“Pluralismo e diversidade nos media em Portugal – a blogosfera política em rede”: tese de doutoramento de Elsa Costa e Silva

Estão marcadas para amanhã, 22 de março (14h30, Anfiteatro B2 do CP2, na Universidade do Minho, Campus de Gualtar), as provas de doutoramento em Ciências da Comunicação, especialidade de Sociologia da Comunicação e da Informação, da mestre Elsa Costa e Silva, investigadora do CECS. A tese, orientada pela professora Helena Sousa (UMinho), tem por título “Pluralismo e diversidade nos media em Portugal – a blogosfera política em rede”.
O júri é presidido pelo Reitor da UMinho, sendo composto ainda por Moisés Martins, Manuel Pinto, Helena Sousa e Luís António Santos (todos da UMinho e investigadores

39_doc_elsa_costa_silva do CECS), Paulo Serra (Universidade da Beira Interior) e Gustavo Cardoso (ISCTE).

A investigação realizada pela candidata analisa o papel dos blogues políticos na promoção da diversidade e do pluralismo, enquanto elementos constituintes da esfera pública. Sendo um novo espaço para a participação dos cidadãos na discussão política, os blogues têm sido perspetivados como uma plataforma onde podem emergir novas vozes e alternativas no âmbito do debate democrático. O objetivo é perceber de que forma os blogues políticos portugueses podem cumprir este potencial de revitalização da intervenção cívica e política.

(Mais informação: AQUI)

Um Dia com os Média

Convocar os cidadãos e a sociedade para refletir sobre os papel e o lugar dos media nas suas vidas é o objetivo da Operação Um dia com os Media, projeto que irá decorrer no próximo dia 3 de maio, dia mundial da liberdade de imprensa, com múltiplas iniciativas por todo o país.
Esta Operação surge num tempo em que as tecnologias e plataformas digitais permitem, como nunca, que os cidadãos se exprimam no espaço público, fazendo por isso sentido que o olhar crítico e participativo relativamente aos media seja, ele próprio, um exercício de liberdade.

Promovida pelo Grupo Informal sobre Literacia para os Media, esta operação congregará um vasto e variado conjunto de atividades concebidas e realizadas pelas mais diversas instituições, tais como bibliotecas, meios de comunicação, escolas, instituições do ensino superior, grupos de alunos, centros de investigação e formação, associações, universidades de seniores, movimentos, igrejas, autarquias e outras, glosarão o mote Um dia com os media: Que significado têm os media na nossa vida e como poderiam tornar-se mais relevantes?
São diversas as ações programadas, como sejam, programas de rádio e televisão, conferências, mostras, concertos, debates, projeção de filmes, concursos escolares, ações de formação, jogo lúdicos, ações de rua, entre outras.
A lista completa de ações pode ser consultada AQUI.

Toda a informação sobre a Operação pode ser encontrada AQUI.

Grupo Informal sobre Literacia para os Media

O Grupo Informal sobre Literacia para os Media é uma plataforma que reúne entidades públicas com missões no domínio da literacia para os media, sendo presentemente constituído por: Comissão Nacional da UNESCO, Conselho Nacional de Educação, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Gabinete para os Meios de Comunicação Social (GMCS) e Universidade do Minho – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.
Entre os muitos projetos desenvolvidos pelo Grupo, importa destacar o Portal da Literacia para os Media e o Congresso “Literacia, Media e Cidadania”, do qual resultou a “Declaração de Braga”.

“Explicar um blog não era fácil”

Depoimento de Elisabete Barbosa, Diretora de Comunicação e Projetos, uma das fundadoras do blog:

Criar e manter um blog há 10 anos atrás era uma tarefa bastante mais difícil do que é hoje. Não existiam os serviços atuais, não era possível utilizar imagens facilmente e os sistemas de comentários tinham que ser integrados no blog (pelo menos para os utilizadores do Blogger).
Mas também era mais interessante e divertido. Conhecia-se toda a blogosfera portuguesa e ainda era possível acompanhar facilmente o movimento nos EUA e no Brasil. Cada novo blog português era celebrado por toda a comunidade e as notícias sobre cada “nascimento” entusiasticamente divulgadas por outros bloggers.
Estejam ou não moribundos, os blogs foram percursores importantes do atual panorama das redes sociais. Foram os primeiros sistemas de auto-publicação, um grande passo para a democratização da Internet, o momento em que deixou de ser necessário conhecer linguagens de programação para poder publicar.
Para mim, no entanto, a principal diferença entre manter um blog hoje e há 10 anos não está na tecnologia ou no conhecimento do meio. Reside no facto de, atualmente, não ser necessário estar constantemente a explicar o que é um blog. É que não era fácil.
Parabéns ao Jornalismo e Comunicação e a toda a equipa.

