Mário Crespo e o JN

No caso desencadeado pelo artigo de Mário Crespo, há duas partes distintas: o que se passou no restaurante, que, a avaliar pelo que diz aquela que é aparentemente uma fonte-chave, não se terá passado exactamente como Mário Crespo conta (este que escreve a partir do que lhe terá sido dito por terceiros); e aquilo que se passou entre o Jornal de Notícias (JN) e aquele seu (ex-)colunista.
Quanto ao que se passou no restaurante, envolvendo o primeiro-ministro e dois dos seus ministros, admiro os que já fizeram as análises todas, mesmo que os factos aparentemente ainda não estejam bem apurados -é suposto que seja para isso que existem jornalistas.
Quanto ao que teve a ver com o comportamento da Direcção do JN – de novo a avaliar pelos factos publicados- partilho, no essencial dos princípios que terão presidido à posição da referida Direcção. Pode haver, e há, certamente, visões diferentes sobre o mesmo assunto, mas a do Jornal parece-me ser perfeitamente sustentável e sustentada.
De resto, posso acrescentar que, durante os dois anos em que fui provedor do leitor daquele jornal, escrevendo dominicalmente uma coluna nem sempre doce (de resto, frequentemente azeda) para práticas de jornalismo do JN, nunca tive o mínimo sinal de pressão neste ou naquele sentido, da parte de José Leite Pereira, com quem lidava praticamente todas as semanas.

7 thoughts on “Mário Crespo e o JN

  1. Concordo. Houve bom senso por parte da direcção do JN e todo o alarido subsequente à decisão expressa – e bem sustentada por Leite Pereira no jornal – é um alarido em vácuo, um pseudo-evento. Fiquei triste, sempre tive o Mário Crespo como referência, esta atitude era perfeitamente escusada de um profissional do seu gabarito. E ainda não consegui entender os fundamentos que levaram a ERC a abrir um processo, mas aguardo com expectativa o seu desenlace.

  2. Quanto à polémica é mais uma… o que ainda não consegui entender foi de onde veio toda esta recente reverência da classe intelectual ao jornalista Mário Crespo…

  3. É ainda tudo tão estranho neste episódio que, de facto, subscrevo, não sem um reforço de ironia, essa surpresa por todas as análises já escritas e ditas sobre o caso. Continuo com a sensação de que o que ficou por contar será, ainda, muito mais do que o que foi contado. Há aqui um não-dito imenso que não favorece, para já, a leitura da forma como Mário Crespo geriu a divulgação e subsequente sobreexposição pública do caso. Valerá a pena aguardar pelo surgimento desse não-dito ou será que aquilo que parece invisível já nos é suficiente para vermos tudo?

  4. Pessoalmente, não vejo qualquer vantagem no facto de um Director se pronunciar sobre os textos de opinião publicados no seu jornal, antes pelo contrario, ainda que o texto em causa pareça “quase uma notícia”.
    Apesar de a Lei de Imprensa não ser totalmente clara a este respeito, da leitura do art. 31ª parece poder concluir-se que, em caso de violação da lei, somente o autor de um texto de opinião, se claramente identificado, poderá ser responsabilizado.
    Assim sendo, parece-me que seria melhor, para própria protecção das Direcções, deixar aos tribunais a tarefa de se pronunciar sobre os textos de opinião, convicção reforçada pelo actual clima de suspeição relativamente à ingerência do poder político nos meios de comunicação.

  5. Quero lembrar o que disse Eduardo Cintra Torres: “Mário Crespo andou um tempão a servir a agenda do governo no seu programa ‘Jornal das 9’. A cadeira dos convidados parecia a cadeira do poder, de tanto que nela se sentaram os ministros Silva Pereira e Santos Silva. No auge desta opção editorial, o jornalista afirmou em entrevista ao ‘Semanário Económico’ (15.01.09) que nas próximas eleições ‘provavelmente’ votará (ou votaria) Sócrates; e noutra entrevista, ao CM (12.01.09), disse que ‘provavelmente’ irá (ou iria) em breve para Washington por grandes temporadas (por coincidência, foi anunciado esta semana pelo Diário da República que o próximo conselheiro de imprensa em Washington será Carneiro Jacinto, ligado ao PS). Entretanto, a linha editorial de Crespo mudou, e de que maneira, quer no seu programa, quer nos artigos de opinião (…).”

    Além disto — desta obsessão do Crespo por Washington — Temos hoje as declaraçõesa de Arons de Carvalho na Assembleia da República, que confirmam tal obsessão…

    Se o promovem agora a virgem impoluta, é coisa de conveniência de momento.
    Abdul Cadre

  6. Não sei se o Crespo é ou não um bom jornalista. Do meu ponto de vista, bom entrevistador não será. Quem não viu na SIC o espectáculo de os convidados não perceberem o que ele pergunta e ele não entender as respostas?

    Sobre a crónica não publicada, não me parece que se possa exigir dum director de jornal que o órgão que dirige seja usado para defesas pessoais que nada têm a ver com o serviço ao jornal, mais ainda quando envolve deselegância. Porque não se defendeu na SIC, preferindo entalar o seu ex-amigo director do JN?
    Abdul Cadre

  7. O ÓDIO CEGA

    Não é segredo para ninguém, muito menos para o visado, que as bases do PSD sempre detestaram o Dr. Pacheco Pereira, apenas o suportando em favor da sua penduração mediática. Ontem mais do que hoje, é certo, e amanhã redobradamente, penso eu, como consequência das vicissitudes das suas goradas estratégias de condução dos destinos do seu partido e do país.

    Todavia – e ressalve-se que nunca votei PSD – vem de um tempo longo a minha atenção aos escritos de PP, tendo-me habituado a ter apreço pelas suas opiniões, mesmo quando a minha opinião era diametralmente oposta.

    Acontece que, paulatinamente, o descambar da prosa pereirista para a mais estrita estratégia partidária, diminuída ainda por cima pelos maiores desconchavos que só o seu ódio de estimação a Sócrates explicam, mas a razão deplora, tornam quanto vem debitando irrelevante e insalubre.

    Assim, talvez fosse aconselhável, como mero exercício catártico, o Dr Pacheco imaginar o que diria de Ferreira Leite se ela fosse a líder do PS e o que mais diria estando ela no lugar em que está o Sócrates. Depois deste exercício, poderia reflectir no paradoxo de ter escolhido Rangel para seu pião de revanche, quando os traços comportamentais deste o fazem alma gémea daquele que mais odeia: Sócrates.

    A facada de Rangel em Aguiar Branco não será parecida com a de Sócrates em Alegre, nas últimas presidenciais?

    Não são Sócrates e Rangel useiros e vezeiros em verdades de geometria variável?

    Que pena, perder-se um bom analista e nem sequer se ganhar um sofrível conspirador.

    Não há dúvida de que o ódio cega.

    ABDUL CADRE

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