De onde vêm as notícias

Um estudo que qualquer investigador da área do jornalismo e dos media certamente gostaria de fazer: analisar o que se está a passar numa dada cidade importante, do ponto de vista da origem das notícias e dos canais através dos quais a actualidade informativa chega aos cidadãos e, em termos mais gerais, como está a funcionar o ecossistema noticioso, com as mudanças ocorridas nos últimos anos. Foi isso o que fez o Project for Excellence in Journalism, tomando a cidade de Baltimore, nos Estados Unidos da América, como caso de estudo e analisando-o durante uma semana.

A principal conclusão, embora porventura esperável: ainda é através dos media tradicionais, e em especial pelos bastante reduzidos jornais locais que o público fica a saber o que se passa.

Outras conclusões do estudo “How News Happens: A Study of the News Ecosystem of One American City“:

  • The network of news media in Baltimore has already expanded remarkably in recent years(…): 53 different news outlets that regularly produce some kind of local news content, a universe that ranges from blogs to talk radio to news sites created by former journalists.
  • Among the six major news threads studied in depth, fully 83% of stories were essentially repetitive, conveying no new information.
  • General interest newspapers like the Baltimore Sun produced half of these stories—48%—and another print medium, specialty newspapers focused on business and law, produced another 13%.
  • Local television stations and their websites accounted for about a third (28%) of the enterprise reporting on the major stories of the week; radio accounted for 7%, all from material posted on radio station websites. The remaining nine new media outlets accounted for just 4% of the enterprise reporting we encountered.
  • Traditional media made wide use of new platforms. (…) Almost half of the newspapers stories studied were online rather than in print.
  • There were two cases of new media breaking information about stories. One came from the police Twitter feed in Baltimore (…). Another was a story noticed by a local blog, that the mainstream press nearly missed entirely(…).
  • As the press scales back on original reporting and dissemination, relaying other people’s work becomes a bigger part of the news media system. In the detailed examination of six major storylines, 63% of the stories were initiated by government officials, led first of all by the police.
  • There is other evidence, however, that the output of the papers is diminished. (…)

6 thoughts on “De onde vêm as notícias

  1. Isso só prova que Bordieu tinha razão quanto ao círculo circular da informação. Pouquíssimos meios arriscam-se a desviar do agendamento, no qual as fontes oficiais desempenham um papel importante (para não dizer predominante).

  2. O problema é que é nessa “circulação circular” que o jornalismo se perde como reduto de reflexividade, isto é, deixa de se pensar e pesar cada informação que lhe surge no horizonte e de, nela, descobrir ângulos e vozes alternativos. Com isso, vai morrendo aos poucos às mãos da mera circulação comunicativa das informações. Sobre estas temáticas, a Bourdieu eu adicionaria o Perniola de “Contra a Comunicação” como leituras a fazer. 🙂

    • Na verdade, Luís, por mais “isento” que Bourdieu quisesse ser, ou por mais “seduzido” que esteja Perniola, os dois pensamentos, na verdade, convergem para uma interpretação feita já há muito tempo pela professora Cremilda Medina: “a notícia é (e deve contunar a ser) um produto à venda”.

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