

Afinal, ao contrário do adágio, “burro velho aprende línguas”.

“Marketing viral”

Vale a pena ver este vídeo feito com vídeos produzidos por utilizadores do Gmail.

Lançamentos (2)

Entre outras apresentações de livros, o 5º Congresso da SOPCOM, Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação vai ser ocasião para o lançamento de “A Televisão das Elites”, da autoria de Felisbela Lopes, e de mais um número (duplo) da revista ‘Comunicação e Sociedade’. Ambas as edições trazem a chancela da Campo das Letras e serão apresentadas no dia 6 de Setembro, às 18.30 no Campus de Gualtar da Universidade do Minho (dentro de dias anunciaremos outros lançamentos).

Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketO volume “A TV das Elites” tem por subtítulo “Estudo dos programas de informação semanal dos canais generalistas (1993-2005)” e retoma uma parte da dissertação de doutoramento de Felisbela Lopes. Destaco a nota de apresentação:

“Uma televisão de todos e para todos está longe de ser uma realidade, quando a nossa referência é a informação semanal da RTP1, da SIC e da TVI. Olhando os plateaux informativos, não se descobrirá o retrato do país que somos. Antes se vê aí desenhado um mapa social que salienta as elites que a TV absorve e reforça. Torna-se, assim, difícil encarar o pequeno ecrã como “espelho do quotidiano”.

Este livro centra-se na programação informativa emitida nos canais generalistas portugueses entre 1993 e 2005. Nesse período, promoveu-se preferencialmente uma discussão política que incluiu sobretudo as elites políticas, as mais bem treinadas na arte de colocar o poder em cena, as mais capazes para representar uma dramaturgia democrática, as mais habituadas a conciliar um discurso persuasivo com as exigências mediáticas. Se quem fala na TV são as elites, elas perpetuam-se no poder de acordo com a capacidade de circulação no espaço público televisivo.

Nem todos podem participar em programas de informação televisiva. Quem é incapaz de adaptar o seu discurso aos códigos televisivos não pode falar em televisão; quem é desconhecido da opinião pública está também excluído, a menos que protagonize um acontecimento de grande amplitude; quem não pertence a instituições centrais onde se exerce o poder político tem igualmente poucas hipóteses de ser convidado. Foi isso que aconteceu entre 1993 e 2005. Consequentemente, construiu-se no espaço televisivo uma enorme espiral de silêncio que se foi avolumando ao longo dos anos”.

Lançamentos (1)

O número 9-10 da revista ‘Comunicação e Sociedade’ da Universidade do Minho é dedicado ao jornalismo digital e inclui um dossier relativo à conferência “Dez anos de Jornalismo Digital em Portugal”. Eis o índice:

  • Introdução, Manuel Pinto e Luís António Santos
  • O jornalismo e os novos meios de comunicação social, Mark Deuze
  • Hacia un currículo de ciberperiodismo. Estado, problemas y retos en la enseñanza del periodismo online: El caso de España, Santiago Tejedor Calvo
  • O jornalismo contemporâneo no Brasil: as mídias digitais como elo entre a crise e a busca de uma nova identidade, Elizabeth Saad Corrêa
  • O mito libertário do “jornalismo cidadão”, Sylvia Moretzsohn
  • Internet y las nuevas formas de participación de los oyentes en los programas de rádio, Susana Herrera Damas

Dossier “DEZ ANOS DE JORNALISMO ONLINE EM PORTUGAL”

  • Jornalismo digital: Dez anos de web… e a revolução continua, Rosental Calmon Alves
  • Ciberjornalismo: dos primórdios ao impasse, Helder Bastos
  • Do jornalismo online ao webjornalismo: formação para a mudança, João Manuel Messias Canavilhas
  • Algunhas propostas para vencer os desafíos na formación dos ciberxornalistas, Xosé López
  • Construyendo un nuevo periodismo. Diez años de logros y retos en la prensa digital, Ramón Salaverría

