José Sócrates deverá aproveitar a oportunidade que lhe dá amanhã a RTP para se pronunciar sobre o ‘caso’ da errada apresentação pública das suas habilitações académicas.
Independentemente das questões de essência em termos políticos – porque tinha o CV do primeiro-ministro na página oficial do Governo tantas imprecisões? porque não foram elas corrigidas de uma só vez? porque foi necessário envolver na resposta dois ministros sendo que um deles (Mariano Gago) o fez – na forma e no lugar – de jeito tal que abre a porta a ainda mais elaboradas interpretações sobre a ligação entre este assunto e o encerramento da Universidade Independente? – há também questões de essência em termos jornalísticos que importaria assinalar:
– o que diz do nosso jornalismo político o facto de que foram precisos mais de dois anos para dar início a uma investigação com base em pistas com óbvio interesse público?
– o que diz do nosso jornalismo o facto de que, uma vez desenvolvida essa investigação, em nenhum dos trabalhos inicialmente publicados – quer no Público quer no Expresso – surge uma referência clara ao blog que lhe deu origem?
– o que diz do debate sobre o relacionamento entre fontes institucionais e jornalistas a surpresa com que foram recebidas afirmações em torno de ‘telefonemas frequentes’ e ‘conversas personalizadas’?
O ‘caso’ das habilitações académicas de José Sócrates – mesmo descontando o que o próprio sobre isso dirá amanhã e o que, naturalmente, depois se seguirá – ajuda a confirmar, desde logo, uma imagem de um jornalismo nacional que vive em esforço e que, consumindo parte substancial desse esforço no acompanhamento da agenda institucional, se vê envolvido numa potencialmente desequilibrada relação com as fontes.
Fotos: site da UnI e Edição 1701 do Jornal Expresso
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