O desejo de ouvir…

«I think there is a deep, natural, human desire to be accompanied by sound, whether music or voices. It stops us from feeling alone. Radio has intrinsic qualities that give it a good chance of surviving.»

David Hendy, citado num artigo do The Guardian, no dia 3 de fevereiro.

Informação e ‘marketing’

“(…) A peça sobre a nova grelha d[o Jornal das 8 d]a TVI 24, apresentada domingo à noite na TVI, era tudo menos jornalismo. Era marketing, com direito a musiquinha e tudo e as frases panfletárias que todos os jornalistas receberam no dossier de imprensa que a estação enviou para as redações. E era tão fácil (e legítimo) ter feito bem…”

Nuno Azinheira, Informação  e ‘marketing‘, DN, 10.1.2012

Os media e a sua irrelevância

«A verdade é que a maioria dos media se encontra ou acantonada num confortável conformismo ou numa quase paralisia imposta por uma draconiana redução de despesas, que impede qualquer actividade de investigação. Só que, sem essa investigação, sem essa função irreverente de watchdog, os media apenas repetem as versões que interessam aos poderes. Sobrevivem, mas isso não é vida. A crise que os media estão a atravessar não é alheia a esta situação. Os media parecem empenhados em provar a sua irrelevância, sem perceberem que é esse o caminho que os está a levar à cova.»

José Vítor Malheiros, PÚBLICO, 26.10.2010 “Memórias de uma imprensa bem-comportada”

A quem clama por liberdade

Partilho inteiramente o que escreve o Prof. José Manuel Paquete de Oliveira, no Jornal de Notícias, sob o título “O procedimento e o conteúdo”:

“Um outro problema político e grave é o que vem sendo conhecido pelo conteúdo dos documentos julgados em segredo de justiça. O seu conhecimento público não esconde o aludido ou alegado plano do actual Governo para controlar órgãos de Comunicação Social ou calar jornalistas. A pressuposta acção atentatória contra a liberdade de expressão é em si mesmo um caso. Não dá direito a alguém dizer que no actual Portugal não há liberdade de expressão. O facto de alguns poderem declará-lo e, porventura, virem a prová-lo, é a verificação da existência dessa liberdade. Sou a favor do esclarecimento total possível das eventuais acções para cercear esse direito. Para invocar esse meu direito basta o que vivi quando, neste país, não havia liberdade de expressão. (…)”

Texto integral: AQUI

Quando abuso do poder se casa com mercenarização da informação

Sob o título “No coração da democracia“, escreve no DN de hoje Manuel Maria Carrilho:

” (…) é cada vez mais importante garantir a independência do poder político face ao poder económico. Nesta independência joga-se não só (como a crise que vivemos tem mostrado) a sua capacidade para fazer face aos problemas do mundo de hoje mas também a sua credibilidade.
Mas o pluralismo, ao contrário do que se diz tantas vezes, não é só ameaçado pelo abuso de poder. Ele é também atingido pela cada vez mais frequente mercantilização da informação, a que tantas agências de comunicação se dedicam, envenenando o espaço público com a disseminação de factos inventados, notícias encomendadas e outras distorções, sobrepondo os interesses particulares ao interesse geral.
É por isso bom lembrar a ideia de Stuart Mill, para quem a democracia é sempre um combate contra os “interesses sinistros” que desprezam o bem público. Também neste ponto se vai reconhecendo, nomeadamente na União Europeia, que tem havido graves falhas de regulamentação, nomeadamente quando a actividade dessas agências incide sobre bens públicos, como indiscutivelmente é o caso da informação.
Mas um perigo ainda maior espreita as democracias de hoje: ele surge da convergência das tendências atrás referidas, isto é, quando o abuso de poder se casa com a mercenarização da informação, dando forma a um instrumento de condicionamento dos cidadãos, que reduz a vida democrática a uma pura fachada de actos formais. (…)”

Texto completo: AQUI.

