A TSF completou hoje 24 anos. Notícias recentes referiam mais uma restruturação em curso, que acabaria pelo menos com as delegações do Alentejo e do Algarve. Pouco se pode fazer por paixões quando o investimento retrai a capacidade de surpreender (que é o que faz quem se conduz por paixão, não é? Surpreender…).
Monthly Archives: Fevereiro 2012
Regulação dos Média em Portugal e na Europa
Nos dias 24 e 25 de Fevereiro, teve lugar o Seminário “Media Regulation: National and International Debates” no Museu Nogueira da Silva, Universidade do Minho, Braga.
Durante dois dias, a equipa do projecto de investigação “A Regulação dos Média em Portugal: O Caso da ERC” (CECS/FCT) esteve reunida num encontro que serviu para fazer o balanço do trabalho realizado até ao momento.
Estiveram presentes os consultores do projecto (Divina Frau-Meigs, Hannu Nieminen, José Manuel Paquete de Oliveira, Josef Trappel, José Rebelo, Tarlach McGonagle) e investigadores convidados que estão a colaborar no projecto: Alessandro D’Arma, Manuela Grünangerl, Laura Bergés e Núria Reguero.
Para além da análise detalhada do trabalho realizado pela equipa, o seminário centrou-se no desenvolvimento de um modelo de análise comparativa para a regulação dos media na Europa.
Palavras para quê. Palavras, para quê?
Um salto aqui, outro ali. A blogosfera portuguesa da comunicação dedica-se esta terça-feira à palavra jornalística. Ao que ela faz ao texto e ao texto que já existe nela.
O debate é-nos proposto por José Vítor Malheiros, nas páginas do jornal Público (reproduzido igualmente no blogue Versaletes), precisamente num dia em que, novamente, o jornalismo português se há-de fazer de muita dessa palavra jornalística cujo parto no seio do texto se fará na ausência da crítica. Põe-nos, pois, José Vítor Malheiros a pensar até que ponto será neutra a palavra que o jornalismo julga neutra e, por isso mesmo, usa como se fosse, de facto, neutra. Não se aperceberá o jornalismo (cujo acto fundamental deveria ser o acto reflexivo, isto é, o acto que se espelha a si mesmo para se poder objectivar antes de se produzir como objecto no visível) de que está a veicular o discurso do poder, a deitar-se no tear das diversas formas de dominação? Escreve Malheiros, a este propósito, num artigo que merece ser lido na íntegra por todos os que fazem ou querem vir a fazer vida do jornalismo:
“Uma grande parte da política passa por criar e tentar impor na arena social, na imprensa, no debate político, determinadas visões do mundo – determinadas narrativas – como bem sabem os mestres da propaganda. Mas essas narrativas são construídas por palavras e, quando determinados termos se impõem, há narrativas que se organizam quase naturalmente à sua volta.
Tomemos a “ajuda”. “Ajuda” é uma coisa boa. Todos gostamos de ajudar, todos gostamos de ser ajudados. Não é fácil criar uma narrativa onde o mau da fita é alguém que “ajuda”. Quem ajuda é, forçosamente, nosso amigo.
E como apareceu a expressão “ajuda financeira”? De facto, aquilo que designamos por “ajuda financeira” é, simplesmente, um empréstimo. E empréstimo é não só uma expressão mais correcta como mais neutra. Sabemos isso porque há empréstimos que nos aliviam e outros que nos entalam. É possível criar narrativas diferentes à volta da expressão “empréstimo”. Posso dizer “aquele empréstimo permitiu-lhe salvar a empresa” ou “o que o levou à falência foi aquele empréstimo”. Posso dizer que o “empréstimo negociado com a troika tem um juro usurário”, mas já não o posso dizer se lhe chamar “ajuda”. As palavras não deixam.
Um “resgate” também é uma coisa boa. Salva-nos. Não é possível dizer nada mau de quem nos resgata. E haverá coisa melhor que um “programa de assistência económica e financeira”? E será possível ser contra o rigor e a disciplina? Ou contra a “racionalização das empresas públicas de transportes”? E será que um “ajustamento estrutural” pode fazer outra coisa que não seja dar-nos mais solidez? Quem é que pode não gostar que as estruturas estejam ajustadas?”