TESTEMUNHOS:

  • Dez anos de jornalismo digital no Jornal de Notícias, Manuel Molinos, Nuno Marques e Paulo Ferreira
  • Setúbal na Rede: o caso de um projecto pioneiro, Pedro Brinca
  • Vida e obra do Notícias Lusófonas, António J. Ribeiro
  • Jornal Digital: Percurso histórico, Madalena Sampaio
  • Jornalismo digital. Poder, responsabilidade e desafios, Filipe Rodrigues da Silva
  • VÁRIA:
  • O jornalismo e a obrigatoriedade do diploma: negociando as fronteiras da comunidade jornalística no Brasil, Rafael Fortes e Afonso de Albuquerque

LEITURAS

  • Santos, Rogério (2005) “As Vozes da Rádio”, 1924-1939, Lisboa: Editorial Caminho, Helena Sousa
  • Cintra Torres, Eduardo (2006) “A Tragédia Televisiva: um género dramático da informação audiovisual”, Lisboa: ICS., Felisbela Lopes
  • Soares, Tânia de Morais (2006) “Cibermedi@ – Os meios de comunicação social portugueses online”, Lisboa: Escolar Editora, Daniela Bertocchi
  • Fogel, Jean-François & Patino, Bruno (2005) “Une Presse sans Gutenberg”, Paris: Grasset, Luís António Santos.

“O culto do amador”

O livro de Andrew Keen The Cult of the Amateur“anda a fazer furor nos últimos meses. Nele o autor defende que os blogs, wikis e outras The cult of the amateurformas de redes sociais constituem um assalto à economia, à cultura e aos valores e que “a web 2.0 nos faz regressar à Idade das Trevas”. Já li bastante quer daqueles que consideram a obra brilhante quer daqueles, muito mais numerosos, que não se cansam de recusar a “cruzada moral” que Keen se propõe lançar com esta desconstrução do “culto do amador[ismo]”.

Ainda não li o livro, pelo que não quero, por ora, pronunciar-me. Tendo, contudo, a distanciar-me quer dos discursos apocalípticos quer dos encantados sobre os media e sobre a Internet. Mas isso não retira a necessidade de escutar os argumentos, para levarmos mais longe o pensar o mundo que é o nosso. Um contributo nesse sentido, publicado em suscessivos posts, nos últimos dias, é o de Francis Pisani, no Transnets, o último dos quais intitulado Pour un critique sérieuse.

Dois debates sobre o livro, com a participação do autor:

A ultima crónica sobre media

Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketNa sua actividade de colunista e comentador, o campo dos media era para Eduardo Prado Coelho uma tema de regular atenção. O último texto a versar o assunto, em que se mostra um analista atento e perspicaz, veio no Público de quarta-feira passada. Intitula-se ‘Veneno gota a gota’ e aborda o modo como o Diário de Notícias enquadrou a cobertura dos actos de vandalismo e violação de propriedade cometidos no Algarve por um grupo de pseudo-ambientalistas anti-transgénicos.

Numa feliz iniciativa, o Público – que anuncia para amanhã a última crónica de EPC – decidiu abrir o acesso aos textos do professor e colunista publicados no jornal desde 1998.

É pena que a crónica de quarta-feira não esteja incluída. Como o Clube de Jornalistas a disponibiliza no seu site, podemos relê-la ali.

100 milhões !

O número de blogues rastreados pelo Tecnorati atingiu hoje os 100 milhões. A monitorização começou em 2004, quando se contabilizavam 3 milhões. Em Março do ano seguinte, andava pelos 7,8 milhões. Ano e meio depois, atingiam-se os 19,6 milhões, para se chegar, em Outubro de 2006, aos 57 milhões.

(dica de Jornalismo & Internet).

Blogger ganha prémio internacional de jornalismo

Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketO blogger egípcio Wael Abbas acaba de vencer o Knight International Journalism Award, ex-aequo com uma repórter de investigação de Myanmar (Burma), May Thingyan Hein.

