A Direcção Editorial do Público decidiu censurar publicamente o comportamento de uma sua jornalista, por esta ter transcrito e utilizado informação de diversas fontes sem ter dado do facto informação aos leitores.
O caso foi suscitado pelo provedor do leitor, Rui Araújo, e teve já diversos desenvolvimentos que foram sendo disponibilizados pelo jornal e comentados por diversos leitores, num salutar exercício de auto-regulação, concretizado perante o olhar do público do jornal.
A posição da Direcção parece justa e equilibrada. A Direcção considerou que, “perante a insuficiente clarificação de algumas das regras que foram agora quebradas e perante a existência, que admite, de práticas erradas do mesmo tipo – ainda que de menor gravidade –, seria injusto fazer deste ‘um caso exemplar’, por muito rentável que isso pudesse ser em termos de exposição mediática”
“Um jornalista – nota o comunicado a propósito do caso hoje divulgado – tem de ser capaz de identificar todas as fontes usadas num artigo, nomeadamente as fontes escritas, incluindo aquelas a que acedeu online, devendo guardar as notas usadas para a escrita dos seus textos”. Este é, de resto, um dos pontos em que poderá haver, a breve prazo, redefinição e acrescento no Livro de Estilo do jornal. Outro ponto refere-se “ao uso abusivo da Wikipedia como fonte”, que a Direcção do Público considera “uma prática pouco recomendável difundida entre muitos jornalistas”.
Na parte final do extenso comunicado, alude-se aos constrangimentos e condicionalismos em que hoje se faz jornalismo, recusando que eles possam ser invocados como pretexto para descuidar a qualidade das notícias. Fá-lo nestes termos:
“A Direcção faz notar que o acréscimo de concorrência, nem sempre leal, e o difícil contexto financeiro que afecta a imprensa mundial e portuguesa e que também se faz sentir no Público, que se traduzem numa exigência crescente de produtividade e redução de custos e no encurtamento do tempo disponível para pesquisar, escrever e editar cada texto, não podem de forma alguma servir de justificação para um afrouxamento das regras de boa prática jornalística”.
A doutrina apresentada neste excerto não está isenta de algum cinismo. A “exigência crescente de produtividade e redução de custos” e o “encurtamento do tempo disponível para pesquisar, escrever e editar cada texto” são objectivamente ameaças ao jornalismo e podem sobrepor-se à vontade (e ao dever) do profissional de não afrouxar as “regras de boa prática jornalística”.