Também Paulo Querido, no seu blogue Certamente! reflecte o assunto a partir de José Vítor Malheiros, revertendo, contudo, os termos da análise: aqui é já o texto produzido por um jornalismo que não percebe a partir de que texto se constrói, que emerge como problemático, elaborando, no fundo, um discurso afunilado que reproduz um espaço público de espectro reduzido:
“Ao longo das últimas três décadas assisti à erosão da preocupação com o léxico na comunicação social portuguesa, substituída gradualmente pela imposição de uma narrativa upper-class que só muito parcialmente assenta no crescimento das classes médias na maior parte desse período.
Perante o descomunal peso dessa construção no espaço mediático, diminuindo o espaço teoricamente disponível para outras narrativas menos alinhadas com o rumo preferido pelas classes poderosas, às vezes penso até que ponto está a narrativa upper-class justificada, ou se a justificação, sendo frouxa, não passa antes de um pretexto. Entretanto tornado regra entre os jornalistas e comentadores incumbentes por força da repetição.”
Leituras recomendadas, pois, num dia em que se hão-de ler números com palavras, sendo que, como o jornalismo deveria saber, nem o número, nem a palavra… são neutros.
O que se perde no espaço público quando desaparece a edição impressa de um jornal
Mal souberam da decisão do grupo Mediapubli de acabar com a edição em papel do diário espanhol Público, os trabalhadores do jornal consideraram que nem sequer fazia sentido levá-lo às bancas, editando mais dois números, até domingo. Assim, ao contrário do que previa o comunicado da Mediapubli, o periódico teve esta sexta-feira a sua derradeira capa.
O Público espanhol nasceu em 2007, tanto em papel como na internet, assumindo-se desde logo como defensor do “espaço público, do interesse público, do domínio público, da coisa pública, do investimento público, da saúde pública, da educação pública e do debate público” (ver aqui entrevista com os mentores do projecto). Um posicionamento político que nunca deixou dúvidas, e produziu ao longo de quase cinco anos de edições impressas, algumas capas verdadeiramente históricas do jornalismo espanhol, como a de 29 de Setembro de 2011, cujo tema único foi a greve geral no país vizinho. Ficou também famosa a recusa do jornal em fazer determinados tipos de publicidade, nomeadamente os anúncios de sexo que remetiam para possíveis situações de prostituição.
Temáticas e abordagens que, tal como afirmaram há um mês as centenas de signatários de um manifesto de apoio à continuidade do periódico (entre os quais diversas figuras da academia e das artes), colocaram o Público no mapa mediático como voz alternativa “ao discurso único veiculado pelo poder financeiro” e como “fórum de debate para as distintas sensibilidades da esquerda”.
Se é certo que a edição online se irá manter (o site do periódico é o quarto site de informação mais visitado, diariamente, em Espanha, com mais de 5.5 milhões de utilizadores únicos), porque é que, desaparecendo a edição em papel, se percebe uma perda, de facto, para o espaço público?
Temos perseguido em anteriores análises neste blogue, uma matriz que remete para a noção do visível, relacionando-a com um pensamento contemporâneo do espaço público, no qual se cruzam dois elementos conceptuais: o visível como superfície luminosa, e o movimento dos objectos que o percorrem. Utilizando essa matriz, diríamos que o facto de se sentir uma perda no espaço público se relacionará, precisamente, com uma falha no preenchimento do visível. Dir-se-á, em contraponto, que há muito maior visibilidade em 5.5 milhões de visitas diárias online do que nos pouco mais de 80 mil exemplares que circulavam diariamente nas bancas espanholas. Mas será assim, de facto?