«Era, então, Primavera» – notas sobre o 10º aniversário deste blog

Faz hoje dez anos que este blog começou a publicar-se, por iniciativa de um pequeno grupo que se formou na turma de  Jornalismo daquela que, se bem recordo, foi a primeira ou a segunda edição do mestrado desta especialidade na Universidade do Minho. Era, então, primavera. Em vários sentidos.

1.

Nascemos na peugada e sob a inspiração de um outro blogger que já tinha mais de um ano de avanço, o António Granado e o seu Ponto Media, um corredor de fundo, como se tem comprovado.

Mas nascemos numa envolvente ainda pouco habitada, se assim se pode dizer. Metemo-nos a sério. Basta dizer que a Elisabete Barbosa,uma das protagonistas e factor decisivo – pelas razões que mais adiante explicarei – viria a publicar, pouco depois, aquele que deverá ter sido o primeiro livro de estudo crítico sobre o fenómeno dos blogs e da blogosfera, precisamente em co-autoria com António Granado e com prefácio meu. E os dois, com mais duas alunas de licenciatura (uma delas hoje jornalista na SIC, a Sara Antunes Oliveira) organizamos na Universidade do Minho, em 18 e 19 de Setembro de 2003, o primeiro Encontro Nacional de Weblogs, com repercussão nacional através (como haveria de ser de outra forma?!) dos media clássicos, em particular a SIC e o Jornal de Notícias.

2.

Permitam-me uma nota pessoal, já que ela pode ter algum significado para avaliar como os tempos eram já, e continuam a ser, de mudança (de paradigmas?)

Eu leccionava, então, uma disciplina nova, intitulada Sociologia das Fontes Jornalísticas. Era nova em vários sentidos. Desde logo porque tinha nascido de um projeto de investigação coletivo daquele que viria a ser o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho. Mas, também, porque tinha subjacente a ideia de que nada compreenderíamos  do que é o jornalismo se não estudássemos as suas fontes e não rompêssemos com uma visão idílica e naïf da sua natureza e dinâmica. Depois da profissionalização e instituição das fontes – uma autêntica revolução para a qual nos vinha alertando o académico luso-brasileiro Manuel Carlos Chaparro – seria preciso atender ao novo quadro que a Internet estava a configurar e que, naqueles anos inaugurais do novo século, começava a balbuciar aquilo que viria a ser conhecido como a web 2.0.

Ora, nas aulas de Fontes, procurávamos estar atentos a isso. Lembro-me vagamente que tínhamos para ler e comentar uns textos do Journal of Computer-Mediated Communication (já então em acesso livre), e que,no quadro do debate que se gerou, a Elisabete chamou a atenção para o significado que poderia vir a ter para a relação entre jornalistas e fontes essa coisa nova que estava aí a nascer e que se chamada weblog. Veio à baila, como exemplo conhecido de alguns de nós o Ponto Media. Eu conhecia também uma forma parecida que há alguns anos o Pedro F.(onseca) vinha desenvolvendo e que viria a dar origem ao seu Contrafactos e argumentos. E, viríamos então a descobrir, a própria Elisabete tinha acabado de lançar o seu próprio blog – o Jornalismo Digital, que ainda hoje resiste. Depois de alguma conversa, a questão surgiu como natural: faz ou não sentido lançarmo-nos, enquanto turma, na criação de um blog próprio, a abrir eventualmente a outros docentes interessados? O assunto transitou para a aula seguinte e a decisão foi pela afirmativa, ainda que o grupo dos que se entusiasmaram com a ideia se tivesse reduzido drasticamente. Além da Elisabete, de mim, da Dora Mota (hoje jornalista no JN) e, creio que o João Carlos Gonçalves (que se interessava por jornalismo escolar), ninguém mais se dispôs a pôr de pé o projeto. Se bem recordo, foi a Elisabete que foi ao blogger.com e criou lá o ‘Jornalismo e Comunicação’, dando-nos, depois, uma sessão de formação. De resto, poucos meses a seguir, vendo as potencialidades dos blogs para o ensino e aprendizagem do jornalismo, criei o ‘Aula de Jornalismo’, tendo a Elisabete voltado a ser a ‘formadora de serviço’ dos docentes que quiseram aderir.