O prémio foi atribuído pelo International Center for Journalists (ICFJ) através do Knight International Journalism Fellowships Program, que visa reconhecer pessoas que tenham contribuído para elevar os níveis de excelência dos media, nos respectivos países, ajudando a tornar o jornalismo mais respoávelvel perante a sociedade.

Abbas é o primeiro blogger a receber tal distinção e vê ser-lhe atribuído o prémio por, segundo o ICFJ, ter revelado no seu blog Misr Digital (‘Consciência Egípcia’) casos geralmente evitados pelos media do país, tais como protestos, corrupção e brutalidade policial. As suas reportagens em primeira mão, incluindo vídeos e fotografias, têm atraído milhares de leitores, bem como a atenção dos principais media que começaram a prestar atenção às estórias por ele reveladas.

O júri final era constituído por dois antigos Knight ‘fellows’–Roger Atwood do secretariado para a América Latina e John Pancake do Washington Post— Patricia Weems Gaston do Washington Post, Owen Ullmann do USA Today, bem como o presidente da ICFJ, Joyce Barnathan.

Assimetrias no acesso à banda larga

Os dados do estudo Bareme Internet da Marktest sobre o acesso a banda larga nos lares nacionais diz que, na segunda leva de 2007,  são 1,5 milhões de lares a aceder por ADSL, cabo ou rede móvel (contra 1,431 na primeira vaga). Mas a análise detalhada põe a nu as profundas desigualdades. Os mais pobres, os mais idosos, os lares de menor dimensão e o interior e sul do país encontram-se entre os mais distantes da média da nacional.
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“É verdade, juro! Passou na til’visão…”

Intitula-se”É verdade!” e é uma das músicas do álbum mais recente dos Terrakota, lançado no final de Maio passado. Ouvi-a há pouco na Rádio Universitária do Minho. Aqui fica a letra:

Só lês “a Bola” Múmia é peça de antiguidade?…Tás dopado!
Vês documentários pensas que tudo é verdade?… Tás dopado!
O noticiário parece ter objectividade?… Tás dopado!
O imigrante é o tumor da sociedade?…
Mwadié, tás quase apanhar overdose, vai no médico antes que não fazes paragem cardíaca!

É verdade, juro! Passou na til’visão…
Uma galinha engripada contaminou o adão
É verdade, juro!! Ouvi ontem na rádio…
O parente avariou saiu a correr todo nu do estádio
É verdade, juro!Li ontem no jornal
Bondaram o bandido, um islamista radical
É verdade juro! Passei a ser otário.
Já não falo co os meus irmãos arranjei um amigo imaginário.

Bem vindos!! Bem vindos!! Bem vindos!!
Ao século dos junkies da informação
Tamos todos dopados não temos seuquer opção
Não procuras ela te encontra e táplica a injecção
A mistela actua sem dares conta, molda-te o gosto e opinião.
Senta! Saboreia a sensação…
Tenta controlar a tentação meu irmão!
De pegar no controlo remoto
Tem novela e desporto
Tempo pró Kanuko? Ai iso é que não!
Pensa! Não leva só injecção…
Essa cabeça não é para decoração
A máquina fala connosco e até nos dá lição
Nos diz quem é Deus, o Bom, o Mau……e o Vilão!

Uma nova relação com os leitores

Libé journ CitO diário francês Libération dedica hoje um pequeno dossier ao tema da relação entre o jornalismo e os cidadãos (um assunto incluído na lista de assuntos que para o jornal são indicadores de uma ‘mudança de era’). Entre as peças inclui-se o editorial do director.