Não nos parece que se possa falar do visível sem a noção de partilha, que é uma noção que se relaciona profundamente com o fazer-comunidade. E a partilha não pressupõe apenas uma mera coincidência espácio-temporal das condições de observação do visível, especialmente quando este apenas se compõe de objectos em movimento acelerado, que intensificam, individualizando, a relação com o observador. Falar de uma partilha do visível é descrever a possibilidade de uma estabilidade, tanto dos objectos como dos observadores. É nessa estabilidade, nessa imobilização dos objectos e dos seus observadores, que se radica a qualificação de algumas das capas do Público como históricas. Capas cuja presença e efeitos no visível vão, assim, muito além do número efectivo de exemplares impressos: só pode ser considerado histórico o que é, antes de mais, partilhável no seio de uma comunidade cultural.
Dir-se-á, alguma vez, o mesmo, da página de entrada do site do jornal, quando esta é sempre colocada visível por um dispositivo cinético que se baseia numa lógica de intensificação da visibilização individual, isto é, uma lógica que substitui, a todo o instante, o espectador pelo utilizador?
Dividendo digital: Estão a esquecer da democracia
A grande revolução da TDT não é a televisão, mas sim o facto de que a convergência para o digital liberta frequências que podem ser utilizadas para outros tipos de comunicações eletrónicas. Portanto, antes mesmo do fim da TV analógica, a Europa havia decidido que a faixa dos 800 MHz seria utilizada para serviços de Internet, a serem explorados pelas empresas de telefonia móvel.
Em Portugal, a Vodafone, Optimus e TMN já estão devidamente autorizadas a lançar seus serviços 4G.
Agora, a International Telecommunication Union (ITU) anunciou que não apenas os 800 MHz vão servir para as comunicações móveis, mas também a faixa dos 700 MHz, conforme pode-se ler aqui.
Ao que parece, as decisões têm vindo praticamente prontas, definidas por critérios técnicos e económicos.
Isto suscita algumas perguntas:
- Quem foi chamado para discutir o que fazer com as frequências que estão a ser libertadas com a chegada da TDT?
- Não haveria a hipótese do estado utilizar o dividendo digital para prover os cidadãos com sinais de Internet de forma gratuita, com o intuito de combater a exclusão digital?
- É mesmo necessário que empresas privadas explorem os serviços e cobrem das pessoas, uma vez que estão a utilizar o espectro, que é um bem da população?
Se o caminho comercial for mesmo o único viável, que fique claro então. Mas impor um modelo sem um amplo debate público e sem as devidas argumentações, coloca em dúvida o sistema democrático sob o qual (ainda) vivemos.
É bom lembrar, para não esquecermos.
Título ‘enganoso’
Quem ontem passou os olhos pelos títulos do Jornal de Notícias (com edição em papel renovada, por sinal) ficou talvez a pensar que este sábado houve um assalto a um taxista que não acabou bem. Numa chamada de primeira página, lia-se ‘Gangue mata taxista em Gondomar e vai jantar ao McDonalds’. Na página interior, em tudo idêntico, o título da notícia dizia ‘Matam taxista por 50 euros e vão jantar ao McDonalds’. Acontece que uma leitura mais atenta remete a notícia para julho de 2008, uma referência que só aparece a partir do terceiro parágrafo.
Seria mesmo este o título adequado a uma notícia que a única coisa que tem de novo é o facto de o gangue ter sido agora detido?
Ai a culpa agora é da fonte?…
Embora me custe, quase me apetecia dizer: ainda bem que o treinador Domingos Paciência decidiu accionar judicialmente quem escreveu e difundiu notícias, baseadas apenas numa “fonte não identificada”, sobre um episódio que ele garante ser falso! E custa-me, mas quase me apetecia continuar: e oxalá o assunto não morra antes de chegar a tribunal mas, pelo contrário, vá até julgamento e permita que tudo se esclareça! Esta história das “fontes não identificadas”, a propósito de tudo e de nada, já não se aguenta e é tempo de tentar pôr alguma ordem na coisa, em nome do respeito pelas pessoas e da credibilidade do jornalismo.
