Revistar os “marcianos em braga”, revisitar jornais com 25 anos – que diferenças?

A exposição de recortes de imprensa patente no átrio do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho sobre o episódio da transmissão da “Guerra dos Mundos” e do pânico que então se gerou em Braga, há 25 anos, traz-nos sobretudo uma enorme mancha de texto. De facto, numa primeira comparação com os jornais de hoje, salta à vista a falta da componente fotográfica. Nem uma única fotografia sobre o caso em Braga e as suas consequências. Não temos nenhum registo visual da fuga, das filas de carros, das pessoas em pânico. Só palavras a apelar para a nossa imaginação. Fotos apenas as de arquivo de Orson Welles ou, mais tarde, já em contexto de reportagem, dos estúdios da Rádio Braga, de onde partiu a emissão. Imagens, apenas umas poucas ilustrações, desenhando uns marcianos e uma nave espacial a lembrar um avião. Hoje em dia, até vídeos amadores das pessoas em fuga seriam publicados em qualquer plataforma digital. Seria impensável este relato sem a respectiva componente visual. Talvez há 25 anos os jornais pecassem pela quase ausência de fotojornalismo. Mas, e agora, não estarão, por vezes, a pecar pelo excesso de apelo à imagem e ao visual?

Elsa Costa e SilvaImage

Sangria?

Os números são avançados pelo Le Monde e deixam um rasto de preocupação. A profissão de jornalista enfrenta tempos difíceis: 1500 postos de trabalho estão ameaçados em França.

Elsa Costa e Silva

Revisitar rádios piratas… revisitar a guerra do mundo

Era um domingo de manhã, chuvoso e enevoado. Muitas famílias estariam na missa, muitos homens nos campos de futebol em jogos amadores. Mas muitos outros bracarenses estavam a ouvir rádio, uma emissora pirata a emitir em Braga há três anos, que resolveu homenagear Orson Welles. Porque era dia 30 de outubro de 1988 e se completavam 50 anos sobre a celébre emissão da Guerra dos Mundos que aterrorizou meia América, a Rádio Braga pôs os marcianos a aterrar em Cabanelas. E, tal como 50 anos antes, muitas pessoas não perceberam o carácter ficional da emissão e entraram em pânico. Muitas iniciaram um processo de fuga tendo como destino a Galiza, criando filas nos postos de abastecimento. Outras pessoas esconderam-se e outras ainda começaram a ligar para a rádio para perceber a veracidade dos acontecimentos. A história foi contada nos jornais do dia seguinte e chegou mesmo aos quatro canto do mundo.
No dia em se comemoram 25 anos sobre esta emissão histórica da Rádio Braga, rádio pirata da capital minhota, o átrio do Instituto de Ciências de Sociais da Universidade do Minho revisita este episódio, promovendo uma exposição das notícias e reportagens que no país e pelo mundo fora anunciaram o pânico dos “marcianos em Braga”.

~CartazFinal30#31out
Elsa Costa e Silva

Público volta a ter Provedor dos Leitores

Depois de uma interrupção de quase dois anos, o Público vai ter de novo um Provedor dos Leitores. O jornal acaba de anunciar que a função vai ser assumida por José Paquete de Oliveira a partir dezembro.

A experiência do ‘ombudsman’ está presente na imprensa generalista portuguesa desde 1997. Nos média audiovisuais de serviço público existe desde 2006. Apesar de constituir uma figura muito relevante do ponto de vista da autorregulação dos jornalistas e profissionais dos média, a função do ‘ombudsman’ tem sido vista como uma atividade de eficácia duvidosa e de impacto modesto, uma atividade frágil por nela se refletirem várias adversidades: 1) a crise económica que afeta os meios de comunicação em geral; 2) o facto de os jornalistas, de um modo geral, não apreciarem ser questionados pelas suas práticas; 3) o fraco envolvimento dos próprios públicos que, ou desconhecem o papel do provedor ou se dispensam da atividade crítica; 4) a descrença numa atividade que se confunde ainda com uma estratégia de marketing. 

É neste quadro um sinal muito positivo o investimento feito agora pelo jornal Público no reatamento do cargo de Provedor dos Leitores. E uma escolha muito consistente a indicação de José Paquete de Oliveira para o lugar, não apenas pelo seu passado profissional como colaborador de vários órgãos da imprensa, mas também pelas suas preocupações académicas e pela experiência no cargo de Provedor do Telespetador que estreou em 2006.

 

Quem é responsável pelos comentários dos leitores?

A questão tem sido debatida, aqui e ali. Devem os jornais moderar os comentários dos leitores nas suas edições online? O Diário de Notícias, por exemplo, escusou-se e coloca apenas um aviso a leitores mais incautos sobre conteúdos eventualmente ofensivos. Mas esta é uma opção que poderá ter custos a prazo. O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considerou que os media digitais são responsáveis pelos comentários dos seus leitores, porque acima da liberdade de expressão está o direito à honra de um terceiro.
Falta agora saber as consequências desta decisão para o resto do mundo digital, nomeadamente blogues e páginas de facebook. Serão os responsáveis por espaços de conversação social também responsabilizáveis pelos comentários lá postados?