* Droit d’intervention, Editorial de Laurent Joffrin
* Les sentinelles de CentPapiers, un site de Montréal recense aujourd’hui 250 rédacteurs bénévoles.
* Le «regard témoin» de NowPublic: Basé à Vancouver, le site joue la carte des cyberreporters locaux.
* Olivier Trédan, chercheur: «On laisse le public produire, mais on garde le dernier mot»

Do editorial, este extracto:

“L’écriture de l’information, petite ou grande, demande discipline, savoir-faire et longues journées. Tout citoyen est capable de le faire : il doit toutefois s’y consacrer entièrement, à l’image d’un professionnel. Faute de quoi, comme le montre notre enquête, la rumeur et la fausse nouvelle viennent infester la «contre-information» bien plus vite qu’elles ne se manifestent dans le «journalisme officiel». Ainsi la première complétera le deuxième. Il ne le remplacera pas. Non, le journalisme se sauvera d’abord lui-même. Dans les efforts pour préserver ou conquérir l’indépendance face aux pouvoirs, bien sûr. Mais surtout dans l’établissement d’un lien nouveau avec les lecteurs, les auditeurs et les spectateurs. Un lien où l’humilité et la rigueur des journalistes deviennent la règle et le droit d’intervention des lecteurs la coutume. Un lien égalitaire, où ceux qui émettent l’information ne sont plus en surplomb par rapport à ceux qui la reçoivent. A cette condition seulement, les citoyens se réconcilieront avec leurs médias. Et les médias survivront.”

Revista de jornalismo

Já está online a mais nova edição da Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo. Trata-se de uma publicação científica mantida pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo. A revista existe somente em formato electrónico. Os artigos são apresentados em formato PDF.

Sobre a “irracionalização do discurso mediático”…

Diz hoje no Público, página 3 do P2, Miguel Gaspar, ainda a propósito do caso Madeleine McCann e os media:

«Neste longo e intenso percurso, mostrou-se de novo como existe nos media a tendência para transformar as notícias em narrativas, associando elementos de verosimilhança a crenças inconscientes ou a preconceitos. Não vale a pena discutir a objectividade ou a subjectividade do jornalismo, quando o jogo assenta em desvalorizar que se sabe muito pouco e a construir um sentido, eventualmente forçá-lo, a partir do pouco que se sabe.»

«Pode o português ficar pelo menos feliz com a certeza de que o chauvinismo jornalístico e a hipermediatização tablóide são matérias em que somos mais aprendizes do que feiticeiros.»

100 dias após o desaparecimento de Madeleine McCann

Factos:
. Desapareceu a 3 de Maio último do quarto onde dormia, num hotel da Praia da Luz, uma criança inglesa que, na altura, tinha 3 anos.

. Os pais da criança desaparecida ampliaram essa tragédia à escala global, fazendo uso dos meios de comunicação social.

. A opinião pública ‘adoptou’ esta criança quase como um membro da família, fruto de uma cobertura jornalística assente sobretudo em códigos emocionais.

. As autoridades policiais, a quem compete as investigações, não estavam preparadas para a ampla cobertura mediática que invadiu o Algarve e os planos de comunicação gizados nem sempre foram eficazes.

. Os media ingleses desenvolveram um trabalho participativo nas investigações, não se percebendo, por vezes, qual a distância que separava os jornalistas das forças policiais/dos familiares da criança.

. Os media portugueses fizeram assentar os seus relatos em fontes anónimas, frequentemente com informação desencontrada, criando assim um processo circular em que uns desmentiam os outros.

. Nos sucessivos directos das televisões e rádios feitos para a Praia da Luz não há informação, mas relatos que oscilam entre o quotidiano dos McCann, as movimentações exteriores da PJ e o circo mediático montado pelos próprios jornalistas.

Do que foi enumerado, o que nos interessa? Isto: desapareceu a 3 de Maio último do quarto onde dormia, num hotel da Praia da Luz, uma criança inglesa. Cem dias após esse desaparecimento, nada se sabe sobre o seu paradeiro. Tudo o mais que se escreve/diz sobre este trágico acontecimento são elementos produzidos pelas máquinas mediáticas e especulações criadas por fontes não-identificadas.