Há um aspecto que me parece da maior importância sublinhar e que parece andar bastante esquecido: o recurso a fontes que não se identificam deve ser um recurso EXCEPCIONAL e não uma prática banal, normal, quase quotidiana. Conceder a uma fonte de informação o estatuto de confidencialidade (sobretudo quando está em causa uma notícia que pode causar dano a terceiros) é uma decisão grave e que merece muitíssima ponderação, não só pela maior fragilidade com que a informação passa a circular, mas sobretudo pelas consequências futuras que daí podem advir. Porquê? Porque a partir do momento em que concede estatuto de confidencialidade a uma fonte, o jornalista passa a assumir ELE PRÓPRIO toda a responsabilidade pela informação que vai divulgar. Se amanhã lhe pedirem que prove o que diz, ele terá de estar em condições de o fazer por ele próprio e terá de assumir esse ónus, pois já não pode repartir com ninguém as explicações e justificativos (género “foi aquele senhor que me disse…”). Dar estatuto de confidencialidade à fonte é prescindir dessa partilha de responsabilidades. Portanto, é bom que o trabalho jornalístico — incluindo confirmação por outras vias, recolha de elementos adicionais de prova (dcumentais ou outros), audição das partes envolvidas e/ou acusadas, etc. — tenha sido feito. E bem feito. Se as coisas correrem mal, mais tarde, não vale vir deitar as culpas para a fonte na qual se confiou cegamente, a ponto de se lhe ter dado esse estatuto excepcional (e valiosíssimo, porque tendencialmente inimputável…) de fonte confidencial. Não vale. É feio.
Poderá retorquir-se: “Mas se a fonte tiver enganado o jornalista?… Não merece ela própria ser denunciada nesse caso?… Não é isso que diz o Código Deontológico dos Jornalistas?…”.
É verdade, o Código Deontológico admite essa possibilidade (ver artigo 6º). Pela minha parte, contudo, considero que é uma possibilidade que deve ser usada asbolutamente em última instância e com carácter excepcionalíssimo, depois de muito investigado o assunto e de recolhido o parecer do Conselho Deontológico do SJ (já aconteceu em Portugal, há uns anos). Em situação normal, mesmo que se venha a descobrir que a fonte enganou o jornalista, isso não lhe dá (ao jornalista) o direito automático de a denunciar, transgredindo assim umas das mais emblemáticas “regras de ouro” da sua ética e deontologia profissional. Ele, jornalista, tem de estar preparado para arcar com as responsabilidades até ao fim… Se não, que não confiasse em absoluto na fonte. Que investigasse mais. Que cruzasse informação. Que questionasse o estatuto de confidencialidade pedido. Se não fez isso e acabou por ser ludibriado, que se auto-critique, que peça desculpa e que aprenda para o futuro. Mas que não caia na tentação de lavar as mãos como Pilatos e mandar as culpas todas para as costas de uma fonte em que decidiu confiar cegamente e a quem deu tempo de antena… Isso não vale. E espero que, salvo circunstâncias da maior gravidade e excepcionalidade, a agência Lusa não o faça. Para bem do jornalismo.
GMCS premeia trabalhos jornalísticos sobre o tema “Direitos Humanos e Integração”
O Gabinete para os Meios de Comunicação Social (GMCS) divulga prémios a serem atribuídos aos melhores trabalhos jornalísticos subordinados à temática “Direitos Humanos e Integração”, publicados ou difundidos no ano de 2011 nos órgãos de comunicação social portugueses.
É a sétima vez que este prémio será atribuído, em conjugação com a Comissão Nacional da UNESCO, estando destinado um valor total de €9000, distribuídos de igual forma pela imprensa, a rádio e os meios audiovisuais.
O processo de apresentação de candidaturas é entre 15 de Fevereiro e 30 de Abril de 2012. Mais informações aqui.
A Rádio na frequência da Web
Está já disponível o vol.20 (2011) da revista Comunicação e Sociedade, recolhendo textos em torno do futuro da rádio em ambiente digital.