Não posso dizer que não conhecia nada dos blogs, naquela ocasião. Mas tenho de confessar que foi no quadro do debate havido na aula, induzido sobretudo pela Elisabete, que eu me apercebi dos horizontes, alcance e potencialidades do fenómeno. De modo que, em mais de uma ocasião, disse e assumo que este momento foi para mim o primeiro e talvez mais ilustrativo caso de que, em cada vez mais situações, o professor não será tanto aquele que ensina (para os alunos aprenderem), mas o que proporciona o ‘setting’ e as condições para que todos estudem e aprendam. E digo, também, que isto é bonito, mas é mais fácil de dizer do que de fazer (bem feito).

3.

Não estou em condições de analisar o percurso deste blog, o papel que teve, em vários momentos, no acompanhamento crítico da actualidade jornalística e mediática. Outros o poderão vir a fazer com mais distanciamento. O contexto foi-se alterando significativamente, sobretudo à medida que avançava a segunda metade da primeira década do século XXI. Por outro lado, terminou em 2006 um projeto de investigação, o Mediascópio que envolvia boa parte da equipa do J&C e que tinha como objetitvo e método rastrear os acontecimentos da atualidade jornalística e mediática e os seus bastidores como sinalizadores de tendências e de problemas. De forma indireta, isso impelia-nos a recolher, tratar e publicar. Entre 2009 e 2010, a equipa do blog teve de se virar, de alma e coração para a organização de uma conferência mundial de ciências da comunicação e a actualização deste espaço começou a rarear, até que parou. A vida académica alterou-se também muito, num sentido que não facilita esta vertente, o que é certamente deplorável. Ainda assim, quisemos pôr fim ao silêncio e voltar ao espaço público, tirando agora partido da articulação do blog com outras plataformas e com redes sociais como o Facebook e o Twitter.

Em todo o caso, as dificuldades de debater e fazer dos blogs espaços vivos e intervenientes são manifestas. E, no entanto, esse esforço é cada vez mais necessário, em particular no campo jornalístico e mediático, até porque os media profissionais o fazem cada vez menos. Há lugar para um tipo de discurso e de intervenção no espaço público que nem é o discurso erudito dos ensaios ou da investigação nem os quase monossílabos e oráculos dos tweets e posts facebookeanos. Custa pensar e custa escrever. Mas sem pensar e sem partilhar, não vamos lá.

PS – Recordar é …esquecer (também). E reconstruir. Por isso, e como se tratou de um projeto coletivo, são bem-vindas achegas, leituras, interpretações, correções.

Bloggers, marcas e consumo

Longe de serem um meio de massas, os blogues não deixam, contudo, de constituir um nicho interessante: nicho de presença dos cidadãos nos media, nicho de reflexão, nicho de discussão e até mesmo nicho de algumas notícias. Por isto tudo, serão também um nicho de mercado a não desprezar pelas indústrias. O relatório da Technorati de 2010 incluiu uma secção sobre a relação entre os bloggers e as marcas, reflectindo sobre a crescente importância que este meio desempenha na promoção e debate sobre os produtos do mercado. Também as empresas reconhecem o potencial da blogosfera na gestão das marcas, tendo havido casos, nomeadamente em Portugal, de conflito e acções judiciais envolvendo bloggers e empresas. Mas a tendência geral no relacionamento entre ambos não será tanto de confrontação, mas sim de cooperação. São já muitos os bloggers convidados por empresas a participar em conferências de imprensa ou eventos, desde desfiles de moda à apresentação de desodorizantes. O reconhecimento dos bloggers como interlocutores a ter em conta é obviamente importante na promoção de uma esfera pública dinâmica e reflexiva, que contempla o contributo de cidadãos e pessoas interessadas no debate. Contudo, será sobretudo relevante se for capaz produzir discussão sobre as estratégias publicitárias e comerciais, abertas à participação dos cidadãos, e um consumo informado e informativo.