Política/Informação/Entretenimento

«… todos os principais candidatos às legislativas e autárquicas desfilam, obedientes, tementes e esforçando-se para mostrarem sentido de humor, em entrevistas a um programa de entretenimento, cujos relatos têm depois ampla cobertura jornalística. Claro que não está em causa o valor dos Gato Fedorento, mas apenas o princípio: se a informação está agora a cargo dos humoristas, qual será o papel dos jornalistas no futuro breve – contar anedotas? Depois da política-espectáculo, eis que demos o passo seguinte: o espectáculo-política. E todos acham normal.»

Miguel Sousa Tavares, in EXPRESSO, 03/10/2009

No deserto de alguém…

ol-desertomst«Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails, e contactos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro: fotografias deles e dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia das suas vidas, com amores antigos e actuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, “leves”, disponíveis, sensíveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão.»

Miguel Sousa Tavares

«No teu deserto» não é um livro sobre o qual se escreva à partida neste blogue. Porque é um «quase romance»? Talvez… Mas é um livro depois do qual há um certo silêncio que se apetece… sobretudo quando se chega de um deserto que não estamos habituados a habitar por não sermos capazes de dispensar as palavras. Dispenso-as agora, as palavras, por saber que os que entrarem (ou já entraram) nesse deserto não precisarão que se justifique este desvio nas linhas nada romanceadas de um ‘caderno de notas’, como é este blogue, cheio de etiquetas categoriais que não servem nem o silêncio nem a solidão.

“Ponto Contra Ponto”

Eduardo Cintra Torres, no Publico, sobre o programa de Pacheco Pereira “Ponto Contra Ponto” (SIC-N):

” (…) O tratamento dado às notícias criticadas (algumas positivamente) é semelhante ao que JPP já faz na imprensa ou no Abrupto. Nesse sentido, alarga o público do seu trabalho habitual de metajornalismo. JPP tem razão em quase todas as suas críticas, que contribuem para a literacia metajornalística dos espectadores. Mas as qualidades de JPP – incansável trabalhador solitário, culto, perspicaz e corajoso – podem originar problemas ao programa. De facto, um programa de TV não é uma coluna de imprensa. A linguagem é audiovisual. Os seus dispositivos técnico e comunicacional implicam profissionais de várias artes.(…)”

A atracção pelo irrelevante

“O que é irrelevante exerce, como se sabe, um enormíssimo poder de atracção. Resistir-lhe parece ser uma tarefa impossível. É por isso que os media concedem, frequentemente, um tão abundante destaque a banalidades de todo o género. Um dia, as imagens que se difundem por todo o mundo são, por exemplo, as do Presidente dos Estados Unidos da América a matar uma mosca. Num outro dia, em todo o lado, há fotografias e vídeos de Cristiano Ronaldo com Paris Hilton. Alguns dias depois, a atenção nacional e internacional pode ser requisitada por dois dedos indicadores sobre a cabeça de um ministro do governo português. Os pequenos episódios insignificantes tendem a apropriar-se do espaço mediático, suplantando o que é dedicado ao que, de facto, é essencial. (…)”

Eduardo Jorge Madureira in Diário do Minho, 5.7.2009

“Interesse jornalístico”

“O melhor trabalho jornalístico português que vi nos últimos tempos, em todas as categorias, foi o do fotógrafo chinês Zhang Xiao Dong. Aconteceu ontem, no Expresso. A reportagem escrita esteve cargo de um bom repórter, Rui Gustavo, que foi à China encontrar o primo de Sócrates. O primo nada disse com interesse, porque o que teria interesse seria ele a comprometer o primo.
O que interessa – vou dar um exemplo para os leitores distraídos perceberem o que é hoje interesse jornalístico – seria Sócrates dizer no meio de uma viagem de Estado: “Vim à Capadócia porque era há muito um sonho da minha namorada vir à Capadócia.” Como Sócrates não disse isso, esta frase não abriu telejornais. Talvez alguém tenha dito uma parecida, mas também não abriu telejornais, pois não? Sorte de quem tenha dito essa frase similar e possa – e ainda bem que pode – dizê-la sem escândalo (…) “.

Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 17.5.2009

Jornalismo sem jornais?