Madalena Oliveira e Pedro Portela, os organizadores deste número, dizem no seu texto de apresentação:
“Repensar a rádio no actual contexto de uma sociedade digital, ou mais especificamente no contexto da web, impõe que se repense a sua relação com a imagem, mas também, de um modo mais generalizado, os termos do seu contrato de escuta. Se é verdade que a emissão tradicional se mantém de alguma maneira na web – que nessa medida é apenas um novo dispositivo de escuta, um novo receptor do sinal radiofónico -, também o é que a oferta associada aos sítios das emissoras na Internet exige uma redefinição da sua relação com os ouvintes.”
Mais detalhes aqui (esclarecimentos e encomendas através deste endereço)
“O mundo dos media depois dos casos Wikileaks e News of the World”
A atualidade do tema é evidente: que lições devem os media tirar do que se passou com o desvendamento de toneladas de documentos classificados de distintos governos pelo Wikileaks e pela divulgação dos esquemas de corrupção e minagem da sociedade democrática que levaram à queda do jornal britânico News of the World?
O assunto vai ser objeto de uma conferência internacional a ter lugar amanhã e depois na sede da UNESCO, em Paris, e pode ser acompanhada em direto pela Internet.
A conferência é organizada pelo World Press Freedom Committee (WPFC), em cooperação com o Sector da Comunicação e Informação da UNESCO e reúne, segundo a informação divulgada, “destacados representantes de meios de comunicação, jornalistas ‘cidadãos’ e profissionais, bem como juristas especializados em media”. O objetivo é “intercambiar opiniões sobre estas questões e discutir as boas práticas no jornalismo profissional tradicional e no jornalismo cidadão na era digital.
- Como podem os jornalistas enfrentar a explosão maciça de dados em primera mão disponíveis na Internet?
- Deveriam ser reequacionados o papel do jornalista e os seus padrões éticos e profissionais?
- Como equacionar a relação entre “jornalismo cidadão” e o profissionalismo jornalístico tradicional?
- Quais são os desafios para as leis nacionais e internacionais relacionadas com a privacidade, a segurança nacional, a ordem pública e a liberdade na Internet?
- Qual o futuro das relações entre governos e meios de comunicação?
Para seguir a conferência via Internet: AQUI
Para consultar o horário e o programa: AQUI
(Créditos da imagem: News of the World/The New York Times)
Salvar o negócio do jornalismo – dois exemplos
Ken Doctor escreve, por estes dias, uma série de textos no espaço do Nieman Journalism Lab sobre exemplos bem sucedidos de empresas jornalísticas europeias.
No primeiro post fala-se do sucesso do grupo finlandês Sanoma, dono do maior diário escandinavo e de dois portais informativos de grande popularidade. A sua operação online (de conteúdos fechados) tem a adesão de 130 mil subscritores (a um custo unitário de 36 euros são mais de 4,5 milhões por ano).
No segundo post, do grupo Schibsted, que tem já 36 por cento do total dos seus rendimentos a partir do online; a decisão estratégica fundamental foi tomadas em 1999 quando se optou por uma separação clara entre as operações online e papel e se investiu, de forma deliberada e autónoma, em conquistar o mercado dos pequenos anúncios na internet.
São textos produzidos para uma audiência norte-americana, mas há detalhes que podem servir de exemplo a operações nacionais e, sobretudo, que podem sinalizar a existência (sim, mesmo na atual conjuntura) de novas oportunidades de negócio para projetos inovadores.
Hoje é Dia Mundial da Rádio…
… um dia para escrever pouco e ouvir muita rádio!
A TSF está a assinalar o dia com várias rubricas que lembram a magia, a paixão e os segredos da rádio. O Fórum TSF marca hoje os dias da rádio…
Diários de uma câmara oculta (2): a câmara-aparentemente-oculta da TVI
Após o nosso recente “post” sobre o assunto, um novo episódio, a conversa informal captada pela TVI entre os ministros das finanças português e alemão, fez com que a discussão acerca do uso de câmaras ocultas no jornalismo atravessasse a fronteira ibérica: de Espanha viajou para Portugal, passando agora também pela Alemanha. No entanto, tal como se depreende da nossa anterior análise, apesar de toda a complexidade que algumas destas situações introduzem, não deve confundir-se a câmara-propriamente-oculta com a câmara-aparentemente-oculta.