Blogues políticos e mainstrean

O Luís Santos trouxe para esta plataforma a reflexão de Pacheco Pereira sobre o estado actual dos blogues políticos. Estas reflexões são partilhadas por muitos investigadores na área. Já em 2004, Drezner and Farrell, num texto intitulado “The power and politics of blogs“, previam:

“To the extent that blogs become more politically influential, we may expect them to become more directly integrated into ‘politics as usual,’ losing some of their flavor of novelty and immediacy in the process. The most recent evidence of co-optation was the decision by both major parties to credential some bloggers as journalists for their nominating conventions.”

Estas contribuições, ainda que não as devamos tomar por verdades científicas irrefutáveis, são essenciais para levantar questões sobre a natureza da blogosfera política. E o debate é, nesta questão, essencial para definir ângulos de análise. 

A quebra de interesse dos blogs políticos

Um dos mais famosos bloguistas nacionais, Pacheco Pereira, escreveu ontem um texto que me parece muito relevante sobre o que entende ser a quebra de interesse da blogosfera política nacional.
Diz Pacheco Pereira:
Há uma parte da chamada blogosfera nacional em que os blogues políticos tiveram e tem um papel central. Não é nada que não fosse previsível, dada a grande politização do espaço público, em que apenas o futebol, com outras características, ocupa um papel de relevo semelhante. Essa parte da blogosfera política está em profunda crise e explica por que os blogues políticos têm cada vez menos importância. Há várias razões para tal acontecer, e vou referir apenas três: a agenda dos blogues tornou-se a agenda comunicacional; os blogues tornaram-se espelhos miméticos dos partidos e fracções políticas, e os blogues são hoje uma “área de negócio”, quer em termos da gestão de carreiras individuais, principalmente no plano político, quer para agências de comunicação, marketing, etc., que actuam nesse meio para servirem os seus clientes. Tudo isso significa que os blogues políticos perderam independência, autonomia e transparência. São por isso menos interessantes, menos importantes e tem menos leitores.”

Mais relevante ainda parece ser algo que é dito quase ao fim do post:
Eu também tenho um blogue e deixo aos meus leitores o julgamento sobre em que medida se me aplicam as críticas que faço ao meio.

Se me parece correta a análise que aponta indicadores de cristalização dos blogs (e, nesse sentido, da sua adesão aos ritmos da nossa vida social) parece-me reconfortante a ideia de transparência e de abertura à discussão das fragilidades do próprio autor.
Esse é, aliás, um dos principais contributos que a blogosfera terá trazido ao nosso espaço comum de comunicação. Os blogs são espaços de deliberada fragilidade individual – os bons blogs; aqueles que, independentemente de concordarmos ou não com os seus autores, encaramos ainda como lugares com autonomia.

Liberdade também na blogosfera

A liberdade de expressão, defendida pela organização Jornalistas sem Fronteiras, não é apenas uma questão de imprensa. A libertação do blogger egípcio Maikel Nabil Sanad, preso desde Março de 2011, também é motivo de contentamento.

Sopa, Murdock e blackouts


E assim foi: a Wikipédia inglesa ameaçou e cumpriu um blackout em protesto contra a nova lei anti-pirataria que está em discussão nos Estados Unidos. Também a WordPress (que alberga este blogue) aderiu ao protesto colocando uma página de abertura alusiva aos problemas que esta legislação poderá representar.

Juntaram-se assim a centenas ou mesmo milhares de entidades (sites, pessoas, etc) que recusam o que consideram ser uma tentativa de limitar a liberdade de expressão na internet. Já há reacções e retrocessos com senadores norte-americanos a retirarem o seu apoio à proposta.

Uma dúvida a retirar: será desta que a sociedade civil (representada também por estes sites de índole colaborativo, centenas de bloggers e cidadãos que protestaram contra a lei) ganha uma luta contra os tycoons dos media?

“As notícias sobre a minha morte são um pouco exageradas”

Para quem vaticinou uma morte prematura aos blogues, o relatório da Technorati sobre o estado da blogosfera em 2011 deixa alguns dados curiosos. De acordo com o inquérito realizado, envolvendo mais de quatro mil bloggers, estes actualizaram mais frequentemente os seus blogues e passaram mais tempo a blogar.