“(…) Es difícil, aunque no imposible, imaginar un periodismo sin periódicos. Los periódicos son la referencia histórica del periodismo y su cultura profesional, por ser el más antiguo de los medios y el único específico, creados expresamente para la función de informar y crear opinión, ligados en su evolución al progreso de la libertad y de la democracia, víctimas primeras y genuinas de cualquier regresión política. De los periódicos han tomado la radio, la televisión e Internet principios, valores y géneros informativos, así como el nombre mismo de la actividad -periodismo- y las tareas que ejercen sus redactores o periodistas.
No es tan difícil, en cambio, imaginar periódicos sin el periodismo bien entendido al que nos referimos. (…)”

Jaume Guillamet, Defendiendo la verdad y la razón, in El País, 23.2.2008

“Antídotos contra o ódio e o terror”

chaplin“Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror. Os bons filmes constituem uma linguagem internacional, respondem às necessidades que os homens têm de alegria, de piedade e de compreensão. São um meio de dissipar a onda de angústia e de medo que invade o mundo de hoje…
Se pudéssemos pelo menos trocar entre as nações, em grande quantidade, os filmes que não constituem uma propaganda agressiva, mas que falam a linguagem simples dos homens e das mulheres simples … isso poderia contribuir para salvar o mundo do desastre”.

Charles Chaplin
(Epígrafe de um dos muitos trabalhos de alunos, em que tenho ocupado estes dias e noites)

Todas essas ‘não-notícias’

“Só ontem, foi anunciado, por várias empresas multinacionais, um conjunto de despedimentos que equivalerá à perda de 70 mil postos de trabalho. (…) A segunda-feira negra do emprego, como ontem já se lhe chamava apenas revela uma pequeníssima parte do que está a acontecer. É menos do que a ponta emersa do iceberg, pois deverá representar bem menos de um décimo dos empregos que estão a desaparecer um pouco por todo o mundo. O que os distingue é que são notícia – as grandes empresas são sempre notícia. Mas quem dá notícia do empregado que deixamos de ver no café que frequentamos? Ou na loja da esquina? Ou quem repara que agora há um taipal onde antes estava uma montra? (…) Contudo, todas essas ‘não-notícias’, esses micro-eventos que. mesmo quando ocorrem ao nosso lado, podemos não dar por eles podem ser, ou são mesmo, socialmente muito mais desestabilizadores que qualquer dos lay-off listados pelo Wall Street Journal“.

José Manuel Fernandes, Público, 27.1.2009

O que corre bem…

“A imprensa portuguesa não costuma dar muita importância a estas coisas, e mais uma vez não deu, mas o piloto que protagonizou o “milagre” do rio Hudson foi recebido como herói na sua terra natal, Danville, Califórnia. (…) A imagem do aparelho pousado suavemente nas águas com dezenas de pessoas sobre as asas, à espera de serem retiradas por mar, esteve nas primeiras páginas dos jornais. Com incredulidade: estariam mesmo a salvo? Nenhum ferido grave? Nenhum morto? Felizmente, e ao contrário do que é hábito, sim. Isso valeu notícias concisas mas comedidas. Se Chesley tivesse errado, se lhe faltasse o sangue-frio ou se duvidasse do método que aprendera, teríamos muito mais páginas. A contar os mortos, a questionar os porquês do acidente, a clamar por maior segurança. Esta constatação não é, sequer, condenatória da imprensa. O que se procura, na maior parte dos casos, é explicar o que corre mal para evitar novos acidentes ou erros. O que corre bem, porque é suposto que corra, não faz história”.

Nuno Pacheco, in Público, 27.1.2009

Quem é julgado no processo Casa Pia?

“A crer nas alegações dos arguidos, que a comunicação social tem abundantemente referido, quem está a ser julgado no processo Casa Pia é o Ministério Público, a Magistratura Judicial (que os pronunciou), a Polícia Judiciária, o Instituto de Medicina Legal, os peritos médicos que observaram as crianças, as próprias crianças, as testemunhas, a comunicação social, a opinião pública e o Mundo em geral; e as vítimas são os arguidos. (…)”.

Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 15.1.2009