Acerca da primeira, já antes denunciámos os traços que a tornam um instrumento de controlo absoluto, de tipo divino, do processo de produção do visível, pelo jornalismo, o que implica o escrutínio meticuloso dos critérios que levam ao seu uso, tornando-o, tal como escreve Estrela Serrano no blogue Vai e Vem, um procedimento absolutamente excepcional. É por isso, também, que a interdição decidida pelo Tribunal Constitucional espanhol, significa uma interdição prática, imposta ao próprio jornalismo, de um poder lato de controlo sobre os processos de produção da mensagem jornalística. Ou seja, significa o surgimento de uma restrição normativa à liberdade dos jornalistas, liberdade que, no entanto, só se legitima perante circunstâncias extraordinariamente raras.
Quanto à segunda, não é difícil perceber porque é que, ao analisarmos um processo de ocultação do instrumento de registo usado no procedimento jornalístico, só se deve falar numa câmara-aparentemente-oculta. Há, desde logo, o aspecto prático: não há câmaras ocultas numa sala cheia de câmaras de televisão, e na qual as câmaras de televisão estão autorizadas a trabalhar. O que se oculta, então?
Diríamos que, não havendo câmaras ocultas, o que se pressupõe como não-presença, numa circunstância como esta, é o próprio jornalismo. Na captação de imagens deste tipo de encontros, assume-se um acordo tácito que remete para um híbrido entre o “on-the-record” e o “off-the-record”: às imagens captadas dos momentos prévios a uma reunião que decorrerá à porta fechada, é tacitamente retirado todo o conteúdo jornalístico, ou seja, as imagens serão usadas, mas servirão apenas de ilustração. Assume-se que, no restante, são verdadeiramente silenciosas, ou seja, nada dizem de jornalisticamente relevante. É neste tipo de acordos tácitos, que existem no terreno do não-dito e do não-escrito, que se baseia a captação de imagens destas situações. Pressupõe-se, pois, que tudo o que registam é vazio e está vazio. E é nesse vazio que se situam as conversas supostamente informais que as imagens registaram.
No entanto, e é aí que se ancora o principal argumento usado pela Direcção de Informação da TVI para defender o tratamento e difusão noticiosa da conversa, toda a operação jornalística tem uma natureza pública: visa a produção do visível. Ora, estando os repórteres devidamente identificados e no pleno exercício das suas funções, não se pode assumir uma não-presença do jornalismo: ele pode sempre emergir, a partir do momento em que, detendo o controlo (editorial) do seu processo de produção, encontra aspectos relevantes, que devam ser noticiados. Estamos, pois, mais uma vez, no domínio do controlo do processo de produção. Trata-se de um raciocínio que se aplica, por exemplo, em circunstâncias como esta, a situações tão simples como os cumprimentos e encontros face-a-face entre responsáveis políticos, como sucedeu, recentemente, com as imagens do primeiro-ministro inglês David Cameron e do presidente francês Nicolas Sarkozy na cimeira europeia de Dezembro, cuja interpretação remeteu para o isolamento da posição britânica no seio dos 27.
Na altura, ninguém se queixou de uma câmara oculta…
Diários de uma câmara oculta: o jornalismo e o (in)visível
O jornalismo televisivo espanhol vive dias agitados. Em causa estão dois episódios recentes que, se bem observados, se podem subsumir ao que poderíamos caracterizar como a complexa e controversa relação do jornalismo com o visível, na qual, bem o sabemos, se jogam dos mais decisivos lances da guerra contemporânea das visibilidades. Ora, sendo a televisão o massivo apogeu do veloz visível de superfície que nos intensifica e confina, sendo ela mesma a luz ofuscante e total que o mundo produz de si mesmo, percebe-se o quão problemática se torna toda a análise que tente compreender o visível a partir da sua formulação pelo ecrã televisivo.