Um sinal de dinamismo na plataforma que não resultará do entusiasmo de principiantes, já que a maior parte dos bloggers já o é há mais de dois anos. E também não podemos ver nesta realidade algum interesse material, já que 60% dos bloggers não tem qualquer retorno pecuniário pela sua interacção. Blogam pelo gozo de o fazer e têm por principal motivação partilhar conhecimentos e experiências com outros. No futuro, tencionam blogar mais frequentemente, alargar o leque de tópicos que abordam e, quem sabe, até mesmo publicar um livro.

E já agora, não, o Facebook e o Twitter não vieram substituir os blogues. Mais de 80% dos bloggers está também simultaneamente nessas duas redes sociais. Assim, parece que ainda não é desta que se matou a blogosfera.

Como íamos dizendo …

Há muito tempo – demasiado – que outros compromissos nos desviaram deste espaço.
E, no entanto, a realidade da informação, do jornalismo e dos media não parou. Felizmente que outros, como o Ponto Media, puderam continuar a publicar.
Outras vozes, como o Vai e Vem, surgiram, entretanto, e ganharam lugar de destaque na chamada de atenção e no comentário.
Enquanto isto, os media clássicos têm vindo a perder o pé, na atenção ao seu próprio campo, com a secundarização ou desaparecimento das secções e programas sobre media.
Até por isso, mas por muito mais do que isso, era importante voltarmos.
Diremos que a ecologia dos media, hoje, exige, cada vez mais, que se cuide dela.
A curadoria da informação e dos media aí está como um dos grandes desafios dos tempos que vivemos.
Rastreando o que se passa com:
os novos media;
as plataformas e redes sociais;
a proliferação de conteúdos e de formatos;
a procura de um lugar ao sol para o jornalismo online;
a digitalização da distribuição da TV;
a ética jornalística e da participação dos cidadãos;
a regulação e a auto-regulação;
a formação dos novos profissionais;
a análise da tecnologia e a crítica da razão tecnológica;
os poderes e estratégias dos actores e dos poderes;
a formação para uma literacia crítica sobre os media e uma educação para a comunicação
– eis alguns dos terrenos a que nos propomos prestar atenção.

Mediascópio é um conceito e uma ‘marca’: faremos deste espaço uma instância de atenção aos acontecimentos, situações e problemas, aos seus significados e contextos, procurando não esquecer (e convocar, sempre que possível) a investigação científica e os links com o contexto internacional.
E porque nos importa a conversa e o debate, gostaríamos de trabalhar de portas abertas a todos os que se interessam por estas coisas e partilham da convicção de que estas coisas são alicerces em que se funda e se refaz a vida pública.
Em tempos de grandes abalos e questionamentos sobre o modo como organizamos as nossas sociedades e configuramos os nossos modos de viver, importa não esquecer quer as realidades silenciadas quer os processos de silenciamento.
Mais do que um programa isto é a enunciação de preocupações que temos, enquanto académicos e enquanto concidadãos.

Blogs já não estão na moda

Para aqueles que gostam de cavalgar a crista da onda, e que ainda não tenham dado conta, os blogs não são mais aquilo que “está a dar”. A moda anda agora noutro lado: no Facebook e, sobretudo no Twitter. Começa a haver dados que dão substrato à impressão. Exemplo: The long tail of blogging is dying, de Charles Arthur, no Guardian. Mas é claro que nenhuma das três ferramentas pode ser reduzida à lógica da moda.

200 mil… com a “gata da hora”

De vez em quando costumo dar uma vista de olhos pelo contador de visitas do blogue. Não andamos aqui a (con)correr pela audiência (para isso também há técnicas e existe, na blogosfera, quem as use). Mas seria estultícia e arrogância não valorizar e apreciar os que nos visitam.

Em meados de Janeiro de 2007, mudámos do Blogger, onde residíamos desde Abril de 2002, para o WordPress. Desde então, contabilizam-se duzentos mil visitantes, número atingido ontem. Um agradecimento por isso a si, que por aqui passa, mais ou menos frequentemente.

