Silêncios e ruídos de Agosto

E se, nos meses de Agosto, se reduzisse as redacções a um piquete para emergências ? Uma espécie de serviços mínimos, com edições no ar ou no papel só se houvesse justificação especial? Os jornalistas podiam ir de férias. Poupava-se energias, descansavam as mentes.

Brincadeira? Sim, até certo ponto. É verdade que, pelo menos nos últimos vinte anos, volta e meia há uma guerra ou algum conflito para animar Agosto. Se não é na Rússia é no Líbano ou na Geórgia. Ou é o ‘combate’ aos incêndios. Mas, fora isso, que, mesmo assim, é puxado e ampliado até à exaustão (sem necessariamente a informação crescer em igual medida), era uma óptima ocasião ao menos para reduzir o gasto do papel e fazer telejornais de meia hora.

Este Agosto trouxe-nos um tema interessante: o silêncio. A líder da oposição entendeu que nos devia deixar sossegados e logo se levantou, dentro e fora do partido, um ruído enorme por causa do silêncio dela. Mas quando, em nome dela, alguém falou, foi para, por sua vez, verberar o silêncio do primeiro-ministro.

Ao mesmo tempo, nos Jogos Olímpicos de Pequim, falava (nos media) o silêncio das medalhas. E para lhe responder, vinha o ruído das declarações dos atletas, cada qual a mais ruidosa ou motivadora do mediático ruído.

É assim que, nos media, até o silêncio é ruído. E – paradoxal – continua a faltar o verdadeiro silêncio, aquele que deixa ouvir o que a vida, a natureza, os acontecimentos têm para nos dizer.

5 thoughts on “Silêncios e ruídos de Agosto

  1. Acho que não podia estar mais de acordo.

    Infelizmente, a facilidade com que hoje em dia cada pessoa é, potencialmente, um “repórter”, armado de blogs e flickrs e afins, só vem contribuir para a cacofonia generalizada.

  2. A ideia de quatro, em vez de uma só semana de férias, deixaria muitas redacções de sorriso nos lábios. Mas há que escrever jornais para o resto do país ler na praia… ou “encher” jornais, noutros casos!

  3. Agosto significa também o momento ideal de fecho definitivo de redacções. Assim aconteceu com O Comércio do Porto há 3 anos, assim aconteceu nem há um mês com a redacção de O Primeiro de Janeiro… Consta que o jornal está nas bancas, mas a verdade é que a redacção foi despedida por extinção dos postos de trabalho. Incongruências?!?

    Férias = despedimentos tanto nas fábricas como nos media!

  4. O caso do despedimento compulsivo dos jornalistas de O Primeiro de Janeiro (que ia ser de silêncio do jornal durante um mês e, afinal, não foi) é um típico caso de silenciamento. Jornalistas despedidos são, até certo ponto, jornalistas sem voz.
    Já agora, e sem querer fazer juízos sobre nenhum caso individual, que voz será a daqueles que aceitaram continuar a fazer o jornal?

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