Expliquemo-nos, por partes: na sequência de uma reportagem da Televisão Autonómica da Comunidade Valenciana, realizada há alguns anos, sobre a existência de falsos profissionais na área da saúde, o Tribunal Constitucional espanhol veio agora considerar ilegítimo o uso de uma câmara oculta pelos repórteres.
A decisão, divulgada segunda-feira, é interpretada em Espanha como a provável condenação definitiva do uso de câmara oculta como método de investigação jornalística. Em causa, entre outros aspectos, estava o direito da queixosa, uma esteticista, à reserva de privacidade no interior do seu espaço de trabalho, que os juízes consideraram ter sido posta em causa quer pelo facto de a sua imagem e som terem sido captados, sem o seu consentimento, para posterior difusão, quer porque a repórter dissimulou a sua identidade, fazendo-se passar por paciente.
Poucos dias antes, outro episódio, em Bruxelas: nos momentos que antecederam o último Conselho Europeu, no final de Janeiro, uma câmara de televisão captou, através do microfone ambiente, um desabafo feito pelo primeiro-ministro do governo de Madrid, Mariano Rajoy, aos homólogos finlandês e holandês. Confessava Rajoy, nesse momento de suposta e informal privacidade, que as “reformas laborais (que Rajoy se prepara para apresentar) vão custar-me uma greve geral”.
O caso irradiou para vários tipos de discussão. Incluindo a dos que acabaram por ver vantagens políticas para o próprio governo de Madrid na disseminação mediática da suposta ‘gaffe’ (pelo que pode significar como momento efectivamente desactivador de uma forte reacção sindical e popular) ficando, pois, por se saber até que ponto estaria de facto oculta, para o primeiro-ministro espanhol, aquela câmara de televisão que captou a conversa de Rajoy com os seus dois interlocutores europeus, ou se, pelo contrário, essa câmara-aparentemente-oculta não estaria já a ser usada em nome de uma táctica de dissimulação do próprio discurso do poder político espanhol (2).
Mesmo assim, não deixou de ser colocado, igualmente, em debate, um jornalismo que se produz de uma posição de suposta ou assumida ocultação, tendo sido lançada a discussão sobre o compromisso tácito de não-uso que as situações ‘off-the-record’ significam. Reconhecendo os diferentes contornos, mas também os pontos de contacto das duas situações, é nesta questão da ocultação do jornalismo e dos processos pelos quais se produz a mensagem jornalística, que pretendemos deter-nos. Em resumo: a questão reside em saber quem controla o que aparece, ou seja, é do controlo do visível que estamos a tratar.
Qual é, então, o problema que um jornalismo tornado anónimo coloca ao visível? Que relações e equilíbrios são instabilizados pela ocultação premeditada ou inadvertida de uma presença jornalística (que o passa a ser, igualmente, no momento em que o jornalismo cauciona o anonimato das fontes de informação, ao tornar-se mero veículo da informação) que, por definição, prefigura e supõe o público, em espaços cujas regras procedimentais pretendem instalar o privado?
O problema é um verdadeiro universo de complexidades. Devemos assumir, por isso, e desde já, toda a incompletude da análise. Essa análise deve envolver, antes de mais, toda a discussão normativa, deontológica e ética do jornalismo (1), ou seja, o debate da parte que lhe cabe no contrato moderno de administração do espaço público, que é parte do contrato que funda a própria modernidade como sistema de mediações representacionais – ou seja, como sistema que se constrói e opera politicamente sobre as lógicas do visível (da representação, da transparência, da publicidade, da visibilidade). Colocamos, por isso, o nosso ponto de vista numa das múltiplas questões que derivam deste debate: o controlo dos processos de produção do visível.