Mas, já que falámos de nós, vale a pena falar de um fenómeno que se prende com as visitas. Em 6 de Junho do ano passado, publicámos um post da nossa amiga e colega de Lisboa, Marisa Torres Silva, intitulado “«Meia Hora» – um olhar”. O texto assinalava e analisava o lançamento do gratuito do grupo Cofina, apresentado como “diário de referência”. Pois não é que esse post adquiriu uma tal procura que não há dia em que não receba mais de uma dezena de visitas?! Só à sua conta foram, até agora, 9000, o que equivale a perto de 5% do total.

Como explicar esse mistério? Os comentários a esse post ajudam a encontrar a resposta. E os termos através dos quais alguns visitantes aqui vêm parar complementam a explicação. Há um tablóide brasileiro chamado “Meia Hora” que publica regularmente a rubrica “Gata da Hora”. Quando as candidatas a “gata da hora” vão ao Google à procura desse espaço, encontram o nosso «Meia Hora». E logo com “um olhar”! Até chegam a perguntar para onde ou para quem devem mandar a foto.

Quem disse que os blogs acabaram II?

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[Sugestão recolhida no Virtual Illusion]

Novas oportunidades…

Ao ler esta recente reflexão do Manuel Pinto sobre o eventual ocaso dos blogues, dei comigo a pensar se não teremos sobretudo em mente o que se passa na nossa área mais específica (a da Informação, da Comunicação, do Jornalismo), esquecendo o panorama em alguns outros sectores que podem ter descoberto a blogosfera há menos tempo mas que dão, hoje, mostras de um espantoso dinamismo.

E lembrei-me do que se passa entre os professores dos ensinos Básico e Secundário, por exemplo.

Um dos aspectos mais interessantes (e politicamente mais complexos…) das recentes movimentações de protesto dos professores, sobretudo a partir da primeira “mega-manifestação” de Março, tem a ver com os diversos planos em que os processos se vêm desenvolvendo. As estruturas sindicais são um dos parceiros mais fortes e mais mobilizadores, sem dúvida, mas muita coisa está a acontecer à margem delas – e isso é algo de muito novo! No último sábado, depois da manifestação gigantesca da semana anterior, mais uns milhares de professores (fossem 7 mil, 10 mil ou 20 mil, o certo é que foram milhares) voltaram a sair à rua – e desta vez, digamos assim, por exclusiva mobilização das “bases”. Foram estas mesmas “bases” que criticaram a Plataforma Sindical quando ela assinou o célebre “Memorando de Entendimento” com o Ministério da Educação, em fins do ano lectivo passado, e foram essas mesmas “bases” que, agora, de algum modo ‘obrigaram’ a Plataforma Sindical a ‘esquecer’ o acordo e a voltar à contestação sobre a avaliação.

Ora, tanto quanto tenho podido ver, os blogues estão a ser um dos elementos mais activos e mais decisivos na alimentação deste movimento contestatário, que se reparte, ele próprio, por vários ‘movimentos’ e ‘associações’  à margem das estruturas representativas tradicionais – e, desde logo, dos sindicatos. Blogues como o do MUP,  o da APEDE,  o PROFAVALIAÇÃO, o da Promova, o A Educação do Meu Umbigo, o A Sinistra Ministra, o outrÒÓlhar, o Educação S. A., , o O Estado da Educação, o O Cantinho da Educação, o Últimas Educativas, ou o Movimento Escola Pública,  para só citar alguns dos mais conhecidos (e, naturalmente, sem juízos de valor sobre a sua actividade ou a sua orientação), são exemplos de uma dinâmica da ‘sociedade civil’ e de uma capacidade de intervir no espaço público que não devemos menosprezar. Que, desde logo, não devemos ignorar. Não perceber o que se está a pensar no seio da comunidade profissional dos professores e continuar a reduzir tudo aos esquemas de análise do costume (os partidos políticos, os sindicatos, as ‘instrumentalizações’, etc….) é, julgo eu, passar ao lado do essencial – e passar ao lado das hipóteses de resolução efectiva dos conflitos existentes.

Em jeito de ironia, quase apetece dizer a José Sócrates que os professores deste país também estão a aproveitar intensamente as “novas oportunidades” advindas do universo digital, da Internet, da Web, da Sociedade da Informação, utilizando-as para difundir as suas razões de queixa, para criar e alimentar redes de contacto e de debate, para mobilizar os pares, para trocar argumentos, para manter acesa a chama da contestação. Como comentaria o outro: “It’s the Internet, stupid!”.