«Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails, e contactos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro: fotografias deles e dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia das suas vidas, com amores antigos e actuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, “leves”, disponíveis, sensíveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão.»
Miguel Sousa Tavares
«No teu deserto» não é um livro sobre o qual se escreva à partida neste blogue. Porque é um «quase romance»? Talvez… Mas é um livro depois do qual há um certo silêncio que se apetece… sobretudo quando se chega de um deserto que não estamos habituados a habitar por não sermos capazes de dispensar as palavras. Dispenso-as agora, as palavras, por saber que os que entrarem (ou já entraram) nesse deserto não precisarão que se justifique este desvio nas linhas nada romanceadas de um ‘caderno de notas’, como é este blogue, cheio de etiquetas categoriais que não servem nem o silêncio nem a solidão.
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