Sob este ponto de vista não restarão dúvidas de que um jornalismo que se faça surgir da ocultação e da anonimização dos seus sujeitos humanos e técnicos de observação, registo e relato, é potencialmente subversivo ao equilíbrio do visível. Porque pode alterar a seu favor, e sem conferir aos sujeitos observados qualquer hipótese de devolução, essa noção de equilíbrio. O caso da câmara oculta é um dos mais evidentemente exemplares: resulta, na verdade, na produção de uma invisível presença de tipo divino, ou seja, de uma omnipresença omnividente que contém sempre os traços inapagáveis de um totalitarismo. Auto ou hetero-dissimulada, a lente da câmara de filmar passa a deter o poder do olhar de Deus: está em toda a parte. Vê tudo, observa tudo, regista tudo. Ganha, assim, uma omnipotência de captura do real que, como em tudo o que é da vigilância divina de homens sobre homens, não pode deixar de implicar a necessidade de um constante escrutínio. Daí toda a panóplia de problemas que coloca, a começar pela recorrente discussão da privacidade à qual se opõe, invariavelmente, o carácter público da operação jornalística, e a desaguar em todas as excrescências morais e éticas que lhes estão associadas. A própria justificação positiva para o uso de uma câmara oculta no processo jornalístico costuma estar, precisamente, ancorada na necessidade de uma moralidade pública que aí se sobrepõe a toda a moralidade privada que a coloca em questão.
Mas quando, há dias, Joaquim Fidalgo discutia aqui o problema das fontes anónimas, era igualmente desta problemática que essa reflexão se ocupava: na anonimização das fontes, joga-se também a transformação da informação em tudo o que aparece. Aí, contudo, o problema do controlo surge-nos, já não de um processo intrínseco à produção da informação, controlado por jornalistas, mas da aceitação e interiorização, pelo processo de produção jornalística do visível, da condição invisível do mensageiro. O jornalismo coloca-se, totalmente, nas mãos deste, aceitando a sua transformação em mero veículo de visibilização.
Tal como avisámos, a questão é extremamente complexa e controversa. Mas vale a pena ser colocada. Voltaremos a ela, muito provavelmente.
(1) A este propósito, aconselha-se a consulta da extensa argumentação e declarações de voto, constantes da deliberação 6-Q/2006 da ERC, a propósito de um caso de uso de câmara oculta na grande reportagem da RTP “Quando a Violência Vai à Escola”).
(2) Um dia depois da publicação original desta reflexão, dar-se-ia caso semelhante com uma conversa, registada pela TVI, entre os ministros português e alemão das Finanças, cuja divulgação o governo germânico viria a considerar “escandalosa” (act 10/02/2012).
Disto e daquilo – recursos disponíveis
“Nem tudo o que vem à rede é peixe”. Daí que a “curadoria da informação” se tenha vindo a tornar uma atividade com o seu lugar próprio e, quem sabe, no futuro, uma profissão ou quase-profissão. Um jornalista é, deve ser, em certo sentido isso mesmo, com o sentido apurado de prestação de um serviço público.
As dicas que se seguem foram selecionadas de entre muita da quinquilharia que vai passando pelos ecrãs; possam elas ser motivo de interesse, descoberta ou utilidade para um só leitor que seja deste blog e já mereciam aqui ser deixadas.
O resultado de um projeto que disponibiliza ao público, e em particular aos profissionais e às escolas, livre acesso a vídeos, imagens fixas, textos, áudio de operadores europeus e de arquivos audiovisuais, desde o início do século XX até aos nossos dias. Um precioso recurso para apoio a aulas de história dos media audiovisuais e de análise de géneros televisivos, por exemplo.
É uma revista nova sobre ecologia dos media e sobre as marcas (internacionais) do pensamento de McLuhan e daquilo que se convencionou chamar a ‘escola de Toronto’. Mas é bem mais do que uma revista, como rapidamente conclui quem acede ao site.
Este pode considerar-se um portal especializado de apoio aos investigadores sobre a obra e o impacto de Deleuze, sobretudo na relação com o cinema. Pretende ser igualmente uma base de dados em permanente atualização e um serviço a todos os que se interessam pelo autor, pelo cinema, televisão, jogos de computador e outras modalidades de novos media.
Publicado pelo ITU – International Telecommunications Union, compila os grandes indicadores estatísticos sobre o uso da Internet, assinaturas para a rede fixa e móvel, dados sobre a largura de banda no plano internacional, etc. Os interessados poderão aceder também a idêntico relatório de 2010 e 2009.